São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Ciclo sem manchas no Sol intriga cientistas

Por KENNETH CHANG

Desde que, em 1843, o astrônomo alemão Samuel Heinrich Schwabe primeiro observou que as manchas solares aumentam e diminuem ao longo de um ciclo de aproximadamente 11 anos, o cientistas vêm observando a atividade do Sol com cuidado. No período mais recente de baixa de atividade, o Sol deveria ter chegado a seu estado mais calmo, com menos manchas, em meados do ano passado.
De fato, o último ano foi o período mais inativo do Sol no último meio século: 266 dias sem uma única mancha solar visível desde a Terra. Então, nos primeiros quatro meses de 2009, o Sol ficou ainda mais uniforme, com o ritmo de surgimento de manchas menor ainda.
"O Sol anda totalmente morto", disse há dois meses o físico solar David Hathaway, do Centro Marshall de Voos Espaciais, da agência espacial americana (Nasa).
O Sol voltou a ficar ativo nos últimos dois meses, apresentando um grupo grande de 20 manchas no início de julho. Agora, está parado novamente, de maneira que condiz com as previsões de que o ciclo solar atual será menor e mais calmo, e que o máximo de atividade, previsto para maio de 2013, não será tão máximo assim.
Para os operadores de satélites e grades elétricas, isso é boa notícia. Os mesmos campos magnéticos turbulentos que geram manchas solares também aceleram uma devastadora chuva de partículas que pode sobrecarregar e destruir equipamentos eletrônicos em órbita ou na Terra.
Um comitê de 12 cientistas da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA prevê que o pico de maio de 2013 terá a média de 90 manchas solares durante esse mês. Isso fará dela o máximo solar mais fraco desde 1928, quando o pico foi de 78 manchas solares. Durante um máximo solar mediano, o Sol fica coberto por 120 manchas solares, em média.
Alguns céticos do aquecimento global especulam que o Sol possa estar prestes a cair num sono prolongado semelhante ao chamado Mínimo de Maunder -fase de várias décadas com poucas manchas solares, nos séculos 17 e 18, que coincidiu com um período extenso de tempo frio.
A maioria dos físicos solares não pensa que qualquer coisa de anormal esteja ocorrendo com o Sol. Mesmo assim, algo como o Mínimo de Dalton -dois ciclos solares no início dos anos 1800 que chegaram ao auge com uma média de 50 manchas solares- está dentro do reino do possível, disse David Hathaway. Os mínimos ganharam os nomes ds cientistas que ajudaram a identificá-los: Edward Maunder e John Dalton.
Com telescópios melhores em terra e uma frota de naves espaciais, os cientistas hoje sabem mais sobre o Sol. Mas não entendem tudo. Os modelos de dínamo solar, que procuram captar a dinâmica do campo magnético, ainda não conseguem explicar muitas questões básicas, nem a razão pela qual os ciclos solares têm a média de 11 anos de duração.
A ideia de que os ciclos solares estejam relacionados ao clima é difícil de enquadrar com as mudanças reais na produção de energia do Sol. Entre o máximo e o mínimo solar, a produção de energia do Sol cai apenas 0,1%.
Mas a sobreposição do Mínimo de Maunder com a Pequena Era do Gelo, quando a Europa viveu um período de clima incomumente frio, sugere que o ciclo solar possa exercer influências mais sutis sobre o clima.
Uma possibilidade proposta há uma década por Henrik Svensmark e outros cientistas do Centro Espacial Nacional Dinamarquês analisa as partículas interestelares de alta energia conhecidas como raios cósmicos. Quando os raios cósmicos entram na atmosfera, desmembram as moléculas de ar em íons e elétrons, o que faz a água e o ácido sulfúrico no ar se aglutinarem em gotículas. Essas gotículas são sementes que podem crescer para virar nuvens, e as nuvens refletem a luz solar, potencialmente reduzindo a temperatura.
Os cientistas dinamarqueses dizem que o Sol influencia o número de raios cósmicos que chegam à atmosfera e, assim, o número de nuvens. Quando o Sol está agitado, aumenta o vento solar de partículas carregadas que ele sopra. Isso amplia o casulo de campos magnéticos em volta do sistema solar, desviando alguns raios cósmicos.
Mas, segundo a hipótese, quando as manchas e os ventos solares se acalmam, o casulo magnético se contrai, mais raios cósmicos atingem a Terra, mais nuvens se formam, menos luz solar chega à superfície da Terra, e a temperatura cai. "Acho que esse é um efeito importante", disse Svensmark.
A mecânica da erupção de tempestades solares a partir de uma mancha solar tampouco é bem compreendida. Um ciclo calmo não é garantia de que não ocorram cataclísmicas tempestades solares. A maior tempestade já observada foi em 1859, durante um ciclo solar semelhante ao que está previsto.
Na época, a tempestade prejudicou os fios telegráficos. Hoje, ela pode nocautear longas extensões de grade elétrica e desativar 10% dos satélites que orbitam a Terra.
Mas ninguém sabe explicar bem o comportamento atual, nem traçar previsões confiáveis. "Ainda não entendemos esse 'animal' muito bem", disse Hathaway. "As teorias que tínhamos para explicar o funcionamento dos ciclos de manchas do Sol têm falhas grandes."


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