São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DINHEIRO & NEGÓCIOS

Depois de enfrentarem o Japão, EUA encaram a China

Por STEVE LOHR

Na década de 1980, os Estados Unidos enfrentaram um enervante desafio de uma potência econômica em ascensão que, muitas vezes, dobrava as regras da concorrência global em seu benefício.
Trinta anos depois, americanos ouvem um eco do passado. Desta vez, o objeto de admiração e tensão não é o Japão, mas a China.
"Já vimos esse filme", diz Clyde V. Prestowitz Jr., presidente do Instituto de Estratégia Econômica. "Como o Japão, a China está subindo a ladeira do desenvolvimento econômico e tecnológico e, para tanto, usa todos os meios à sua disposição."
No início dos anos 80, o ataque japonês à indústria de computadores e semicondutores americana pareceu assustador.
"O que nossos jovens vão fazer?", perguntou Walter F. Mondale, vice-presidente do governo Carter (1976-80). "Varrer o chão em torno dos computadores japoneses?"
A frase captava o pessimismo econômico da época, mesmo que sirva como uma piada hoje. Com que frequência você vê um computador japonês?
Um olhar para o desafio econômico simbolizado pelo Japão -e a reação americana- poderia oferecer perspectivas sobre o desafio chinês hoje.
"As pessoas esquecem que fizemos muitas coisas para enfrentar o desafio japonês", diz Robert D. Atkinson, presidente da Fundação para Tecnologia da Informação e Inovação, grupo de pesquisa apartidário em Washington.
Nos Estados Unidos, os anos 80 foram a década do governo de Ronald Reagan, um momento de mercados livres, livre comércio e cortes de impostos. Mas, para certos setores, o governo adotou uma política industrial comedida.
Washington negociou restrições voluntárias à exportação com os japoneses na indústria de automóveis. Isso obrigou as firmas japonesas a construir fábricas nos EUA. E um acordo comercial sobre semicondutores ajudou a abrir o mercado japonês.
Um consórcio criado pelo governo federal em várias empresas -Semiconductor Manufacturing Technology, ou Sematech- dividiu os custos e os riscos de se desenvolver técnicas de fabricação de chips para computador.
Um motivo pelo qual o Japão representava uma ameaça nos anos 80 em chips e computadores era a transferência de tecnologia que havia ocorrido anos antes. Para vender no mercado japonês e repatriar os lucros, a IBM e a Texas Instruments tiveram de compartilhar tecnologia. Elas também montaram fábricas por lá.
Na China, hoje, o governo impõe o mesmo tipo de exigência de compartilhar tecnologia e montar fábricas em joint-ventures para ter acesso ao mercado interno.
"A aposta da IBM no Japão, assim como de companhias como Boeing e General Electric hoje na China, é que eles podem continuar à frente e inovar mais depressa que os potenciais concorrentes que estão ajudando", diz Edward J. Lincoln, professor de economia na Escola de Economia Stern da Universidade de Nova York.
Na China, entretanto, há muito mais companhias ocidentais envolvidas em joint-ventures de compartilhamento de tecnologia do que ocorreu no Japão.
O Japão limitou acentuadamente o investimento direto de companhias estrangeiras, enquanto a China lhes deu boas-vindas.
Nos últimos anos, o governo chinês incentivou as empresas estrangeiras a transferir mais tecnologia avançada para suas iniciativas no país. O esforço do governo para acelerar a ascensão tecnológica chinesa chama-se "inovação indígena".
C. Fred Bergsten, diretor do Instituto Peterson de Economia Internacional, diz: "A China foi muito mais inteligente que o Japão em suas políticas de investimento. Ela convidou o investimento direto estrangeiro e depois fez de reféns as corporações americanas".
O atrativo do mercado interno em rápido crescimento -muito maior que o do Japão- dá vantagem à China com as empresas americanas, o que cala as queixas em Washington, diz Bergsten.
Mas as empresas americanas estão preocupadas com a política de inovação da China e a forçaram para o topo da agenda do presidente Hu Jintao em sua viagem recente aos Estados Unidos, diz Bergsten. A delegação chinesa garantiu a executivos americanos que a China será flexível.
A moeda chinesa foi minimizada como problema. Mas Bergsten estima que o renminbi esteja subvalorizado em 20%. "É um subsídio generalizado às exportações", ele diz.
Haverá constantes questões comerciais com a China. Mas, conforme o país enriquecer, na previsão dos economistas, comprará mais produtos e serviços de alta tecnologia e alto valor nos quais os Estados Unidos são excelentes.
A verdadeira resposta para o desafio chinês, como a concorrência do Japão nos anos 80, deve vir dos EUA, dizem pensadores de política industrial.
Sem dúvida se tentará uma mistura de hábil política oficial, estratégias inteligentes para o setor privado, investimento de longo prazo em inovação e um melhor sistema educacional. Em suma, todas as coisas que os Estados Unidos deveriam fazer de qualquer modo, mas com uma medida adicional de urgência por causa da concorrência global que a China representa.


Texto Anterior: Evo Morales sofre humilhante derrota

Próximo Texto: A crise da economia afetou quem vende iate
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.