São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Vinhos finos atraem a atenção de investidores

JOHN TAGLIABUE

GENEBRA - Um simples anúncio imobiliário na internet chamou a atenção de Filip Opdebeeck em 2007: "Caixa-forte para alugar".
A caixa-forte revelou ser uma casa-forte de três cômodos no subsolo de um dos muitos bancos em Genebra, centro financeiro suíço. Um cômodo fora construído originalmente para guardar arquivos de bancos, outro para certificados de ações, e o terceiro, para ouro.
Hoje a casa-forte, que tem 975 m2 e fica a 9 m de profundidade, guarda um tipo diferente de investimento: cerca de 40 mil garrafas de vinho, em sua maioria de portfólios pertencentes a banqueiros, diplomatas, profissionais liberais e outras pessoas que apreciam um cálice de Saint Émilion, Romanée Conti ou Mondavi.
As prateleiras recém-instaladas da casa-forte, que lembram as de uma biblioteca, contêm em sua maioria vinhos franceses da região de Bordeaux, mas também vinhos de Itália, Chile, Argentina, Austrália e Califórnia. Opdebeeck estima a capacidade do espaço em cerca de 100 mil garrafas.
Economistas do vinho -como Philippe Masset, da Escola de Hotelaria de Lausanne- dizem que a inclusão de vinhos em um portfólio de investimentos é cada vez mais comum, especialmente vinhos de prestígio, como os tintos da região francesa de Bordeaux. O valor dessas bebidas não parou de subir, disse, mesmo durante a crise econômica de 2008.
"O vinho oferece retornos maiores que as ações, além de permitir diversificação", prosseguiu Masset. Quanto à casa-forte de Opdebeeck, opinou: "É uma anedota, mas é sintomática de uma realidade".
Algumas pessoas não têm tanta certeza assim quanto ao aspecto de investimento do vinho. "É uma liquidez, obviamente", disse Michel Dérobert, secretário-geral da Associação Suíça de Banqueiros Privados. Os amantes do vinho têm dinheiro, disse; portanto, eles gastam mais e os preços sobem. "Não se trata de uma tendência."
Opdebeeck está levando Genebra a consumir vinhos finos. Em certo sentido, diz ele, seu negócio é semelhante ao dos bancos, sendo que as garrafas de vinho funcionam como depósitos, ou garantias. Ele dá conselhos de investimento (quais vinhos comprar) e uma Bolsa de vinhos on-line, onde seus clientes podem fazer lances, comprar e vender suas garrafas com finalidades lucrativas ou por pura diversão.
"Sou como um banqueiro: tenho um portfólio, mas não tenho garrafas demais, porque, como digo a meus clientes, vinho é para ser tomado", disse Opdebeeck, conduzindo um visitante pela casa-forte, após abrir sua porta de aço de duas toneladas. "Pergunto a meus clientes: 'Você quer alto risco? Então compre 12 garrafas e beba seis'."
Opdebeeck, 30, nasceu no Brasil, filho de pais belgas, e passou sua vida adulta na Suíça. Ele batizou sua empresa de Au Bonheur du Vin -algo como "À Felicidade Proporcionada pelo Vinho"-, nome que tirou de uma operação semelhante existente em Paris e que ecoa um romance de Zola, "O Paraíso das Damas", sobre um comerciante que projeta uma loja deslumbrante para persuadir as mulheres a gastar.
Se sua ideia nasceu em Paris, em nenhum lugar ela encontrou mais aceitação que em Genebra. "É uma cidade pequena", disse. "Todo o mundo conhece todo o mundo." E há muitos banqueiros ricos que são apreciadores de vinhos.
Diariamente, o iPhone de Opdebeeck registra várias mensagens de clientes pedindo que acrescente um Haut-Brion ou um Château d'Yquem a seus portfólios. Em se tratando da Suíça, os portfólios não têm nomes -só números.
Clientes que vivem em Genebra lhe enviam mensagens, pedindo que entregue uma caixa de vinho a suas casas ou escritórios. Certa tarde, Opdebeeck foi visto subindo a colina em direção ao Palácio de Justiça. Um corretor de commodities queria uma caixa de vinhos franceses, e Opdebeeck a levou até ele em seu carrinho de duas rodas.
A casa-forte fica no coração do distrito dos bancos, repleto das instituições financeiras que constituem a espinha dorsal da vida econômica da cidade.
Bruno Gueuning, 50, há uma década comanda diversos empreendimentos ligados a vinhos em Genebra e acaba de abrir uma companhia que trabalha com vinhos de Bordeaux. A safra 2009 de Bordeaux promete ser uma das melhores desde 2005, disse ele, e os preços estão subindo sem parar.
Gueuning aconselha os banqueiros de Genebra, e também Opdebeeck, a ficar de olho na Ásia. "A safra de 2009 vai valer muito mais que a de 2005, nem que seja apenas para atender à demanda de especuladores chineses", disse ele. "Os chineses são jogadores."


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