São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Poluição pode virar cimento

Por CLAIRE CAIN MILLER
MOSS LANDING, Califórnia - Parece alquimia: uma nova empresa do Vale do Silício, a Calera, descobriu como capturar o dióxido de carbono das usinas a gás e carvão e prendê-lo no cimento. Se funcionar em larga escala, será como transformar carbono em ouro.
As fábricas de cimento e as usinas termoelétricas a carvão estão entre as principais fontes de emissão de carbono nos EUA. Há hoje grande pressão para que as empresas contenham suas emissões de gases-estufa, e uma tecnologia como essa pode se popularizar.
"Com isso, o carvão pode ser mais limpo do que [a energia] solar e eólica, porque estas só podem ser neutras em carbono", disse Vinod Khosla, bilionário do Vale do Silício cuja empresa de investimentos, a Khosla Ventures, pôs cerca de US$ 50 milhões na Calera. Recentemente ela anunciou que a Peabody Energy, maior empresa mundial de carvão, aplicou US$ 15 milhões.
Mas alguns especialistas em carvão duvidam que a Calera possa produzir grandes quantidades de cimento que seja durável e benigno para o meio ambiente. "As pessoas há 15 anos buscam como fazer isso", disse Ken Caldeira, cientista sênior do Instituto Carnegie para as Ciências, da Universidade Stanford. "A ideia de que eles vão aparecer com algo econômico e aplicável em [larga] escala? Sou cético."
A Calera diz que, ao transformar carbono em material de construção, a redução da emissão de carbono se tornará economicamente atraente até mesmo em lugares onde não há subsídios ou impostos sobre o carbono. "Neste caso, é na verdade um centro de lucro", disse Brent Constantz, fundador e executivo-chefe da Calera.
A empresa diz combinar o dióxido de carbono com água do mar ou água salobra do subsolo, que contém cálcio, magnésio e oxigênio. Sobram carbonato de cálcio e carbonato de magnésio, que são usados na fabricação de cimentos e agregados.
Em Moss Landing, uma enorme usina energética a gás natural, de propriedade da Dinegy, cospe uma fumaça cinzenta, cheia de dióxido de carbono. A Calera bombeia a fumaça para um contêiner azul, onde a água tirada do mar, perto dali, é pulverizada no gás, produzindo um líquido leitoso.
Esse líquido é levado para um gigantesco coador, que separa os sólidos da água e expele uma substância branca parecida com creme dental. O ar quente -o calor emanado pela fumaça da chaminé- transforma a pasta em pequenas partículas de cimento e agregado. A Calera planeja dessalinizar a água restante e vendê-la.
Passar da usina piloto será o próximo desafio. "As pessoas têm a impressão de que o setor de energia é como o setor de TI, que basta fazer um iPhone e de repente ele estará em todos os lugares, mas não é o caso", disse Joseph Romm, pesquisador do Centro para o Progresso Americano e editor do influente blog Climate Progress. "É preciso construir infraestrutura demais."


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