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LENTE
Paternidade requer aprendizado
Um adesivo popular nos carros dos "baby boomers" aludia à ambivalência dessa
geração do pós-Guerra com relação à paternidade: "Insanidade é hereditária -você
pega dos filhos".
Os desafios na criação dos filhos cresceram junto com as demandas sobre os pais,
mas a capacidade de lidar com a família está ligada a coisas simples, como o bom
senso e a perseverança.
A loucura que pode fazer parte do cotidiano familiar foi revelada num estudo
feito entre 2002 e 2005 por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Los
Angeles, que gravaram em vídeo quase todos os momentos em que famílias estavam
em casa e acordadas durante uma semana.
O projeto da UCLA focava a família americana de classe média, com vários filhos,
em que marido e mulher têm renda. Os pesquisadores assistiram a 1.540 horas de
vídeo, codificando e categorizando cada abraço e momento carinhoso
compartilhado, contou o "New York Times". Mas eles viram também discussões,
gritos, choros, ranhetices e explosões emocionais que são inevitáveis na vida
familiar.
"A mais pura forma de controle de natalidade jamais concebida", descreveu um
pesquisador, o pós-doutorando Anthony Graesch, ao "Times". Apesar disso, ele e a
mulher acabaram de ter seu segundo filho.
Muitos pais estão despreparados para a tarefa, e a maioria aprende o que é certo
por tentativa e erro. A sociedade age para retirar crianças de pais que sejam
negligentes ou incompetentes, ou dos que sofrem de uma dependência, com
frequência de drogas ou álcool.
O "Times" relatou que, para um bebê de três meses em Suwon (Coreia do Sul), a
obsessão dos seus pais com o mundo fantasioso dos games na web foi letal.
Kim Yun-jeong e seu marido, Kim Jae-beom, 41, costumavam varar madrugadas
imersos em seus personagens nas lan houses. No ano passado, ao voltarem para
casa após 12 horas de jogatina, encontraram a pequena Sa-rang -"amor", em
coreano- morta por desnutrição.
O casal sabia tão pouco sobre como criar filhos que só descobriu que a mulher
estava grávida quando a bolsa estourou. Em 29 de maio, os dois foram
sentenciados a dois anos de prisão, mas Yun-jeong poderá cumprir sua pena em
liberdade porque está grávida de sete meses, e o juiz considerou que ela
precisava de "estabilidade mental".
"Lamento ter sido uma mãe tão má para o meu bebê", disse ela, soluçando, durante
o julgamento.
Já numa aldeia afegã, o empenho de um pai alterou o destino do seu filho quando
o menino abriu um saco de grãos e uma cobra o mordeu no lábio. O pai, Kashmir,
levou Sadiq, 5, a uma guarnição dos marines dos EUA perto da sua casa, em Khan
Neshin, para que o menino pudesse ser levado de helicóptero a um hospital
militar americano, onde tinha alguma chance de ser salvo.
Mas a missão foi cancelada, e o veneno da cobra já havia inchado o rosto de
Sadiq, dificultando sua respiração.
Kashmir não desistiu. Foi a pé até outra guarnição americana e novamente pediu
que um helicóptero levasse seu filho para um hospital. Os fuzileiros puderam
monitorar as atividades dele por meio de mensagens eletrônicas.
A segunda missão foi aprovada, e a vida do menino foi salva. Um pai, numa aldeia
remota no sul do Afeganistão, desafiou todas as probabilidades e, nesse
processo, deu uma lição a pais do mundo todo: nunca pare de tentar.
TOM BRADY
Envie comentários para nytweekly@nytimes.com
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