São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Médica com câncer enfrenta escolha difícil em seu tratamento

Por GINA KOLATA

A médica Linda Griffith estava em uma conferência em Cingapura no início de janeiro quando sentiu um caroço no seio. Fez uma mamografia, um ultrassom e uma biópsia horas após desembarcar do avião na volta para casa. A notícia não foi boa: ela tinha câncer.
Logo começaram as complicações. Griffith, diretora do Centro de Pesquisa Ginepatológica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, fez um teste para ver se seu tumor tinha cópias excessivas de uma proteína, a HER2. Se tivesse, reagiria a uma droga, Herceptin, que bloqueia a proteína e desestimula o crescimento do tumor.
Drogas do tipo são o futuro das terapias anticâncer, segundo muitos oncologistas. Quase toda nova droga em estudo é criada para desabilitar as proteínas que alimentam o câncer. Mas essas chamadas terapias dirigidas são tão boas quanto os testes para descobrir suas proteínas-alvos. E esses testes podem ser surpreendentemente inconfiáveis.
O teste do tumor de Griffith deu negativo. Era mesmo? Uma pequena área de seu tumor continuou marrom, indicando muita proteína HER2. O restante tinha uma cor creme, indicando que não havia excesso de HER2.
Mas seu tratamento dependia desse resultado. Um tumor HER2-positivo tem um mau prognóstico. A Herceptin pode tornar esse prognóstico bom, reduzindo as probabilidades de que o câncer volte em 50%, e reduz em 40% o risco de morte da mulher.
Mas o Herceptin, que custa US$ 42 mil por ano no atacado, causa sintomas semelhantes aos da gripe e um raro e sério efeito colateral: danos cardíacos graves que podem ser até fatais.
E se um tumor não tiver níveis muito altos de HER2 o Herceptin seria, como disse Antonio Wolff, especialista em câncer de mama da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, "um placebo tóxico e caro". Griffith havia encontrado um problema emergente nos novos testes e terapias de câncer atuais.
Os testes de HER2, por exemplo, podem dar resultados positivos falsos até 20% das vezes, dizendo erroneamente às mulheres que elas precisam da droga quando não precisam; em 5% a 10% das vezes os testes podem dizer falsamente a uma mulher que ela não deveria tomar o remédio, quando deveria.
Outros testes de câncer de mama também apresentam problemas. Estes, para receptores de estrogênio nas células cancerígenas, determinam se o câncer será contido por drogas que privam os tumores de estrogênio.
Eles podem dar errado ao menos 10% das vezes. Algumas drogas que retiram o estrogênio aumentam o risco de osteoporose e também podem elevar os riscos de derrame e câncer do revestimento uterino.
O médico de Griffith, Eric Winer, do Instituto de Câncer Dana Farber, fez um novo teste de seu tumor com um método diferente, esperando que o resultado ajudasse a descobrir se ela poderia se beneficiar do Herceptin. "É difícil saber o que fazer", disse Griffith.
Os dois testes dela para HER2 concordaram, mas com aquele mesmo resultado misto. Seu tumor era parte negativo e parte fracamente positivo. Afinal, os estudos, juntamente com a perspectiva clínica de Winer, não os convenceram de que a droga seria útil.
O risco de danos cardíacos e outros efeitos colaterais era assustador. E ela não podia ignorar o preço da droga, mesmo que sua seguradora pagasse os custos. Griffith decidiu não tomar o Herceptin, mas está se submetendo à quimioterapia padrão. "Estou tranquila com minha decisão", disse.


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