São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudioso tenta definir o que constitui o comportamento animal

NATALIE ANGIER
ENSAIO

Certas coisas nunca devem ser menosprezadas, entre elas seu esposo, sua mãe e o significado exato das palavras que estão no cerne da sua profissão.
Daniel Levitis era professor-assistente em um curso de comportamento animal na Universidade da Califórnia em Berkeley, e, no primeiro dia de aula, a professora explicou que a definição resumida de "comportamento" é "o que os animais fazem".
Está bem, essa é uma definição simpática, pensou Levitis. Mas e a versão profissional, não abreviada? Qual é a definição ponto a ponto de "comportamento" que os biólogos comportamentais usam quando julgam se um determinado aspecto do mundo natural recai em sua área de estudo? Afinal, os animais digerem alimentos e seus pelos crescem, mas poucos pesquisadores comportamentais contariam esses efeitos fisiológicos e anatômicos como comportamentos.
Levitis perguntou à professora qual é a definição completa de comportamento. Ela o mandou consultar o manual, com o promissor título de "Comportamento Animal". Para a surpresa dele, nem o livro nem qualquer outra referência que consultou se davam ao trabalho de explicar direito. "Supunha-se que todo mundo soubesse o significado da palavra", disse Levitis, que está completando seu doutorado em Berkeley.
Ele decidiu perguntar a quem deveria saber mais: os biólogos comportamentais praticantes. Os resultados de sua pesquisa realizada com seus colegas William Lidicker Jr. e Glenn Freund aparecem na edição atual da revista "Animal Behaviour".
Entre os destaques do relatório: os biólogos não concordam entre si sobre o que é um comportamento; os comportamentalistas animais tendem a reivindicar o rótulo de comportamento só para animais, enquanto botânicos alegam que, se o desabrochar de uma flor perfumada e colorida com o propósito de espalhar sua semente não é um exemplo de comportamento, então não existe o que chamamos de amor; e, finalmente, as palavras podem contar, mas os pensamentos, não.
Pesquisadores reconhecem que os biólogos não vinham exigindo uma definição canônica do termo. Marlene Zuk, comportamentalista animal da Universidade da Califórnia em Riverside, citou os atuais debates acirrados sobre a definição da palavra "espécie". "O que você pensa que é uma espécie tem grande importância sobre o modo como você pensa a evolução", disse. Mas, com o comportamento, ela acrescentou, "não parece haver uma crise existencial".
Walter Koenig, da Universidade Cornell, que ajudou Levitis nas primeiras etapas do projeto, disse que seu interesse foi aguçado quando ele passou do estudo do comportamento de aves para uma pesquisa sobre o principal fornecedor de alimento das aves, os carvalhos. Por que árvores dispersas em grandes distâncias acabam liberando suas sementes em massa?, ele se indagou. "As árvores estão reagindo a algo produzido por outras árvores? É totalmente possível", ponderou. E se você designar esse tipo de química interarbórea como comportamento, ele acrescentou, "acaba forçando os limites" do que acha que as plantas podem fazer.
Apesar da falta de acordo, os pesquisadores tentaram extrair dos resultados de uma pesquisa uma definição experimental para a palavra que seus colegas usam à vontade. Como eles dizem, um comportamento é a reação internamente coordenada que um indivíduo ou um grupo tem a um estímulo. A reação pode ser ação ou inação. O estímulo pode vir de dentro ou de fora.
Portanto, cães que latem estão se comportando; cães que obedecem a um treinador e decidem não latir estão definitivamente se comportando.


Texto Anterior: Pesquisadores ensinam mente a mover matéria
Próximo Texto: VIDA COTIDIANA - NA ONDA DA WEB
Site de "faça você mesmo" quer lucrar com vídeos informativos

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.