São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Fazendeiros se tornam hoteleiros para sobreviver

Por WILLIAM NEUMAN

SANTA MARGARITA, Califórnia - Muito se fala sobre agricultura sustentável, mas a maioria das pequenas fazendas dos EUA não consegue se sustentar em um sentido muito básico: não fecha as contas sem a receita de empregos fora da fazenda.
Mas um número crescente de fazendeiros está ganhando mais dinheiro com a terra de maneiras além das tradicionais, de plantar e criar gado. Alguns abriram pousadas, conhecidas como "farm stays", que atraem hóspedes ávidos por conhecer o sabor da vida rural.
Outros operam labirintos de milho por onde os visitantes podem passear. Pecuaristas abrem suas terras para caçadores ou recebem hóspedes para cavalgadas.
Conhecidas como agroturismo, essas atividades estão ganhando importância como reforço econômico para muitos agricultores.
De manhã cedo, Jim Maguire ordenha as ovelhas e cabras e alimenta os porcos em sua pequena fazenda de leite aqui, antes de rumar para o trabalho como defensor público no condado de San Luis Obispo. Sua mulher, Christine, faz queijos e cuida dos animais.
Mas, nos últimos anos, Maguire tem novas tarefas: trocar lençóis e servir comida para os hóspedes das duas unidades da pousada Rinconada Dairy. O dinheiro deixado pelos visitantes serve para pagar a ração dos animais, uma das maiores despesas.
O Departamento da Agricultura dos EUA prevê que, neste ano, a família agrícola média obterá apenas 13% de sua receita de fontes agrícolas. O agroturismo é atraente, pois aumenta a renda da família na própria fazenda, potencialmente reduzindo a necessidade de empregos externos.
O movimento do agroturismo é alimentado por moradores das cidades que querem compreender de onde vem sua comida ou que sentem vontade de abraçar a vida rural. Scottie Jones, que cria carneiros e dirige uma pousada rural em Alsea, no Oregon, recebeu verbas de US$ 42 mil do Departamento da Agricultura para abrir um site, o "Farm Stay US". Inaugurado em junho passado, o endereço inclui listas de mais de 900 fazendas e ranchos, com cerca de 20 adicionados por mês.
A World Wide Opportunities on Organic Farms atua como intermediária on-line para pessoas que querem trocar trabalho por hospedagem em uma fazenda. Até o labirinto de milho, principal elemento do turismo rural há décadas, está ficando mais popular.
Brett Herbst, domo do The Maize, uma empresa em Utah que desenha e executa labirintos de milho, estimou que há mais de mil deles no país por ano, desde versões simples até criações complexas que incluem jogos para os visitantes, com pistas enviadas em mensagens de texto.
"É virtualmente impossível ganhar a vida apenas com a agricultura tradicional em uma pequena propriedade", disse Herbst. "Isso dá uma possibilidade de manter a terra, prover a subsistência de uma fazenda familiar."
Mas ainda há obstáculos. Por exemplo, muitos agricultores se queixaram dos custos do seguro, que aumentam com o número de visitantes.
E o trabalho é duro. Bonnie Swank, de Hollister, na Califórnia, dirige um labirinto de milho e "casa assombrada" no outono, em terra onde cultiva legumes no restante do ano. Em uma recente oficina de agroturismo, ela explicou o extenso planejamento que é necessário para esse período anual de seis semanas, que consegue atrair até 30 mil pessoas e produz um quarto da renda anual da fazenda.
Por sete anos, Kim A. Rogers e seu marido dirigiram uma fazenda em Templeton, na Califórnia, juntamente com uma pousada.
Finalmente, ela teve uma revelação: a agricultura era um trabalho exaustivo, e a pousada estava gerando uma parcela cada vez maior de sua renda.
Então, no ano passado, eles se tornaram hoteleiros em tempo integral, com um chalé e um bangalô que alugam por US$ 150 a US$ 285 por noite. Ainda têm alguns carneiros, galinhas e uma grande horta, o suficiente para manter o ambiente de fazenda.
"Muita gente quer apenas viver essa experiência da vida rural", ela disse.


Texto Anterior: Os modernos de Nova York se refrescam em 'Rocapulco'
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.