São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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Artista russo desafia governo

Por ELLEN BARRY
KIEV, Ucrânia - Tornou-se difícil identificar o paradeiro de Aleksei Plutser-Sarno.
Enquanto a polícia fecha o cerco em torno do Voina, o coletivo russo de arte radical ao qual ele pertence, Plutser-Sarno deixou de usar o celular, recorrendo ao Skype e a cartas entregues em mãos por intermediários.
Ele procura não passar duas noites consecutivas no mesmo lugar. E cria estratagemas complicados para esconder onde está. Certa vez, concedeu entrevistas dizendo estar na Estônia, ao mesmo tempo em que postava notas em seu blog supostamente de Tel Aviv, onde tampouco estava.
O coletivo Voina, cujo nome significa "guerra", vem, há três anos, brincando de gato e rato com a polícia russa, promovendo ações que vão desde atos obscuros (atirar gatos vivos contra caixas do McDonald's) até outros monumentais (um pênis de 64 m pintado sobre ponte levadiça de São Petersburgo, de tal modo que, quando a ponte é levantada, o pênis fica em pé e aponta para o gabinete do serviço de segurança).
As autoridades russas registraram novas acusações criminais, visando fechar o grupo. Dois de seus líderes estão detidos e enfrentam penas de até sete anos de prisão; uma terceira teme perder a guarda do seu filho.
Restou Plutser-Sarno. Aos 48 anos, já passou boa parte de sua vida profissional sob os holofotes da mídia; é o autor de um dicionário de obscenidades russas, em vários volumes, e foi apresentador de "O Quadrado Negro", talk show irreverente na televisão.
Mas essa vida já acabou. Plutser-Sarno disse que investigadores ameaçaram acusá-lo de organizar uma quadrilha criminosa, algo que é passível de uma sentença de até 20 anos de prisão.
O crítico de arte David Riff, de Moscou, disse que as prisões prejudicaram permanentemente um grupo de artistas cuja atração principal consistia em suas escapadas repetidas, às vezes ousadas.
Indagado se o estilo de vida clandestino pesa sobre ele, Plutser-Sarno sorriu. Ele gosta muito de viver assim.
Foi o sentimento de revolta que motivou a criação do Voina, disse. Na metade da década passada, a expressão tinha praticamente desaparecido da vida pública. Os comícios da oposição eram marginalizados.
Os artistas ganhavam uma renda confortável em galerias subscritas por bilionários com vínculos com o governo.
Plutser-Sarno se juntou a Oleg Vorotnikov, o fundador do Voina, que desde então foi detido. O grupo encenou uma orgia no Museu Estatal de Biologia, apresentando a ação como comentário sobre a campanha que levara Dmitri A. Medvedev ao poder.
O mundo das artes de Moscou reagiu com frieza. Mas o YouTube, o LiveJournal e o Twitter deram ao Voina acesso a russos jovens que compartilhavam o senso de humor do grupo e sua raiva diante da polícia. Os planos do coletivo tornaram-se mais arriscados.
O jogo acabou em 14 de janeiro quando um juiz de São Petersburgo estendeu o período em que Vorotnikov e Leonid Nikolayev, outro líder do Voina, ficarão detidos antes de levados a julgamento.
Quanto a Plutser-Sarno, não foi possível localizá-lo.


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