São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LENTE

Paternidade requer aprendizado

Um adesivo popular nos carros dos "baby boomers" aludia à ambivalência dessa geração do pós-Guerra com relação à paternidade: "Insanidade é hereditária -você pega dos filhos".
Os desafios na criação dos filhos cresceram junto com as demandas sobre os pais, mas a capacidade de lidar com a família está ligada a coisas simples, como o bom senso e a perseverança.
A loucura que pode fazer parte do cotidiano familiar foi revelada num estudo feito entre 2002 e 2005 por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Los Angeles, que gravaram em vídeo quase todos os momentos em que famílias estavam em casa e acordadas durante uma semana.
O projeto da UCLA focava a família americana de classe média, com vários filhos, em que marido e mulher têm renda. Os pesquisadores assistiram a 1.540 horas de vídeo, codificando e categorizando cada abraço e momento carinhoso compartilhado, contou o "New York Times". Mas eles viram também discussões, gritos, choros, ranhetices e explosões emocionais que são inevitáveis na vida familiar.
"A mais pura forma de controle de natalidade jamais concebida", descreveu um pesquisador, o pós-doutorando Anthony Graesch, ao "Times". Apesar disso, ele e a mulher acabaram de ter seu segundo filho.
Muitos pais estão despreparados para a tarefa, e a maioria aprende o que é certo por tentativa e erro. A sociedade age para retirar crianças de pais que sejam negligentes ou incompetentes, ou dos que sofrem de uma dependência, com frequência de drogas ou álcool.
O "Times" relatou que, para um bebê de três meses em Suwon (Coreia do Sul), a obsessão dos seus pais com o mundo fantasioso dos games na web foi letal.
Kim Yun-jeong e seu marido, Kim Jae-beom, 41, costumavam varar madrugadas imersos em seus personagens nas lan houses. No ano passado, ao voltarem para casa após 12 horas de jogatina, encontraram a pequena Sa-rang -"amor", em coreano- morta por desnutrição.
O casal sabia tão pouco sobre como criar filhos que só descobriu que a mulher estava grávida quando a bolsa estourou. Em 29 de maio, os dois foram sentenciados a dois anos de prisão, mas Yun-jeong poderá cumprir sua pena em liberdade porque está grávida de sete meses, e o juiz considerou que ela precisava de "estabilidade mental".
"Lamento ter sido uma mãe tão má para o meu bebê", disse ela, soluçando, durante o julgamento.
Já numa aldeia afegã, o empenho de um pai alterou o destino do seu filho quando o menino abriu um saco de grãos e uma cobra o mordeu no lábio. O pai, Kashmir, levou Sadiq, 5, a uma guarnição dos marines dos EUA perto da sua casa, em Khan Neshin, para que o menino pudesse ser levado de helicóptero a um hospital militar americano, onde tinha alguma chance de ser salvo.
Mas a missão foi cancelada, e o veneno da cobra já havia inchado o rosto de Sadiq, dificultando sua respiração.
Kashmir não desistiu. Foi a pé até outra guarnição americana e novamente pediu que um helicóptero levasse seu filho para um hospital. Os fuzileiros puderam monitorar as atividades dele por meio de mensagens eletrônicas.
A segunda missão foi aprovada, e a vida do menino foi salva. Um pai, numa aldeia remota no sul do Afeganistão, desafiou todas as probabilidades e, nesse processo, deu uma lição a pais do mundo todo: nunca pare de tentar.
TOM BRADY


Envie comentários para nytweekly@nytimes.com


Texto Anterior: Migração desafia economia fraca
Próximo Texto: Tendências Mundiais
Telemedicina ganha importância em locais de recursos escassos

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.