São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Iraquianos aderem a carro que impõe respeito e soberania

Por ROD NORDLAND

BAGDÁ — Em um país com ao menos 20 mil Humvees (veículo militar) e uma população cansada de guerra, quem poderia imaginar que existiria mercado para a versão civil do veículo —o Hummer?
Ali al Hilli imaginou. Agora, ele e seu irmão Dhafir dirigem uma revendedora especializada em Hummers.
Não importa que a GM, dona da linha Hummer, possa parar a produção ou vender a marca. “Os iraquianos gostam dos Hummers porque são um símbolo de poder”, disse Hilli, 37, ele próprio dono de um dos carros. Os Hummers em Bagdá representam muito mais do que potência: aumento da segurança, volta à normalidade e desejo por objetos que denotem a soberania iraquiana.
Os irmãos Hilli tiveram a ideia há dois anos, no auge da violência sectária no país. “Mesmo se nós importássemos as caminhonetes, na época ninguém ousaria dirigir uma delas”, disse Ali al Hilli.
Os insurgentes atacavam qualquer coisa que parecesse estrangeira, especialmente uma cópia de um veículo militar americano.
Mas então a guerra começou a diminuir, e, há cerca de um ano, os irmãos acharam um leilão on-line de carros seminovos nos EUA. Eles deram o lance mais alto em um Humvee H3, que transportaram de avião, passando por Dubai (Emirados Árabes Unidos), e pouco depois compraram um segundo. “Todo o mundo achou que éramos loucos”, Hilli relatou. “Ou as pessoas pensavam que fôssemos funcionários do governo iraquiano”, que têm mais dinheiro para comprar veículos desse tipo.
No começo, os Hummers não atraíam interesse. Então os irmãos começaram a dirigir os carros por seu bairro de Khadimiya, que tinha sido alvo de terroristas por tanto tempo que estava cercado por muros e relativamente seguro. “Ajudou o fato de que em Khadimiya não se tinha uma opinião tão ruim dos americanos”, Halli disse. “As pessoas frequentemente pediam aos soldados para parar seus Humvees para tirar fotos na frente deles.”
Os Hummers faziam sua própria publicidade. “Não andávamos um quarteirão sem que pessoas nos parassem para perguntar ‘o que é isso?’”, disse Halli. “Parecíamos astronautas.”
Logo as condições melhoraram a ponto de os irmãos poderem dirigir por toda a cidade. Os Hummer H3 começaram a vender rapidamente, por US$ 50 mil a US$ 60 mil cada. Os irmãos contaram que já venderam mais de 20 H3s, mais ou menos um a cada dez dias, apesar da queda no preço do petróleo e da turbulência econômica. Seus maiores clientes costumam ser funcionários do governo.
Segundo Hilli, “no Iraque as pessoas julgam você por seu carro, e você não é homem se não tiver um”.
Nos primeiros anos da guerra, o alvo de cobiça dos iraquianos era a BMW série 3, até esta ficar marcada como o carro de fuga mais usado pelos insurgentes. “Agora, os iraquianos estão obcecados com o Hummer”, disse Dhafir al Hilli, 38.


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Armamentos feitos para exibir, e não só para lutar

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