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AMERICANAS
Gerações divergem quanto à imigração
Por DAMIEN CAVE
MIAMI - Meaghan Patrick, caloura da faculdade New College of Florida, de
Sarasota, acha que discutir imigração com seus parentes mais velhos é como
"bater a cabeça numa parede de tijolo".
Cathleen McCarthy, aluna da Universidade do Arizona, diz que a imigração é um
dos raros tópicos "radioativos" que provocam discussões com sua mãe e avó
progressistas.
"Muitos americanos mais velhos se sentem ameaçados pela mudança que a imigração
representa", disse McCarthy. "Os jovens de hoje simplesmente foram expostos a
uma visão de mundo de mais aceitação."
Esqueça o sexo, as drogas e o rock'n'roll: a imigração é a nova falha tectônica
entre as gerações americanas.
Diante da nova lei do Estado do Arizona, que autoriza a polícia a prender
pessoas consideradas suspeitas de terem entrado ilegalmente nos EUA, os jovens
estão exibindo uma veemente oposição -liderando protestos no escritório do
senador John McCain (ex-candidato republicano à Presidência), em Tucson, e num
jogo de beisebol dos Arizona Diamondbacks, em Miami.
Enquanto isso, os "baby boomers", apesar de terem sido jovens sob o lema "viva e
deixe viver", estão se alinhando com os americanos mais velhos e apoiando a lei
do Arizona.
Essa divisão tem aparecido em alguns estudos feitos desde que a medida foi
sancionada, inclusive numa recente pesquisa "New York Times"/CBS News segundo a
qual os americanos de 45 anos ou mais têm maior propensão que os jovens a dizer
que a lei do Arizona foi "correta" (em vez de dizerem que "foi longe demais" ou
"não foi longe o bastante").
Os "boomers" também tinham mais propensão a dizer que "nenhum recém-chegado"
deveria ser admitido no país, enquanto mais jovens acham todos "bem-vindos".
Isso se deve em parte à experiência. Demograficamente, os americanos mais jovens
e mais velhos cresceram em mundos vastamente diferentes.
Os que nasceram após a era dos direitos civis viveram em um país com altas taxas
de imigração legal e ilegal. Em seus bairros e nas escolas, sua presença era tão
óbvia quanto os Starbucks hoje em dia. Já os "baby boomers" e os americanos mais
velhos amadureceram em um dos momentos mais homogêneos na história do país.
A imigração nos EUA, segundo o Censo, declinou a partir da Depressão e chegou a
um nível historicamente baixo em 1970. De 1860 a 1920, 13% a 15% dos habitantes
do país haviam nascido no exterior -taxa similar à de hoje, quando os imigrantes
constituem 12,5% do país.
Mas, em 1970, apenas 4,7% eram estrangeiros, e a maioria desses imigrantes era
de europeus mais velhos, em quem a geração do "baby boom", nascida de 1946 a
1964, mal reparava.
Os "boomers" e seus pais também viveram sua formação longe das cidades, que é
onde os imigrantes recém-chegados tendem a se reunir. Já os jovens de hoje se
envolvem mais com os imigrantes, na faculdade ou ao transitarem pelas áreas
urbanas.
"É difícil [para os dois grupos] compartilhar opiniões quanto ao que está
acontecendo", disse William Frey, demógrafo do "think tank" Brookings
Institution. "Essa gente mais velha cresceu em subúrbios majoritariamente
brancos e bairros majoritariamente segregados. Os jovens cresceram numa cultura
inter-racial."
"A curto prazo, politicamente, a divisão etária eleva a polarização", disse
Roberto Suro, ex-diretor do Centro Hispânico Pew. "A longo prazo, há o desafio
de se os cidadãos mais velhos pagarão pela educação dos filhos de imigrantes."
Maggie Aspillaga, 62, imigrante cubana em Miami, tem algumas preocupações
específicas: que a imigração irregular gere criminalidade e eleve o gasto
público com saúde e outros serviços. "Eles estão pegando recursos", disse.
Já os jovens, nas entrevistas, enfatizavam os benefícios dos imigrantes. Andrea
Bonvecchio, 17, filha de um venezuelano naturalizado americano, disse que por
frequentar um colégio "tipo 98% hispânico" tem amigos que gostam tanto de música
latina quanto do seu filme favorito, "Operação Cupido".
Nicole Vespia, 18, de Selden (Nova York), disse que os mais velhos, ao temerem
que os imigrantes roubem empregos, estão abrindo mão de um ideal americano: a
meritocracia capitalista.
"Se alguém trabalha melhor que eu, merece o emprego", disse Vespia. "Trabalho
num estoque, [onde] os melhores funcionários são pessoas que não falam inglês
direito. É legal conhecê-los."
Ela acha que a geração dos seus pais precisa se adaptar. "Meu padrasto diz:
'Por que tenho de digitar 1 para inglês?'", contou ela, referindo-se a uma
instrução comum em serviços de atendimento telefônico. "Acho isso ridículo. Não
tem nada de mais. Pare de chorar por isso. Digite a tecla."
Colaborou Megan Thee-Brennan, em Nova York
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