São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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SAM SHEPARD

Dramaturgo e ator envelhece e burila sua visão

Por PATRICK HEALY
Quando Sam Shepard dirigiu, em 1985, a produção original "off-Broadway" de sua peça "A Lie of the Mind" (no Brasil, "Mente Mentira"), sobre rapazes emocionalmente feridos e as mulheres prejudicadas de suas vidas, a produção durou inicialmente seis horas. Sua última peça, "Ages of the Moon" (idades da lua), sobre dois homens emocionalmente feridos na faixa dos 60 anos, dura cerca de 80 minutos.
Em outras palavras, o tempo começou a fugir no cânone de Shepard, e o dramaturgo talvez não esteja mais em paz com isso.
"Vejo minhas peças antigas como parentes claudicantes das que faço hoje, para ser franco, e não tenho muito interesse por aquelas peças", disse Shepard, que também é ator. E acrescentou: "Passei a sentir que, se não pudesse fazer uma coisa acontecer em menos de uma hora e meia, ela não aconteceria de forma poderosa em uma peça de três horas".
Shepard, que ganhou o Prêmio Pulitzer de teatro em 1979 por "A Criança Enterrada", também é autor de 40 outras peças. Sempre foi um escritor econômico, mesmo quando seus homens de poucas palavras demoram três atos para dizê-las. Hoje, aos 66 anos, ele mergulha cada vez mais em uma reflexão vigorosa e sucinta em "Ages of the Moon", centrada em uma dupla de amigos, Ames e Byron, que falam sobre perdas e arrependimentos.
"Ages" fez parte de uma temporada movimentada e reflexiva para Shepard. "Mente Mentira" teve sua primeira remontagem fora da Broadway. Em janeiro, a editora Alfred A. Knopf publicou uma nova coletânea de seus contos, poemas e esboços narrativos, "Day Out of Days". E logo ele começará a rodar mais um filme, interpretando um Butch Cassidy mais velho em "Blackthorn".
Ter uma nova peça e uma grande remontagem ao mesmo tempo foi um momento de aprendizado para Shepard: uma oportunidade de refletir sobre onde ele esteve e onde está hoje.
Em meio à introspecção de "Ages", está o papel óbvio -mas não mencionado- que o álcool teve na dissipação de Ames.
Shepard disse que ficou sóbrio no final de janeiro de 2009, algumas semanas depois de ser preso, acusado de dirigir em excesso de velocidade e sob a influência do álcool. Ele se declarou culpado e teve de pagar uma multa, terminar um tratamento contra o álcool e realizar serviços comunitários.
"Continuo lutando contra isso", disse Shepard. "Às vezes você usa a desculpa 'Eu sou um escritor, droga, posso fazer o que quiser', mas não funciona."
Shepard, que vive com a atriz Jessica Lange desde a década de 1980, já está trabalhando em uma nova peça que provavelmente será mais longa que os 80 minutos de Ages, mas não muito.
"Existe uma aura de que uma peça em três atos é importante, é aquela que você faz para ganhar o Pulitzer", ele disse. "Uma parte de você cai nessa, e depois de algum tempo você não cai mais. O que estou buscando é algo diferente de dar às pessoas a ideia de que estou escrevendo uma peça importante. Nesta altura, estou escrevendo para mim."

"Se eu não puder fazer uma coisa acontecer em menos de uma hora e meia, não vai acontecer de uma forma poderosa em uma peça de três horas"


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