São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Líderes russos são obcecados por pesquisas de opinião do eleitorado

Pesquisas de opinião orientam decisões políticas do Kremlin

Por ELLEN BARRY

MOSCOU - Por mais estranho que pareça, as pessoas que governam a autocrática Rússia são obcecadas por índices de aprovação e pesquisas de opinião.
A concorrência política no país foi praticamente extinta desde que Vladimir Putin chegou ao poder, mas pessoas ligadas ao Kremlin consideram a popularidade algo crucial para a sobrevivência de um governo que, 20 anos após o colapso soviético, se baseia mais na personalidade dos seus líderes do que em instituições estáveis.
Por isso, as pesquisas se tornaram parte essencial das atividades de governo. Elas serão importantes na decisão sobre quem será o próximo presidente -Putin ou Dmitri Medvedev, atual ocupante do cargo-, e como a campanha será conduzida por suas equipes.
Putin se mantém como a figura dominante na cena política, embora tenha passado de presidente a primeiro-ministro.
"Este sistema que se desenvolveu ao longo de dez anos se baseia no apoio da opininao população", disse Aleksandr Oslon, presidente da Fundação Opinião Pública, que há 15 anos envia relatórios semanais ao Kremlin.
A empresa de Oslon é uma das muitas que realizam pesquisas para o Kremlin e outros órgãos governamentais, incluindo um questionário periódico respondido por 60 mil russos, e uma pesquisa semanal com 3.000 pessoas, na qual constam questões confidenciais, partilhadas apenas pelas equipes de Medvedev e Putin.
Outros institutos buscam identificar como declarações e medidas políticas ecoam junto a diferentes segmentos da sociedade.
Eles ajudaram Medvedev a preparar o seu mais recente pronunciamento anual, em que trocou seu tema habitual, a modernização, pelo bem-estar infantil. E as pesquisas ajudam também a moldar aparições públicas como a meticulosa defesa de Medvedev na TV sobre seu papel na guerra de 2008 contra a Geórgia, o que lhe rendeu um aumento significativo de popularidade.
Tanto Putin quanto Medvedev estão entrando na fase de campanha com índices de aprovação que -embora invejáveis pela maior parte dos padrões internacionais- estão menores do que em qualquer outro momento desde 2008, segundo o instituto estatal Centro Pan-Russo de Opinião Pública. Mais notável ainda é a queda na popularidade do Rússia Unida, o partido de Putin.
Uma opção para reverter a situação seria retomar o chamado "fenômeno Putin". Um fator que levou à escolha de Putin como presidente foi uma pesquisa que mostrou que as figuras mais admiradas pelos russos eram os personagens "durões" da ficção, disse Igor Zadorin, que comandou o departamento interno de sociologia do Kremlin.
O índice de aprovação de Putin subiu quando ele esmagou a resistência na Tchetchênia e subjugou oligarcas rebeldes.
Sergei Markov, deputado do Rússia Unida, diz que a "maioria passiva" da Rússia iria reagir a uma demonstração de força semelhante neste ano, desta vez voltada contra os narcotraficantes, a criminalidade e a decadência moral. Embora alguns, observou ele, preferissem que o alvo fosse a "hegemonia americana".
O argumento contrário vem de um grupo liberal de cientistas sociais, segundo os quais os dados mostram que o público deseja um modelo político mais aberto e competitivo.
O economista Mikhail Dmitriiev alertou para um aumento "bastante anormal" do descontentamento que ele observou inicialmente entre moscovitas de classe média, e que depois foi registrado em outras grandes cidades.
Ele resumiu a mensagem fundamental do que viu nos dados com uma frase russa: "Mi nie bidlo" -"Não somos gado".


Texto Anterior: Paquistão silencia separatistas balúchis
Próximo Texto: Dinheiro e Negócios
O dinheiro dos EUA no exterior

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.