São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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EUA operam frente antiterror no Iêmen

Objetivo é enfrentar a Al Qaeda, cada vez mais forte no país

Por ERIC SCHMITT
e ROBERT F. WORTH
WASHINGTON - Em meio a duas grandes guerras inacabadas, os EUA abriram discretamente uma terceira frente, em larga medida sigilosa, de combate contra a Al Qaeda, no Iêmen.
Um ano atrás, a Inteligência americana enviou alguns de seus principais agentes de campo ao país, de acordo com um ex-funcionário de primeiro escalão. Ao mesmo tempo, algumas das mais secretas unidades de operações especiais americanas começaram a treinar as forças de segurança iemenitas em táticas de combate ao terrorismo, informaram líderes militares.
O Pentágono vai investir mais de US$ 70 milhões e usará pessoal de suas forças especiais, nos próximos 18 meses, para treinar e equipar as Forças Armadas, a Guarda Costeira e unidades do Ministério do Interior do Iêmen, mais que duplicando o nível anterior de assistência militar.
Investigadores tentavam corroborar as alegações de um nigeriano de 23 anos, que pode ter sido treinado pela Al Qaeda no Iêmen para explodir um avião em Detroit, no dia de Natal, e a trama coloca em destaque o complicado relacionamento entre o governo de Barack Obama e o Iêmen.
O país há muito serve de refúgio a combatentes da jihad, em parte porque o governo iemenita abriu os braços para receber os combatentes islâmicos que lutaram no Afeganistão durante os anos 80. Mas os esforços dos militantes da Al Qaeda para estabelecer uma base no Iêmen ganharam muito mais intensidade nos últimos anos, quando eles recrutaram grande número de militantes para ataques muito mais frequentes contra embaixadas estrangeiras e outros alvos.
A Casa Branca quer estabelecer elos duradouros com o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, e estimulá-lo a combater a afiliada local da Al Qaeda, conhecida como Al Qaeda na península Árabe, apesar dos problemas internos que afligem o Iêmen. Isso porque Washington teme que o país se torne o próximo polo operacional e de treinamento da Al Qaeda, como alternativa às áreas tribais insubmissas do Paquistão.
Como consequência, o general David Petraeus, comandante das forças militares dos EUA na região, e John Brennan, assessor de combate ao terrorismo de Obama, fizeram visitas sigilosas ao Iêmen no terceiro trimestre de 2009.
O presidente Saleh concordou em aceitar assistência expandida, tanto aberta quanto sigilosa, em resposta à crescente pressão dos EUA e de países como a Arábia Saudita (origem de muitos agentes da Al Qaeda) e à crescente ameaça que os terroristas representam para a liderança política nacional.
"Os problemas de segurança do Iêmen não ficam apenas ali", disse Christopher Boucek, pesquisador-associado do Carnegie Endowment for International Peace. "São de problemas regionais, que afetam os interesses do Ocidente."
O extremismo no Iêmen ganhou destaque um ano atrás, quando um ex-prisioneiro saudita em Guantánamo, Said Ali al Shihri, fugiu de seu país para o Iêmen a fim de aderir à Al Qaeda e apareceu em um vídeo on-line. Diversos outros ex-detentos de Guantánamo também aderiram ao grupo.
As áreas remotas do Iêmen são notórias pelo desgoverno, e o caos do país se agravou nos últimos anos devido a uma rebelião armada no noroeste e um movimento separatista cada vez mais forte no sul. O petróleo iemenita está acabando, e os recursos financeiros cada vez mais escassos do governo afetaram sua capacidade de ação.
Enquanto isso, o envolvimento de iemenitas em complôs contra os EUA vem crescendo. O líder religioso radical iemenita Anwar al Awlaki foi conectado a diversos suspeitos de terrorismo, entre os quais Nidal Malik Hasan, o major do Exército norte-americano que enfrenta acusações de homicídio após matar 13 pessoas em Fort Hood, Texas, em novembro.
O Iêmen reforçou sua campanha contra a Al Qaeda com fortes ataques aéreos -nos quais suspeita-se de participação dos EUA- em dezembro. Au Bakr al-Qirbi, chanceler iemenita, confirma a cooperação com os EUA e a Arábia Saudita. "Eles [militantes] se tornaram mais presentes e tentam demonstrar capacidade de realizar ações terroristas abertas. O governo teve de reagir a isso."

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