São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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Arquitetura “verde” com soluções de baixo custo

Por Michael Webb

CULVER CITY, Califórnia - Thomas Small é um exímio cozinheiro. Por isso, é importante para ele experimentar ingredientes novos e exóticos de vez em quando. Quando chegou a hora de construir sua casa ecológica, foi exatamente o que os arquitetos lhe deram. Afinal, cascas de semente de girassol e jeans rasgados não são elementos típicos de construção.
Mas no mundo do design verde esses ingredientes não são raros. Agora, Small e sua mulher, Joanna Brody, junto com seus dois filhos pequenos e uma dupla de cães briard franceses, vivem em um edifício urbano pré-fabricado que se tornou um exemplo para outros que procuram maneiras criativas de ser "verdes".
O projeto começou com um desafio entre amigos. "Queremos a casa mais verde que você já projetou, mas quase não temos dinheiro", Small disse a Whitney Sander, que, com sua mulher, Catherine Holliss, dirige a Sander Architects em Venice, Califórnia. Outro objetivo era que fosse um refúgio tranqüilo, com revestimento acústico para atender a uma das paixões dele, recitais de música de câmara.
Inspirados em uma casa criada por Charles e Ray Eames em 1949, uma estrutura de aço pré-fabricada com portas, janelas e outros itens encomendados por catálogo, os arquitetos assumiram o projeto sob a condição de que pudessem seguir uma nova estratégia. Além de usar acrílico, painéis de fibra de vidro, aço reciclado e isopor, eles tentariam usar ingredientes como cascas de sementes de girassol na forração das paredes e prateleiras, e jeans para insulação.
Era uma visão heterodoxa para um lugar que continha pouco mais que um bangalô decrépito. Ávidos por espaço abundante e luz natural, Brody, 44, e Small, 49, o compraram alguns anos atrás, trocando uma antiga casa de três andares em Santa Mônica por um beco sem saída cercado de árvores.
Não valia a pena salvar o bangalô, então os arquitetos colocaram em seu lugar uma estrutura pré-fabricada com painéis de aço sob medida. Os materiais, que custaram US$ 22 mil, chegaram em uma carreta aberta e foram erguidos em três semanas, por US$ 18 mil. O empreiteiro, Sean Icaza, aprovou a oportunidade de aprender uma nova maneira de construir, mas o maior custo foi o tempo: com um orçamento justo, o planejamento e a construção se estenderam por três anos. O custo final, incluindo acabamento, encanamento etc. ficou em US$ 528 mil, cerca de um terço do valor médio de casas desse tamanho projetadas por arquitetos na região de Los Angeles.
A casa de 390 m2, que exige baixa manutenção e tem pequeno consumo de carbono, ergue-se até os nove metros permitidos pelo zoneamento. A casa preenche a ambição dos donos de criar uma obra de arte intensamente ecológica: ela conta com ventilação cruzada para resfriamento, energia solar passiva para aquecimento e água reciclada irriga o jardim. Três lados da casa são revestidos de painéis de aço dobrado cor de vinho. O quarto lado, a parede sul, é uma montagem geométrica de concreto, acrílico e vidro, inspirada, segundo Sander, em uma peça cubista de Georges Braque, "Ária de Bach".
Para criar as rígidas escoras que sustentam os andares superiores, telas de arame e barras de ferro foram enroladas em isopor e borrifadas com concreto. Para a isolação e absorção do som, o teto e as paredes foram revestidos com duas camadas de jeans rasgados. Seguros por tela de arame, eles complementam os painéis parafusados de fibra de madeira, feitos de cascas de semente de girassol amassadas e que se erguem cinco metros na área de estar.
Uma rampa rasa feita de largos degraus de bambu serve de galeria para concertos no piso de concreto abaixo. A rampa leva ao quarto principal no segundo andar, onde janelas até o teto oferecem uma excelente vista dos espetáculos luminosos lá fora. "Eu adoro acordar com a luz direta e ver a lua passando", disse Brody.

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