São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Telemedicina ganha importância em locais de recursos escassos

Por MILT FREUDENHEIM

Um dia no ano passado, Charlie Martin sentiu uma dor aguda em sua região lombar inferior. Mas ele não podia entrar em seu carro e correr para um consultório ou um hospital: na época, Martin, que é operador de guindaste, estava trabalhando numa plataforma petrolífera no mar do Sul da China.
Ele pôde, contudo, entrar em contato com um médico a milhares de quilômetros de distância, por meio de vídeoconferência.
Usando um estetoscópio eletrônico manejado por um paramédico presente na plataforma, o médico Oscar W. Boultinghouse ouviu o coração de Martin desde Houston, EUA.
"A dor aguda era um forte indício de cálculo renal", disse Boultinghouse mais tarde. Um exame de urina feito na plataforma confirmou o diagnóstico, e Martin foi de avião para sua casa, no Mississippi, para ser tratado.
Martin, 32, já está de volta ao trabalho na plataforma e se diz grato por ter podido discutir sua dor com um médico, por videoconferência. "É bem melhor do que tentar descrevê-la ao telefone."
Boultinghouse e dois outros médicos, Michael J. Davis e Glenn G. Hammack, comandam a empresa NuPhysicia, que criaram em 2007 a partir da Universidade do Texas e que é especializada em telemedicina, interligando médicos e pacientes por vídeo.
Movida por avanços tecnológicos, a telemedicina está virando uma indústria crescente. Segundo estatísticas do governo dos EUA, um quinto dos americanos vive em lugares com escassez de médicos que façam atendimento primário.
Essa necessidade está convergindo com avanços diversos, que incluem a redução dos custos de equipamentos para videoconferências, o aumento das conexões rápidas via satélite e a capacidade cada vez maior de trabalhar via internet de modo confiável.
"Tanto para médicos como para pacientes, as consultas por video-conferência se aproximam das consultas cara a cara, chegando a ser melhores em alguns casos", diz Kaveh Safavi, diretor de atendimento médico da Cisco Systems, que está dando suporte a testes de sua própria versão de telemedicina via vídeo de alta definição em Estados dos EUA.
O setor de telemedicina interativa vem crescendo quase 10% ao ano: gerou mais de US$ 500 milhões em receita na América do Norte em 2010, segundo a firma de pesquisas Datamonitor. Ele faz parte de uma categoria de telemedicina que movimenta US$ 3,9 bilhões e que inclui aparelhos de monitoramento em casas de pacientes e centenas de aplicativos médicos para "smartphones".
Christine Chang, analista de tecnologia médica da Datamonitor, diz que a telemedicina vai permitir que médicos prestem atendimento melhor a mais pacientes. "Alguns serão atendidos por teleconferência, outros enviarão perguntas por e-mail, e outros serão monitorados" por meio de dados digitalizados sobre sintomas ou indicadores como níveis de glicose, diz.
Eventualmente, ela prevê, "um paciente pode ir pessoalmente ao consultório do médico".
A tecnologia interligando médicos e pacientes diretamente pode ser tão complexa quando um sistema de vídeo de alta definição como o da Cisco, que pode custar centenas de milhares de dólares. Ou tão simples quanto as webcams.
A NuPhysicia usa equipamentos intermediários, ou seja, ligações de videoconferência padronizadas. Analistas dizem que esse equipamento pode custar entre US$ 30 mil e US$ 45 mil no lado do paciente -com uma mala ou um carrinho contendo estetoscópios e outros aparelhos-, mais os equipamentos usados pelo médico. Há quem veja a telemedicina com ceticismo. Reguladores do Conselho Médico do Texas mencionaram receios de que, ao não tocarem o paciente fisicamente, os médicos deixem passar indicadores médicos sutis.
E, embora não se oponha à telemedicina, a Academia Americana de Médicos de Família diz que os pacientes devem se conservar em contato com um médico de atendimento primário que possa monitorar suas necessidades, no mundo virtual ou no mundo real.
Boultinghouse faz pouco caso dessas preocupações. "No mundo de hoje, o exame físico tem papel cada vez menor", diz. "Vivemos na era do imageamento."


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