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São Paulo, segunda-feira, 06 de dezembro de 2010

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LENTE

Ouro: as "lágrimas do sol"

Desde faraós egípcios a imperadores romanos, reis medievais a conquistadores espanhóis, príncipes mongóis a dinastias chinesas, sem falar em todos os joalheiros e cunhadores de moedas que trabalhavam para eles, os humanos sempre demonstraram uma ligação atávica com o valor do ouro.
A pergunta simples é "por quê?". A resposta simples oferecida por um designer de festas nova-iorquino é: "O ouro é quente. É uma cor que faz você se sentir bem", disse David Monn ao "New York Times".
E, se você foi esperto e investiu no metal descrito na antiguidade como "lágrimas do sol" antes do aumento recente em seu preço, deve estar muito satisfeito com seu tino para investimentos. O valor da onça de ouro quase dobrou nos últimos dois anos, e a alta recente elevou o ouro a mais de US$ 1.400 em outubro.
A despeito de tudo o que vem sendo veiculado sobre "preços recordes do ouro", contudo, o custo atual do metal não está nada perto do recorde quando se leva em conta a inflação, como observou recentemente David Leonhardt, o colunista econômico do "Times". O recorde real foi fixado 30 anos atrás, quando o preço de uma onça de ouro chegou a US$ 2.387, cerca de 70% acima dos US$ 1.385 em que fechou em 30 de novembro.
Os receios de inflação estão sendo alimentados pelo anúncio feito pelo Federal Reserve de que vai imprimir US$ 600 bilhões e injetá-los no sistema bancário.
Isso levou James Grant, autor de "Money of the Mind" e editor da revista bimensal "Grant's Interest Rate Observer", a pedir o retorno a um tempo mais simples: "que os economistas se espantem: o mundo precisa agora é do padrão-ouro clássico, aquele que vigorou entre 1880 e 1914. Por sua utilidade, sua economia e sua elegância, nunca houve sistema monetário igual", escreveu Grant no "Times".
Seu argumento é baseado no princípio de que seria mais fácil confiar em um mercado que definisse para o dólar um valor relativo avalizado pelo ouro, em lugar de ser definido pelo pequeno exército de economistas com Ph.D. que trabalham no Federal Reserve, os responsáveis pela definição da política monetária.
Como escreveu Floyd Norris, colunista financeiro do "Times", a alta dos preços do ouro reflete "em primeiro lugar um sentimento de consternação diante do estado atual da economia mundial, e a conclusão de que as elites que comandam essa economia não sabem o que fazem".
Pode haver perigos que passam despercebidos dos burocratas anônimos que tomam decisões que influenciam a economia, mas esses perigos perdem importância quando comparados aos negociantes de ouro no Iraque que estão na linha de frente de uma luta sectária.
Mais de 40 pessoas foram mortas em assaltos a joalherias no Iraque este ano, e, no final de outubro, homens armados com granadas impelidas por foguetes atacaram o maior mercado de ouro de Kirkuk, matando dez pessoas e deixando outras dez feridas, informou o "Times".
Alguns negociantes de ouro estão fechando suas lojas mais cedo ou operando em horários que variam como forma de proteção caso estejam sendo observados. Alguns deles não conseguem imaginar a possibilidade de deixar de atuar nesse ramo e estão resignados ao que pode vir por aí.
"Se vendêssemos este negócio, o que faríamos?", indagou Fahd al-Taie, 22, cujo avô começou a vender ouro em Karbala e cujo pai transferiu o negócio a Bagdá. "Não sabemos fazer mais nada. Agora estamos à espera de nossa morte."
TOM BRADY


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