São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

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LENTE

Lições dos macacos para a vida no escritório

O trabalho sempre foi estressante. Pergunte a um escravo do Egito antigo ou a um servo da Idade Média. Mas embora poucos de nós carreguemos pedras pelo deserto ou labutemos em campos feudais, as modernas pressões profissionais acarretam suas próprias ameaças à saúde e ao bem estar.
Veja a falta de tempo. Como escreveu Tony Schwartz no "The New York Times", "a pressão para estar sempre conectado cobrou um preço sobre o tempo que antes dedicávamos instintivamente à renovação e à recarga".
Ele propõe que o tempo do descanso, e até os cochilos, sejam incorporados à jornada de trabalho, porque empregados movidos a cafeína e estresse "se tornam mais reativos [...] e impulsivos".
Infelizmente, acrescentou ele, essas idéias parecem contrariar a lógica na maioria dos locais de trabalho hoje.
Exceto no que tange ao cochilo, os trabalhadores podem se defender tolhendo a autocrítica.
O "Times" noticiou que quem demonstra mais autocompaixão sofre menos de depressão e ansiedade, e lida melhor com as dificuldades no trabalho.
Kristin Neff, professora associada de desenvolvimento humano na Universidade do Texas, em Austin, disse ao "Times" que "a maioria das pessoas aprendeu errado, porque a nossa cultura ensina que o certo é ser sempre duro consigo mesmo".
Os sul-coreanos sabem bem como é isso. As pressões profissionais e acadêmicas são tão avassaladoras que o país "está à beira de um colapso nervoso nacional", escreveu Mark McDonald no "Times".
"Falar abertamente sobre os problemas emocionais ainda é um tabu", disse Kim Hyong-soo, psicólogo da Universidade Chosun, em Kwangju.
O que não é tabu, escreveu McDonald, é um ambiente de trabalho machista e implacável, aliviado somente por bebedeiras igualmente competitivas depois do expediente.
Mesmo sem a ressaca, a política disfuncional do escritório pode encurtar a sua vida. Como relatou o "Times", um estudo da Universidade de Tel Aviv concluiu que pessoas que sentiam pouco ou nenhum apoio emocional dos colegas tinham 2,4 vezes mais probabilidade de morrer ao longo dos 20 anos da pesquisa.
E também pode não ser fácil para o seu chefe. Desde que ele seja parecido com um babuíno. Um estudo da Universidade de Princeton com macacos no Quênia mostrou que os machos alfas sofriam tanto com o estresse quanto os membros dos escalões baixos da sociedade primata.
Os menores níveis de estresse, noticiou o "Times", eram dos machos betas, "que lutavam menos e tinham consideravelmente menos parceiras para guardar".
Então talvez os humanos devessem parar de ambicionar ter o cargo de executivo-chefe, e se contentar com o posto de vice-presidente.
Outro bando de babuínos do Quênia também pode ensinar algo sobre a experiência no ambiente de trabalho.
Esse grupo perdeu todos os seus machos mais dominantes e beligerantes depois de atacar um bando de rivais e comer carne contaminada.
Como contou Natalie Angier no "Times", "com essa mudança demográfica veio uma guinada cultural na direção do pacifismo, um relaxamento da geralmente perigosa hierarquia babuína, e uma disposição para usar o afeto e os cuidados mútuos em vez das ameaças, das pancadas e das mordidas".
A mudança manteve-se na geração seguinte.
Moral da história: se o seu supervisor escravagista o trata como servo, cogite um golpe, ou reze por uma praga.

KEVIN DELANEY
Para comentários, escreva para
nytweekly@nytimes.com.



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