São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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Quando a dor aparece, escute seu corpo

É preciso aprender a levar a sério a voz que diz "pare", mas até que ponto?

Por GINA KOLATA

Um triatleta que é meu colega no "New York Times" tem uma pergunta a fazer: "Todo o mundo nos manda ouvir nosso corpo, mas devemos ouvir o quê, exatamente?".
Não é tão evidente quanto possa parecer.
Deena Kastor, que detém o recorde americano na maratona, interpreta o conselho de maneira seletiva. "Correr nem sempre é confortável", disse ela. "Eu me recordo de correr sentindo muito incômodo e dor."
E, acrescentou, ela também corre quando não sente vontade. "Tantas vezes o despertador soa pela manhã, e você diz a si mesmo que está cansado demais para levantar", disse ela. Mas, se você ignora essas mensagens de seu corpo e simplesmente levanta e vai correr ou praticar outro esporte, "esses são os dias dos quais temos mais orgulho".
"O truque está em ouvir seu corpo para saber o que você pode suportar", disse ela. "Se você sente uma dor aguda, deve cuidar dela."
Então ouvir o próprio corpo significa aprender a entender a diferença entre a dor aguda, que assinala lesão séria, e a dor mais leve, que pode ser ignorada? E, se sim, por que atletas como Kastor já sofreram lesões sérias?
No ano passado, Kastor quebrou seu pé cerca de cinco quilômetros depois de iniciar a maratona nas Olimpíadas de Pequim. Na mesma prova, Paula Radcliffe, detentora do recorde mundial na maratona feminina, não deu o melhor de si porque seu treinamento foi interrompido por uma fratura de estresse.
Talvez o problema seja que é difícil entender o que nosso corpo nos diz.
"'Ouça seu corpo' é sempre um conselho difícil de seguir", disse Keith Hanson, treinador do Projeto Hanson-Brooks de Distância, que recruta corredores de longa distância de talento nos EUA e lhes dá apoio para que possam treinar em tempo integral.
Um de seus corredores, Brian Sell, esteve nas Olimpíadas de Pequim, e outros participam de provas internacionais.
"Existem várias dores agudas ou difusas com as quais se pode continuar a correr, enquanto outras requerem um tempo de descanso", disse Hanson. "Se, depois de dez minutos de corrida, você estiver alterando seu passo normal, então o problema é uma contusão ou outra lesão, e não apenas uma dor simples. Nunca se deve correr quando se está machucado.
Se você o fizer, o problema quase sempre se converterá em uma lesão compensatória. Algo que começou como uma dor no tornozelo vira um problema no joelho ou quadril."
Por outro lado, existe uma interpretação diferente do conselho "ouça seu corpo". É um que tem a preferência de Asker Jeukendrup, diretor do Laboratório de Performance Humana na Universidade de Birmingham, Reino Unido. Segundo ele, ouvir seu corpo significa prestar atenção para ouvir "informações valiosas" e aprender a não dar atenção a "outras informações negativas que podem penetrar em seu pensamento e que são irrelevantes".
Ele recomenda, por exemplo, desprezar "algumas sensações de fadiga". O objetivo é impelir seu corpo até o limite, mas não além desse limite. Jeukendrup admitiu que isso é mais fácil de falar do que fazer. E, ele acrescentou, nem todos conseguem fazê-lo.
Meu próprio treinador, Tom Fleming, acha pouco provável que alguém o consiga. Fleming venceu a maratona de Nova York duas vezes e já treinou atletas diversos, desde adolescentes até corredores de ranking nacional. "Nunca ouvi meu corpo", disse ele. "Talvez devesse ter ouvido. Então vamos deixar claro desde já: acho que isso é uma tarefa impossível."
O próprio Fleming disse que não conseguia treinar menos ou se obrigar a correr mais devagar. E, acrescentou, se você realmente der ouvidos a seu corpo, não realizará aquilo de que é capaz. Para ele, os atletas precisam de outra pessoa, se possível um treinador, para lhes dizer quando descansar, quando treinar mais leve e quando se esforçar mais.
Outro colega meu no "New York Times", Charlie Competello, tenta decifrar os sinais que seu corpo lhe envia. Mas ele se confunde, discutindo consigo mesmo sobre o que seu corpo está querendo lhe dizer. Ele visualiza suas discussões internas como um debate entre "Charlie" e "Charles". Os dois discutem pela manhã, quando ele pretende sair para correr.
"'Charlie' fala 'estou cansado e não vou sair'", disse Competello. "'Charles diz 'não, não, você consegue. Vá para a rua e corra.'"
Geralmente, diz ele, Charles sai vencedor. Ele corre e fica feliz por isso.


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