São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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Banqueiro europeu influente na política

Por JACK EWING e LIZ ALDERMAN

FRANKFURT - Josef Ackermann, em um dia de setembro de 2008, recebeu tarde da noite uma chamada urgente de Berlim.
Na linha, Angela Merkel, a chanceler alemã. Um grande banco do país estava prestes a entrar em colapso. Era quase uma hora da manhã, e os mercados financeiros estavam para abrir em toda a Ásia. Merkel perguntou se Ackermann, chefe do Deutsche Bank, poderia ajudar a resgatar a instituição bancária.
Dentro de minutos, ele convenceu os banqueiros alemães a reservar o montante de US$ 8,5 bilhões para a operação.
Ackermann, 63, saiu da crise de 2008 como o banqueiro mais poderoso da Europa e, possivelmente, o mais perigoso também. Ele informa regularmente os políticos sobre as questões econômicas mais importantes do dia: a crise da dívida na Grécia; o alargamento do fosso entre as nações economicamente fortes da Europa, com destaque para a Alemanha, e as mais fracas, como Irlanda e Portugal.
Mas não é segredo onde a lealdade de Ackermann se deposita: nos bancos. Por exemplo, ele insistiu que o fornecimento de algum tipo de alívio da dívida para a Grécia seria um erro enorme. O que haveria de tão ruim nisso? Os bancos europeus, ainda segundo Ackermann, perderiam demais. Por enquanto, a solução da Europa para a Grécia é essencialmente a receita de Ackermann: mais dinheiro de resgate e uma política de austeridade -abordagem que alguns economistas dizem que não oferece esperança alguma de recuperação.
O banqueiro também se coloca contrário a uma regulamentação rígida dos bancos e da atividade que desempenham, dizendo que geraria uma crise do crédito -uma afirmação que alguns economistas ridicularizam.
Até mesmo alguns dos pares de Ackermann estão desconfortáveis com suas posições. Um executivo disse que a defesa dos interesses dos bancos feita por ele falhou por não ter levado a opinião pública em consideração. "Como uma indústria, temos um problema de reputação e precisamos estar cientes e gerenciá-lo adequadamente", afirmou o banqueiro.
Em pessoa, Ackermann surge com sua fala mansa característica e sua quase timidez. Ele retrata a si mesmo como um homem que gosta de prazeres simples, como caminhada e livrarias. Ele desconversa sobre sua relação com Merkel. "Desde a crise financeira, a relação entre bancos e governos ficou mais desafiadora", diz ele.
"Ele é um animal político", diz Roland Berger, fundador da empresa de consultoria que leva seu nome. "Eu não estou certo se a Alemanha sem ele teria dominado uma situação crítica como essa."
Ackermann disse algumas coisas que desagradaram a Merkel. Pouco depois que os líderes europeus aprovaram o resgate para a Grécia em maio passado, ele alertou que o país pode não ser capaz de pagar suas dívidas. A própria existência do euro, afirmou, pode ser comprometida se outras economias fracas perderem a confiança dos investidores.
Seus comentários deixaram os mercados financeiros desesperados e resultaram em críticas vindas do ministro de Finanças de Merkel, Wolfgang Schäuble.
Mas, em junho, os comentários de Ackermann se mostraram prescientes quando o primeiro-ministro grego, George A. Papandreou, se esforçou para convencer o país a concordar com medidas austeras. Schäuble, ele mesmo, acabou chamando a atenção para o "perigo real de a Grécia ser incapaz de pagar suas dívidas."
Na reunião anual de acionistas do Deutsche Bank em maio, Ackermann disse: "Especialmente ao longo dos últimos anos, o Deutsche Bank reforçou ainda mais a boa reputação que goza em todo o mundo." E continuou: "Em nenhuma transação, vale a pena arriscar reputação e credibilidade da instituição."
Mas a reputação de Ackermann e do banco sofreu golpes duros. Na crise imobiliária nos EUA, o Deutsche Bank foi um dos maiores negociadores daqueles empréstimos de baixa qualidade, títulos que se tornaram tóxicos com o estouro da bolha.
Em março, a mais alta corte de apelações da Alemanha decidiu que o Deutsche Bank deve compensar um cliente dono de uma pequena empresa por perdas como resultado do chamado "swap de taxa de juros". Essa decisão pode obrigar o Deutsche Bank a compensar outros clientes. Nos EUA, um processo movido pelo governo federal em maio acusa a subsidiária do Deutsche Bank, a MortgageIT, de mentir sobre a qualidade dos empréstimos imobiliários, o que pode obrigar o banco a pagar milhões de dólares.
Ackermann diz que muita raiva tem sido lançada sobre bancos como o dele. Ele se orgulha de como o Deutsche Bank escapou da crise, sem precisar de ajuda direta do governo. Na verdade, o Deutsche Bank a recebeu quando o governo dos EUA agiu para impedir que a American International Group (AIG) entrasse em colapso.
Ainda que minimize a exposição do banco na AIG, ele reconhece que, se a seguradora tivesse sido autorizada a falir, o Deutsche Bank e o sistema financeiro teriam tido problemas maiores.
Simon Johnson, o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional e um proeminente crítico de Wall Street, chamou Ackermann de "um dos banqueiros mais perigosas do mundo." A razão é que Ackermann ainda está levando o Deutsche Bank a um retorno anual de 25% sobre o capital próprio, antes da aplicação de impostos. Martin Hellwig, diretor do Instituto Max Planck, diz que retornos tão altos só são possíveis para os bancos que sabem que serão resgatados quando estiverem com problemas.
Ackermann promete que não vai permanecer no Deutsche Bank depois de 2013. Ele diz que a decisão sobre quem vai substituí-lo encontra-se com o conselho de supervisão.
Mas, como tantas coisas em finanças europeias, ele desempenhará um papel fundamental na escolha do substituto. "Não é meu trabalho", diz ele, "mas estou, é claro, envolvido."

"Em nenhuma transação, vale a pena arriscar reputação e credibilidade do banco"
JOSEF ACKERMANN
Chefe do Deutsche Bank



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