São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

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ENSAIO

SEAN B. CARROLL

Para alguns peixes, compensa ser esperto

Fazia muito tempo que eu desconfiava que os peixes são mais inteligentes do que as pessoas imaginam. Quando eu era criança, tinha um aquário com peixes dourados. Eles sabiam que era hora de comer quando minha mão aparecia sobre o aquário.
Um aquário de 35 litros certamente não é o hábitat mais estimulante. Mas, no mundo diversificado e perigoso dos recifes de coral, peixes devem ser capazes de reconhecer não apenas a comida, como também discriminar amigos de inimigos e parceiros de adversários. Nesse ambiente complexo e dinâmico, é bom ter a capacidade de aprender.
Estudos recentes revelaram que os peixes dos corais são surpreendentemente adaptáveis. Peixes silvestres recém-apanhados aprendem rapidamente novas tarefas e podem discriminar cores, desenhos e formas. Esses estudos sugerem que aprender a interpretar novos estímulos tem um papel importante na vida dos peixes dos recifes.
Para testar a capacidade dos peixes de diferenciar formas, uma equipe de pesquisadores liderada por Ulrike E. Siebeck, da Universidade de Queensland, em Brisbane, Austrália, treinou peixes tropicais maria-mole (pomacentrídeos) a alimentar-se de um tubo ao qual eram acrescentados estímulos visuais, como um disco de borracha tridimensional, um disco azul bidimensional e círculos pretos ou padrões de hélice pintados em chapas brancas.
Os peixes eram recompensados com alimento quando tocavam repetidamente a forma do estímulo -e não o tubo- com seu nariz ou sua boca. Eles rapidamente aprenderam a tarefa.
Mesmo após uma distração programada, os peixes tocaram a forma correta cerca de 70% das vezes na primeira tentativa; isso melhorou para 80% e 90% em testes subseqüentes.
Em outra série de experimentos, Siebeck treinou peixes maria-mole com diferentes estímulos coloridos. Ela escolheu azul e amarelo porque são cores contrastantes, encontradas em muitos peixes de recifes.
Depois que os peixes rapidamente aprenderam a tocar várias vezes alvos coloridos para ganhar uma recompensa alimentar, eles foram apresentados com uma opção entre o alvo do treinamento e um alvo de outra cor. Os peixes foram ainda melhores em discriminar cores, tocando o alvo correto mais de 90% das vezes.
Talvez seja menos surpreendente que os peixes tenham aprendido a discriminar cores. Afinal, eles vivem em um ambiente colorido. Mas a questão de por que os peixes dos recifes são geralmente tão coloridos intriga os biólogos há muito tempo.
Acontece que alguns peixes de cores fortes ganham a vida fornecendo um serviço valioso para os que poderiam ser seus predadores: eles os limpam de parasitas.
Alexandra Grutter, da Universidade de Queensland, descobriu que um peixe tropical labrídeo inspecionava até 2.300 peixes "clientes" e consumia até 1.200 parasitas por dia.
Mas como os clientes encontram e conhecem os limpadores? Parece que certas cores do corpo, especialmente azul e amarelo, indicam um comportamento de limpeza. Diante de sua atenção às cores e formas, nos perguntamos o quanto os peixes podem aprender.


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