São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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DIÁRIO DE ESTOCOLMO

Família Real precisa mais do que um casamento de contos de fada

Antimonarquistas suecos prometem tratamento suave para o rei

Por JOHN TAGLIABUE
ESTOCOLMO - Duas dúzias de membros de uma associação para abolir a monarquia estavam sentados em volta de uma mesa em um apartamento amplo em Estocolmo quando alguém no fundo da sala resmungou: "Duzentos anos já se passaram desde a Revolução Francesa, e nós ainda temos um rei".
Em outros tempos e outros lugares esses candidatos a regicidas talvez fossem perseguidos pelos agentes do rei. Aqui na tolerante Suécia, eles estão em franco crescimento.
De fato, o número de membros da Associação Republicana Sueca vem aumentando tanto nos últimos meses -de 2.500 um ano atrás para 7.300 hoje- que a reunião tinha sido convocada para discutir várias propostas ambiciosas, entre elas a abertura de um escritório, a fundação de um jornal antimonarquista e a formação de um movimento antimonarquista pan-europeu.
O grupo vê a possibilidade de criar filiais nos sete países regidos por monarcas, incluindo Reino Unido, Holanda, Espanha e os vizinhos da Suécia, Dinamarca e Noruega.
"O apoio à monarquia está diminuindo na Europa", disse a secretária geral da associação, Mona Abou-Jeib Broshammar.
É verdade que 7.300 membros não é muito em um país de 9 milhões de habitantes, mas o crescimento da associação é notável, levando-se em conta que a Suécia se encontra na crista de uma onda de sentimento monarquista, na esteira do casamento de contos de fadas da princesa herdeira Victoria, 33, com seu ex-personal trainer, em junho.
Milhares de pessoas lotaram a capital para assistir à parada do casamento, e milhões a acompanharam pela televisão. Lojas em todo o país venderam artigos com o retrato do casal sorridente.
Mesmo em meio à euforia monárquica, dúvidas continuaram no ar. O maior jornal sueco, "Aftonbladet", criou uma equipe para cobrir o casamento, mas complementou as fotos coloridas e a cobertura elogiosa da corte real com editoriais, artigos de opinião e charges com críticas à monarquia.
Na primavera passada o instituto SOM de pesquisas publicou resultados de um levantamento mostrando que o apoio popular à monarquia caíra de 68%, seis anos antes, para 56%.
Susanne Nylen, que comandou a equipe que fez a cobertura do casamento, disse: "Eu vejo que a monarquia não condiz com a democracia e entendo a razão de as pessoas serem contra ela. Mas os monarcas são bons quando se trata de representar a Suécia; dificilmente se conseguiria publicidade semelhante com um presidente."
Lennart Nilsson, do Instituto SOM, disse que a confiança na família real vem caindo a cada ano que passa desde que o instituto começou a medi-la, em 1995. "Ela continua em queda", acrescentou.
Apesar disso, ele não vê da parte da sociedade urgência em mudar a situação. Em setembro os suecos irão às urnas para votar nas eleições nacionais, mas a monarquia não será uma das questões em pauta. "Outras questões são muito mais urgentes", disse Nilsson, coisas como empregos, educação e saúde.
Magnus Simonsson, membro do Partido Liberal e da associação, diz que, se a Associação Republicana Sueca depuser a monarquia algum dia, ela promete tratar o rei com leniência.
"Ele seria mais livre do que é hoje", disse, sorrindo. "E, é claro, poderá permanecer na Suécia."


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