São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Faculdades precisam de maior eficiência

Por CONRAD DE AENLLE
As anuidades e outras taxas de faculdades têm aumentado há vários anos em muitos países, e, devido à crise econômica e financeira, é quase certo que a tendência se mantenha ou agrave. Estudantes e suas famílias terão de arcar com uma parte maior dos custos, dizem especialistas.
Mas as universidades poderão ser obrigadas a operar de maneira mais eficiente e frugal, dizem, conforme os que pagam as contas se tornam consumidores mais inteligentes e cientes dos custos.
Margaret Spellings, assessora sênior do Boston Consulting Group, uma firma de consultoria administrativa global, e ex-secretária da Educação do presidente George W. Bush, denuncia o fracasso do governo em exigir mais valor pelo dinheiro gasto e um elitismo que, segundo ela, está arraigado no meio acadêmico.
A crescente demanda por lugares nas universidades também faz aumentar os custos, assim como o desejo dos governos de atender à demanda.
"Parte do problema na maior parte do mundo é a explosão de matrículas", disse D. Bruce Johnstone, professor de educação na Universidade Estadual de Nova York em Buffalo. Segundo ele, as condições são especialmente agudas nos países em desenvolvimento. E citou uma inclinação ocidental pelo igualitarismo acadêmico.
"Uma expectativa do direito a participar de uma universidade de pesquisa faz parte do problema", disse Johnstone. Ele notou que todos os graduados em escolas secundárias na França e na Alemanha que passam em um exame nacional têm garantida a admissão na universidade.
As anuidades aumentaram 106% entre 1997 e 2007 nas universidades públicas americanas e 76% nas universidades privadas, para US$ 7.171 e US$ 30.260, respectivamente, segundo o Centro Nacional de Estatísticas da Educação.
São menores em todos os outros lugares, embora possam ser muito altas em relação às rendas, especialmente no mundo em desenvolvimento. Os 23 milhões de estudantes que frequentam universidades na China pagam cerca de US$ 3 mil por ano, disse Johnstone. Mas o governo já avisou que as taxas vão aumentar.
As taxas na Índia variam, ele disse, mas chegam a cerca de US$ 600 por ano nas universidades médias e muito mais nos institutos tecnológicos de elite.
As escolas chinesas e indianas não sentem falta de candidatos, mas, no Japão, as matrículas estão diminuindo. Lá, a anuidade média é de aproximadamente US$ 4.500.
As anuidades são avaliadas em níveis muito mais baixos na Europa continental, disse Johnstone. "Os países europeus adotam anuidades em meio a uma enorme controvérsia política", ele comentou.
Eventualmente, as condições se deterioram, e as autoridades são obrigadas a aumentar as taxas, disse, "e então todo mundo realmente grita".
A Europa oficial começou a aceitar a ideia das anuidades, com uma advertência importante. Dennis Abbott, porta-voz para Educação da Comissão Europeia, indicou "clara tendência a aumentar a divisão de custos" entre alunos e fontes estatais, mas salientou que as taxas "devem ser suportadas por bolsas e/ou o crédito".
As taxas maiores não são a única sugestão para superar a brecha financeira. Um relatório de 2006 feito pelo Centro para Reforma Europeia, uma organização de pesquisa centrista baseada em Londres, incentivou as universidades europeias a tornar-se mais competitivas e mais empresariais e, embora não tenha dito tão explicitamente, mais americanas.
Os autores também recomendaram remunerar os professores de acordo com o mérito; fazer lobby agressivo junto a fontes de financiamento estatais e privadas, como ex-alunos; e atrair patrocínios corporativos. Uma maneira de melhorar a sensibilidade e a produtividade, disse Abbott, é garantir primeiro que os estudantes das universidades querem e precisam estar lá.
"Muitos jovens que embarcam em carreiras universitárias as abandonam antes de completar os cursos", disse. Isto representa uma oportunidade perdida, tanto em termos do potencial humano do estudante como em termos de mais valor pelo dinheiro. Melhor aconselhamento e orientação, combinados com mais apoio, incluindo financeiro, devem ser oferecidos."
Spellings disse que esperava um aumento na "educação à la carte, híbrida, baseada na tecnologia", em que os estudantes assistem às aulas pessoalmente, online e nos horários de sua escolha. "Os consumidores pedem isso", ela disse.
"As coisas estão mudando, pois os preços ficaram ridículos", continuou Spellings. "As pessoas começam a fazer perguntas que teriam sido heréticas cinco anos atrás. As universidades tinham uma situação de torre de marfim, de estar acima de tudo, mas começam a mudar, e isso acontece no mundo inteiro."


Texto Anterior: Em busca de um sonho no deserto
Próximo Texto: Inteligência - Roger Cohen: Em novo mundo, uma potência relutante

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.