São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Exxon muda de ideia e agora quer extrair combustível de algas

A energia está em tanques, não só nos barris de petróleo

Por JAD MOUAWAD

A gigante do petróleo Exxon Mobil, cujo executivo-chefe certa vez ironizou a energia alternativa ao comparar o etanol com o uísque doméstico falsificado, está prestes a investir nos biocombustíveis.
Em 14 de julho, a Exxon anunciou um investimento de US$ 600 milhões na produção de combustível de transportes a partir de algas. O esforço envolve uma parceria com a Synthetic Genomics, empresa de biotecnologia fundada pelo pioneiro da genômica J. Craig Venter.
O acordo pode preencher uma importante lacuna na estratégia da Exxon, maior e mais rica empresa mundial de energia com capital aberto, que tem sido criticada por grupos ambientalistas devido a sua relutância em aceitar as preocupações com o aquecimento global e desenvolver combustíveis renováveis.
"Literalmente olhamos todas as opções nas quais possamos pensar, tendo em mente vários parâmetros-chave", disse Emil Jacobs, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da unidade de pesquisa e engenharia da Exxon. "Escala foi o primeiro. Para combustíveis de transportes, se você não consegue ver se poderá amplificar uma tecnologia, então tem de questionar se precisa mesmo se envolver."
Ele acrescentou: "Não vou edulcorar isso -não vai ser fácil". Qualquer usina comercial de grande escala para produzir combustíveis à base de algas ainda irá demorar de 5 a 10 anos, segundo Jacobs.
A sinceridade e o compromisso da Exxon certamente serão questionados por seus maiores críticos ambientalistas, especialmente diante dos extraordinários lucros da empresa com o petróleo nos últimos anos.
"Pesquisa é ótimo, mas precisamos ver novos produtos no mercado", disse Kert Davies, diretor de pesquisas da entidade Greenpeace. "Sempre dissemos que as grandes empresas de petróleo têm de se envolver. Mas a questão é se as empresas estão simplesmente defendendo algo da boca para fora, ou se estão colocando seu peso e seu poder por trás disso."
Mas, se o esforço se provar de boa fé, a entrada da Exxon no campo dos biocombustíveis, tradicional reduto das firmas de capital de risco e "start-ups" de biotecnologia, pode gerar um grande impulso para a política do governo de Barack Obama de promover a energia renovável nos EUA.
A parceria da Exxon com a Synthetic Genomics é também um voto de confiança no trabalho de Venter, cientista de espírito independente, conhecido por ter decodificado o genoma humano na década de 1990. Nos últimos anos, ele tem focado sua atenção para a busca de micro-organismos que possam ser transformados em combustível.
"As algas são o máximo em termos de sistema biológico que usa a luz do sol para capturar e converter dióxido de carbono em combustível", disse Venter.
O biocombustível de algas é uma tecnologia promissora. Os combustíveis derivados de algas têm estruturas moleculares semelhantes às dos produtos de petróleo, inclusive a gasolina, o diesel e o combustível de aviação, e seria compatível com a atual infraestrutura de transportes, segundo a Exxon.
A Continental Airlines, por exemplo, já demonstrou sua viabilidade com o voo-teste de um avião movido parcialmente a combustíveis de algas. O Pentágono também avalia combustíveis alternativos, inclusive os de algas.
E, embora até agora a produção rentável de algas em grande escala desafie os pesquisadores, elas têm vantagens potenciais sobre outras fontes de biocombustíveis. As algas podem ser cultivadas em áreas inadequadas a outros cultivos, em tanques de água salobra ou mesmo no mar.
As algas também garantem outro benefício, que pode vir a contribuir com a redução das emissões de gases do efeito estufa. Como qualquer planta, elas precisam de dióxido de carbono para crescer. A Exxon e a Synthetic Genomics esperam desenvolver novas cepas de algas capazes de absorver enormes quantidades de dióxido de carbono -como as que são emitidas pelas usinas termoelétricas, por exemplo.
Até agora, muitas das parcerias pioneiras entre as grandes petroleiras e as empresas de biotecnologia envolveram empresas europeias de petróleo. As norte-americanas só lentamente têm seguido o exemplo.
Venter disse que o envolvimento da Exxon em biocombustíveis é vital para desenvolver combustíveis alternativos em grande escala. "Essas mudanças não podem ocorrer sem o líder do setor de combustíveis", afirmou.


Texto Anterior: China vê futuro na energia limpa
Próximo Texto: Análise econômica: Neutralizar carbono: um preço baixo pela eficiência

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.