São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

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Dinheiro e Negócios

O dinheiro dos EUA no exterior

Por STEVEN M. DAVIDOFF

A Apple tem um problema de caixa. Não é apenas que ela tenha dinheiro demais, US$ 76 bilhões em 30 de junho. São principalmente os US$ 41 bilhões que ela mantém no exterior.
A Apple não quer trazê-los de volta para os Estados Unidos, basicamente por causa das consequências fiscais, mas também por causa de sua crescente presença no estrangeiro. Esse problema é crescente na América corporativa. Em um relatório de maio passado, a JPMorgan Chase estimou que 519 empresas multinacionais americanas tinham US$ 1,375 trilhão fora dos Estados Unidos. O problema é agudo entre as companhias de tecnologia, que tendem a acumular caixa por causa da natureza cíclica de seus negócios.
A agência Moody's notou que a Microsoft detinha US$ 42 bilhões no exterior, ou mais de 80% de seu caixa. A Cisco Systems tem US$ 38,8 bilhões, ou quase 90% de seu dinheiro. A Google tem quase US$ 40 bilhões em caixa, com mais de 43% no exterior.
Para as multinacionais, o dinheiro ganho e pago nos EUA é submetido a um imposto sobre lucros que pode chegar a 35%. As companhias podem deduzir desse imposto os impostos pagos no exterior, mas ainda assim pagariam uma taxa alta.
E muitas empresas americanas querem manter o dinheiro no exterior para se concentrar em regiões de alto crescimento para investimentos e aquisições.
Um estudo recente da Standard & Poor's descobriu que 50% das vendas das companhias do índice de ações S&P 500 estão fora dos EUA. O relatório também revelou que essas empresas pagaram mais impostos para outros países do que para o governo dos EUA. A Apple tem 60% de suas vendas no exterior, e, como essas outras companhias, suas vendas externas deverão crescer.
A política fiscal atual distorce as práticas das empresas americanas. Um motivo pelo qual a Microsoft comprou a Skype foi porque ela fica em Luxemburgo. A Microsoft poderia usar seu dinheiro externo para fazer essa aquisição sem ter de repatriá-lo aos EUA.
Muitas companhias americanas trazem dinheiro para o país todo trimestre, mas depois o enviam de volta para o exterior para evitar que ele seja contado como dividendo reinvestido.
Em 2004 o Congresso dos EUA aprovou a Lei Americana de Criação de Empregos, um "feriado" fiscal para as empresas repatriarem dinheiro. O imposto sobre dividendos foi reduzido de 35% para 5,25%. Em troca, o Congresso exigiu que qualquer dinheiro repatriado fosse investido nos EUA. Esse dinheiro não poderia ser usado para pagamento de dividendos ou recompra de ações.
Um estudo descobriu que no ano seguinte à aplicação da lei as repatriações aumentaram US$ 230 bilhões em relação ao ano anterior, atingindo US$ 299 bilhões.
Somente cinco companhias - Pfizer, Merck, Hewlett-Packard, Johnson & Johnson e IBM- repatriaram US$ 88 bilhões. Mas em vez de aumentar o investimento as empresas de modo geral repatriaram o dinheiro e usaram seus ativos nos EUA para pagar dividendos ou recomprar de ações.
Os acionistas depois gastaram esse dinheiro, por isso o feriado fiscal pode ter estimulado a economia, embora um serviço de pesquisa do Congresso tenha descoberto que as empresas que repatriaram mais dinheiro na verdade cortaram empregos em relação a 2004-6.
A lei também teve um efeito pernicioso. As companhias americanas hoje acumulam dinheiro e esperam para repatriá-lo, acreditando que algum dia o Congresso declare outro feriado fiscal.
Por que jogar esse jogo? O Congresso poderia diminuir o imposto. O mundo é global, e evitar a entrada de dinheiro dessa maneira é irreal. O mais importante é que mais dinheiro voltaria para os EUA, pondo fim às distorções que levam cada vez mais investimentos para o exterior. Uma redução fiscal permanente cortaria os impostos e aumentaria a receita.
Mesmo que o dinheiro fosse gasto em recompras e dividendos, e uma grande parte fosse mantida no exterior, ainda seria razoável esperar que US$ 300 bilhões a US$ 600 bilhões fossem repatriados.
O governo Obama se opôs a essa redução fiscal, mas poderia reconsiderá-la. Ela permitiria que as grandes multinacionais americanas gastassem com maior liberdade, algo necessário em uma economia em dificuldades.


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