São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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TAREQ AL FADHLI

Ex-jihadista agora ergue bandeira dos EUA

Por ROBERT F. WORTH
ÁDEN, Iêmen - Não é sempre que se vê um velho companheiro de Osama bin Laden hasteando a bandeira americana na frente de sua casa. Mas lá está, num vídeo, Tareq al Fadhli, herói das campanhas jihadistas no Afeganistão e no sul do Iêmen, erguendo recentemente o pavilhão das estrelas e listras no pátio da sua casa, não muito longe de Áden. Na sequência, Al Fadhli aparece solenemente de pé, ouvindo o hino nacional dos Estados Unidos, que toca num aparelho de som.
O vídeo, disseminado pela internet, tem ajudado a redefinir a persona pública de um homem que, como ex-guerrilheiro islâmico, político governista e agora aspirante a aliado americano no Iêmen, está no centro da turbulenta história recente desse país. O caso também irrita profundamente o governo iemenita, que rotula Al Fadhli como um dos mais perigosos terroristas locais.
Lembrado da acusação, Al Fadhli riu e contou que jamais havia sido acusado de terrorismo até o ano passado, quando aderiu ao crescente movimento separatista do sul do Iêmen e se tornou adversário do veterano presidente do país, Ali Abdullah Saleh.
"Estive no partido governista deste país por 15 anos", afirmou ele. "Eu estive na autoridade máxima -entrava no Palácio Republicano sem hora marcada-, e ninguém jamais me acusou de uma coisa dessas. Mas, agora que aderi ao Movimento Sulista, eles dizem isso. E não é verdade."
Al Fadhli fez uma insolente oferta de colocar suas conexões jihadistas a serviço dos EUA. "Quando lutei com Osama bin Laden no Afeganistão, não havia bombas contra civis, e eu jamais as teria apoiado", disse ele. "Os americanos eram nossos aliados na época, e o que estou fazendo hoje, ao hastear a bandeira americana, é uma continuação dessa velha aliança."
Al Fadhli é oriundo de uma das famílias mais proeminentes do sul e diz que já não aguentava mais o tratamento injusto do governo à sua terra natal. Ele e outros líderes do Movimento Sulista acusam o governo, sediado no norte, de discriminar o sul e pilhar sua riqueza petrolífera.
Apesar de todo o seu passado jihadista, dizem vários conhecidos, Al Fadhli é um sujeito tranquilo, que gosta de uísque escocês e tem pouca simpatia por extremistas.
Em 1987, aos 19 anos, foi lutar no Afeganistão. Como muitos iemenitas, sua guerra era movida menos pela religião do que por um desejo de punir os comunistas por terem tomado o Iêmen do Sul. Nos três anos seguintes, ele lutou, ficou amigo de Bin Laden e foi ferido em Jalalabad, segundo ele.
No começo da década de 1990, Iêmen do Norte e do Sul se unificaram, e Al Fadhli voltou para casa para iniciar o longo processo de recuperar as terras da sua família.
As relações entre norte e sul logo azedaram, e, em 1994, uma breve guerra civil estourou. Al Fadhli, que estava preso por suspeita de tentar matar uma autoridade socialista, foi solto sob a condição de reunir os seus velhos amigos jihadistas para ajudar a combater os socialistas do sul.
Assim ele fez, no que recebeu muita ajuda do velho amigo Bin Laden, o qual empregava sua vasta fortuna familiar para fornecer armas, munição e combatentes do exterior. (Tanto Bin Laden quanto Al Fadhli foram apontados como suspeitos de envolvimento no atentado de 1992 contra dois hotéis em Áden. Al Fadhli negou que isso seja verdade.)
Após a vitória do norte, ele viajou ao Sudão no final de 1994 para uma última visita ao líder da Al Qaeda. "Eu o agradeci por seu apoio", disse Al Fadhli.
Embora ele deplore o 11 de setembro de 2001, atentados e o terrorismo em geral, Al Fadhli mantém algum afeto por seu antigo camarada. "Pessoalmente gosto desse homem, dessa personalidade legendária, que está enfrentando o mundo em uma guerra universal ainda agora", disse ele.
De todos os papéis que Al Fadhli desempenhou, o de sultão hereditário parece mais próximo do seu coração. "A terra é a minha identidade."

"Quando eu lutava com Osama bin Laden no Afeganistão, não havia bombas contra civis"


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