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TENDÊNCIAS MUNDIAIS
Telemedicina ganha importância em locais de recursos escassos
Por MILT FREUDENHEIM
Um dia no ano passado, Charlie Martin sentiu uma dor aguda em sua região lombar
inferior. Mas ele não podia entrar em seu carro e correr para um consultório ou
um hospital: na época, Martin, que é operador de guindaste, estava trabalhando
numa plataforma petrolífera no mar do Sul da China.
Ele pôde, contudo, entrar em contato com um médico a milhares de quilômetros de
distância, por meio de vídeoconferência.
Usando um estetoscópio eletrônico manejado por um paramédico presente na
plataforma, o médico Oscar W. Boultinghouse ouviu o coração de Martin desde
Houston, EUA.
"A dor aguda era um forte indício de cálculo renal", disse Boultinghouse mais
tarde. Um exame de urina feito na plataforma confirmou o diagnóstico, e Martin
foi de avião para sua casa, no Mississippi, para ser tratado.
Martin, 32, já está de volta ao trabalho na plataforma e se diz grato por ter
podido discutir sua dor com um médico, por videoconferência. "É bem melhor do
que tentar descrevê-la ao telefone."
Boultinghouse e dois outros médicos, Michael J. Davis e Glenn G. Hammack,
comandam a empresa NuPhysicia, que criaram em 2007 a partir da Universidade do
Texas e que é especializada em telemedicina, interligando médicos e pacientes
por vídeo.
Movida por avanços tecnológicos, a telemedicina está virando uma indústria
crescente. Segundo estatísticas do governo dos EUA, um quinto dos americanos
vive em lugares com escassez de médicos que façam atendimento primário.
Essa necessidade está convergindo com avanços diversos, que incluem a redução
dos custos de equipamentos para videoconferências, o aumento das conexões
rápidas via satélite e a capacidade cada vez maior de trabalhar via internet de
modo confiável.
"Tanto para médicos como para pacientes, as consultas por video-conferência se
aproximam das consultas cara a cara, chegando a ser melhores em alguns casos",
diz Kaveh Safavi, diretor de atendimento médico da Cisco Systems, que está dando
suporte a testes de sua própria versão de telemedicina via vídeo de alta
definição em Estados dos EUA.
O setor de telemedicina interativa vem crescendo quase 10% ao ano: gerou mais de
US$ 500 milhões em receita na América do Norte em 2010, segundo a firma de
pesquisas Datamonitor. Ele faz parte de uma categoria de telemedicina que
movimenta US$ 3,9 bilhões e que inclui aparelhos de monitoramento em casas de
pacientes e centenas de aplicativos médicos para "smartphones".
Christine Chang, analista de tecnologia médica da Datamonitor, diz que a
telemedicina vai permitir que médicos prestem atendimento melhor a mais
pacientes. "Alguns serão atendidos por teleconferência, outros enviarão
perguntas por e-mail, e outros serão monitorados" por meio de dados
digitalizados sobre sintomas ou indicadores como níveis de glicose, diz.
Eventualmente, ela prevê, "um paciente pode ir pessoalmente ao consultório do
médico".
A tecnologia interligando médicos e pacientes diretamente pode ser tão complexa
quando um sistema de vídeo de alta definição como o da Cisco, que pode custar
centenas de milhares de dólares. Ou tão simples quanto as webcams.
A NuPhysicia usa equipamentos intermediários, ou seja, ligações de
videoconferência padronizadas. Analistas dizem que esse equipamento pode custar
entre US$ 30 mil e US$ 45 mil no lado do paciente -com uma mala ou um carrinho
contendo estetoscópios e outros aparelhos-, mais os equipamentos usados pelo
médico.
Há quem veja a telemedicina com ceticismo. Reguladores do Conselho Médico do
Texas mencionaram receios de que, ao não tocarem o paciente fisicamente, os
médicos deixem passar indicadores médicos sutis.
E, embora não se oponha à telemedicina, a Academia Americana de Médicos de
Família diz que os pacientes devem se conservar em contato com um médico de
atendimento primário que possa monitorar suas necessidades, no mundo virtual ou
no mundo real.
Boultinghouse faz pouco caso dessas preocupações. "No mundo de hoje, o exame
físico tem papel cada vez menor", diz. "Vivemos na era do imageamento."
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