São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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ANÁLISE ECONÔMICA

Neutralizar carbono: um preço baixo pela eficiência

ROBERT H. FRANK

A neutralização de carbono é positiva?
Ela serve para reduzir o impacto ambiental do consumo. Viajar de avião, por exemplo, gera emissão de dióxido de carbono, então os viajantes podem pagar um especialista que compensa essas emissões de outra forma -talvez plantando árvores ou instalando tecnologias de energia renovável. Parece razoável.
Mas a neutralização do carbono tem atraído críticas duras. O site britânico Cheatneutral (www.cheatneutral.com) parodia o conceito, oferecendo um serviço pelo qual quem quiser trair o parceiro paga para que outra pessoa deixe de cometer uma infidelidade. Os criadores dizem que quiseram usar o humor para demonstrar a farsa moral do mercado do carbono.
Mas, se a nossa meta é reduzir as emissões de carbono o mais eficientemente possível, os créditos fazem total sentido economicamente.
Veja a decisão de comprar um carro híbrido. Por causa das baterias caras e de outros equipamentos complexos, ele pode custar muito mais do que veículos com motores a combustão. Muitas pessoas dirigem tão pouco que a economia de gasolina não basta para recuperar o gasto. Mesmo assim, alguns compram híbridos, por acharem que estão ajudando o meio ambiente. Bem, elas poderiam ajudar mais comprando um carro comum e gastando a diferença em créditos de carbono.
Claro que, por si só, os créditos não resolvem o aquecimento global. As pessoas precisam de incentivos maiores para levar em conta as consequências ambientais das suas ações. O presidente dos EUA, Barack Obama, já propôs atacar o problema com um sistema de "cap-and-trade" (limites e comércio de carbono). O governo inicialmente estabeleceria um teto anual para as emissões de carbono e leiloaria autorizações para as emissões. Para usar processos ou venderem produtos que emitem carbono, as empresas teriam de comprar autorização para cada unidade de carbono emitida. Se o governo desejar, por exemplo, um limite de 5 bilhões de toneladas de carbono por ano, leiloaria o equivalente a esse total em autorizações para emissões.
Um sistema de "cap-and-trade" é semelhante a um imposto sobre o carbono. Ambos aumentam o custo das atividades que geram emissões de dióxido de carbono, estimulando a redução das pegadas de carbono das pessoas. A neutralização do carbono não substitui os incentivos inerentes aos impostos sobre carbono ou ao "cap-and-trade", mas pode reforçar seus efeitos.
Dezenas de empresas vendem créditos de carbono, e alguns críticos questionam como seu trabalho pode ser verificado. Mas já existem vários programas de certificação em vigor, como Gold Standard e Green-e Climate.
A neutralização de carbono, embora vilipendiada, é uma excelente ideia.


ROBERT H. FRANK é economista da Universidade Cornell


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