São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Setor de energia solar aprende lições dolorosas na Espanha

Por ELISABETH ROSENTHAL
PUERTOLLANO, Espanha - Há dois anos, a cidade mineradora de Puertollano viveu uma breve corrida do ouro do século 21. Famosa por seu carvão, Puertollano descobriu outra fonte energética: o seu sol inclemente e abrasador.
Graças aos generosos incentivos do governo espanhol para impulsionar um setor nacional de energia solar, a cidade se pôs a atrair empresas desse ramo, substituindo a economia do carvão. Logo Puertollano tinha duas enormes usinas solares, fábricas de painéis solares e de "wafers" de silício e institutos de pesquisa em energia limpa. Metade da energia solar instalada em 2008 no mundo estava na Espanha.
Agricultores venderam terras para usinas solares. Butiques abriram. E gente de todo o mundo, antevendo oportunidades de negócios, se mudou para a cidade, de onde antes a população fugia do desemprego de 20%.
Mas, vendo usinas solares mal projetadas e de baixa qualidade brotarem nos planaltos espanhóis, as autoridades começaram a perceber que teriam de subsidiar muitas delas indefinidamente.
Em setembro, o governo mudou abruptamente o rumo, cortando os pagamentos e limitando a instalação da energia solar. O efêmero boom de Puertollano acabou. Fábricas e lojas fecharam, milhares de empregos foram perdidos, empresas e bancos estrangeiros abandonaram contratos previamente negociados.
Mas as empresas espanholas mais robustas do setor de energia solar sobreviveram, se reestruturaram e estão ressurgindo como atores globais.
A Siliken Renewable Energy, por exemplo, originalmente produzia painéis solares. Quando o governo mudou de rumo, ela fechou suas fábricas por cinco meses e reduziu seu pessoal de 1.200 para 600. Mas, após alterar o foco para mercados externos, como Itália, França e EUA, e de se diversificar para os serviços de apoio à energia solar, a empresa agora tem lucro.
"Somos uma companhia em que os bancos confiavam, então pudemos fazer a mudança", disse Antonio Navarro, porta-voz da empresa. "Mas muitas pequenas empresas desapareceram."
Para estimular o desenvolvimento da energia solar, a Europa em geral usa as chamadas "tarifas feed-in", por meio das quais o governo paga um polpudo ágio pela eletricidade de fontes renováveis.
Ao ser anunciado, em meados de 2007, o ágio espanhol pela energia solar era o mais generoso que havia -US$ 0,58 por kilowatt-hora-, com poucas precondições. Vendo hoje, era muito. "Todos estavam se instalando na Espanha o mais rápido que podiam, e cada biólogo que soubesse somar estava trabalhando em energia solar", disse Pedro Banda, diretor-geral do Instituto de Sistemas Fotovoltaicos de Concentração, de Puertollano.
A meta espanhola para 2010 era gerar 400 megawatts de energia a partir de painéis solares, mas essa marca foi alcançada no final de 2007. Em 2008, o país conectou 2,5 gigawatts de energia solar à sua rede, mais do que quintuplicando sua capacidade anterior e ficando atrás apenas da Alemanha, líder mundial. Mas muitas das usinas abertas às pressas não ofereciam esperança de serem competitivas em termos de custos, por serem mal projetadas ou se localizarem em locais onde a exposição solar era inadequada, por exemplo.
Na Espanha, a tarifa "feed-in", agora ajustada trimestralmente, é de cerca de US$ 0,39 por kilowatt-hora para usinas solares autônomas, e um pouco mais para os painéis instalados em telhados.
Mesmo com incentivos reduzidos e com a crise econômica local, o setor da energia solar deu a Puertollano, potencialmente, um novo futuro econômico. O desemprego, em torno de 10%, pelo menos não voltou a 20%. Uma recém-inaugurada usina termossolar da gigante espanhola Iberdrola, com capacidade para 50 megawatts, criou centenas de postos de trabalho.
Embora as minas de carvão ainda pontilhem a paisagem, e uma indústria petroquímica continue sendo um dos maiores empregadores de Puertollano, a nova usina solar fica bem ao lado, com mais de 100 mil espelhos parabólicos em cerca de 160 hectares de uma antiga lavoura. Limpa e branca como um hospital, a usina transforma silenciosamente a luz do sol em eletricidade para a Espanha.


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