São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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LENTE

A fama já não faz tanto sucesso

Terão os 15 minutos de fama da própria fama acabado?
Como é o caso de outras coisas na recessão atual, a fama parece ter perdido valor. Mas a desvalorização não aconteceu tanto em função da recessão quanto a despeito dela. Afinal, os tempos difíceis costumam elevar a demanda por astros e estrelas e as fantasias escapistas que eles inspiram. Mas não desta vez.
A bolha da celebridade que começou a crescer no final dos anos 1980 -quando publicações que iam da "GQ" à "Cat Fancy" aderiram à ideia de que, para vender mais, bastava colocar um rosto famoso na capa- está dando sinais de estar desinflando. Revistas, anunciantes e estilistas estão deixando de depender tanto da atração das celebridades -fato que foi devidamente notado pelo The Daily Beast, o site de Tina Brown.
Brown, que já editou a "Tatler", "Vanity Fair" e "The New Yorker", ajudou a elevar o perfil do jornalismo de celebridades. Será que não havia um toque de ansiedade na pergunta feita em seu site: "Terá o momento da celebridade chegado ao fim?"?
Os paparazzi talvez tenham razão para achar que sim. Fotos que chegaram a custar 500 libras (US$ 768) nos tablóides ingleses, hoje têm sorte se são compradas por um terço desse valor, disse o "Times" de Londres.
Houve época em que a sede do público era tão grande que qualquer coisa que incluísse uma celebridade encontraria público. "Antes, bastava conseguir uma foto de Jennifer Aniston diante da Starbucks, mas agora não é mais assim", disse ao jornal londrino o editor de revistas Sam Delaney.
O tipo de fotos às quais Delaney aludiu podem ter algo a ver com isso. A superexposição a famosos parecendo e agindo como pessoas comuns -ou abaixo do comum, como em "Celebrity Rehab With Dr. Drew", o reality show americano que mostra celebridades em tratamento contra dependências químicas- pode ter acabado por fazer a própria fama parecer comum demais.
Existe, também, a possibilidade de que tenhamos chegado à era em que pelo menos 15 minutos de fama estão ao alcance de todos. Hoje, basta participar de um reality show ou aparecer em um vídeo no YouTube.
O "New York Times" reportou que os talk shows de TV estão, cada vez mais, procurando convidados entre "as celebridades acidentais de vídeos populares na internet".
Tão corriqueira se tornou a fama que aqueles que a conquistaram por meio de talento legítimo podem ser desculpados pela insegurança. Com o título de seu último filme, "The Expendables" ("Os Mercenários" no Brasil, mas a tradução seria "Os Descartáveis"), Sylvester Stallone pode estar fazendo um comentário malicioso sobre a descartabilidade de astros como ele. E o fato de ter conseguido lotar seu filme de outros astros talvez seja um sintoma disso. A demanda por grandes nomes de Hollywood, e os salários pagos a eles, vêm caindo, e Stallone não é o único diretor a ter retornado de um balcão de pechinchas de elenco com uma cesta repleta de grandes nomes. "Red", filme sobre espionagem, conseguiu incluir 75 astros em seu elenco, segundo Bruce Willis.
O excedente de astros em filmes pode ser um lado positivo da desvalorização da fama. Outro resultado é algo que nos afeta mais. Drew Pinsky, que apresenta "Celebrity Rehab", manifestou a preocupação de que nossa obsessão com a celebridade equivalha a uma crise de saúde pública. Mas a desvalorização que seu programa ajudou a provocar talvez signifique que a reabilitação do próprio público já esteja bem encaminhada.


Envie comentários para nytweekly@nytimes.com.



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