São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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Pesquisadores ensinam mente a mover matéria

Por SANDRA BLAKESLEE

Aprender a mover um cursor de computador ou um braço robótico usando apenas o pensamento pode ser como aprender a jogar tênis ou andar de bicicleta, segundo um novo estudo sobre a interação entre cérebros e máquinas.
A pesquisa foi feita com macacos, mas a previsão é que se aplique igualmente bem a humanos. Ela envolve redesenhar, de maneira fundamental, os experimentos sobre a relação entre cérebro e máquinas.
Nos estudos anteriores, as interfaces de computador que traduzem pensamentos em movimentos recebiam um novo conjunto de instruções a cada dia. No novo experimento, macacos aprenderam a mover um cursor de computador com seu pensamento, usando um único conjunto de instruções e um número pequeno de células cerebrais que transmitem instruções para a realização de movimentos da mesma maneira todos os dias.
"Esta é a primeira demonstração de que o cérebro é capaz de formar uma memória motora para controlar um artefato desligado do corpo, de uma maneira que espelha a maneira como ele controla seu próprio corpo", disse José Carmena, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, que liderou a pesquisa. Os experimentos foram descritos este mês no periódico "PloS Biology".
Os resultados são "surpreendentes", segundo Eberhard Fetz, especialista em tecnologia de interface entre cérebro e máquinas da Universidade de Washington e que não participou da pesquisa. "Isso prova que o cérebro é mais esperto do que pensávamos."
A equipe de Carmena treinou dois macacos a usar um joystick para movimentar um cursor de computador em direção a alvos azuis em um círculo e extraiu um decodificador para os movimentos. Em seguida, os animais treinaram durante 19 dias para mover o cursor com seu pensamento.
Num primeiro momento, as trajetórias seguidas pelo cursor eram aleatórias. Com o passar do tempo, porém, o padrão de disparos de célula se estabilizou, e os macacos desenvolveram um modelo mental estável para exercer controle sobre o cursor.
Então, Carmena decidiu testar a memória dos macacos. Ele mudou o decodificador: em vez de mover o cursor em direção a alvos azuis, por exemplo, a cor mudou para amarelo. Em poucos dias, os macacos aprenderam a nova tarefa, usando o mesmo grupo de células.
Se as interfaces entre cérebro e máquina puderem se tornar suficientemente seguras para uso em humanos, algum dia é possível que paralíticos movimentem as próteses que substituem seus braços ou pernas com a mesma naturalidade com que movimentam seus próprios membros, disse Carmena.


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