São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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AMERICANAS

Gerações divergem quanto à imigração

Por DAMIEN CAVE

MIAMI - Meaghan Patrick, caloura da faculdade New College of Florida, de Sarasota, acha que discutir imigração com seus parentes mais velhos é como "bater a cabeça numa parede de tijolo".
Cathleen McCarthy, aluna da Universidade do Arizona, diz que a imigração é um dos raros tópicos "radioativos" que provocam discussões com sua mãe e avó progressistas.
"Muitos americanos mais velhos se sentem ameaçados pela mudança que a imigração representa", disse McCarthy. "Os jovens de hoje simplesmente foram expostos a uma visão de mundo de mais aceitação."
Esqueça o sexo, as drogas e o rock'n'roll: a imigração é a nova falha tectônica entre as gerações americanas.
Diante da nova lei do Estado do Arizona, que autoriza a polícia a prender pessoas consideradas suspeitas de terem entrado ilegalmente nos EUA, os jovens estão exibindo uma veemente oposição -liderando protestos no escritório do senador John McCain (ex-candidato republicano à Presidência), em Tucson, e num jogo de beisebol dos Arizona Diamondbacks, em Miami.
Enquanto isso, os "baby boomers", apesar de terem sido jovens sob o lema "viva e deixe viver", estão se alinhando com os americanos mais velhos e apoiando a lei do Arizona.
Essa divisão tem aparecido em alguns estudos feitos desde que a medida foi sancionada, inclusive numa recente pesquisa "New York Times"/CBS News segundo a qual os americanos de 45 anos ou mais têm maior propensão que os jovens a dizer que a lei do Arizona foi "correta" (em vez de dizerem que "foi longe demais" ou "não foi longe o bastante").
Os "boomers" também tinham mais propensão a dizer que "nenhum recém-chegado" deveria ser admitido no país, enquanto mais jovens acham todos "bem-vindos".
Isso se deve em parte à experiência. Demograficamente, os americanos mais jovens e mais velhos cresceram em mundos vastamente diferentes.
Os que nasceram após a era dos direitos civis viveram em um país com altas taxas de imigração legal e ilegal. Em seus bairros e nas escolas, sua presença era tão óbvia quanto os Starbucks hoje em dia. Já os "baby boomers" e os americanos mais velhos amadureceram em um dos momentos mais homogêneos na história do país.
A imigração nos EUA, segundo o Censo, declinou a partir da Depressão e chegou a um nível historicamente baixo em 1970. De 1860 a 1920, 13% a 15% dos habitantes do país haviam nascido no exterior -taxa similar à de hoje, quando os imigrantes constituem 12,5% do país.
Mas, em 1970, apenas 4,7% eram estrangeiros, e a maioria desses imigrantes era de europeus mais velhos, em quem a geração do "baby boom", nascida de 1946 a 1964, mal reparava.
Os "boomers" e seus pais também viveram sua formação longe das cidades, que é onde os imigrantes recém-chegados tendem a se reunir. Já os jovens de hoje se envolvem mais com os imigrantes, na faculdade ou ao transitarem pelas áreas urbanas.
"É difícil [para os dois grupos] compartilhar opiniões quanto ao que está acontecendo", disse William Frey, demógrafo do "think tank" Brookings Institution. "Essa gente mais velha cresceu em subúrbios majoritariamente brancos e bairros majoritariamente segregados. Os jovens cresceram numa cultura inter-racial."
"A curto prazo, politicamente, a divisão etária eleva a polarização", disse Roberto Suro, ex-diretor do Centro Hispânico Pew. "A longo prazo, há o desafio de se os cidadãos mais velhos pagarão pela educação dos filhos de imigrantes."
Maggie Aspillaga, 62, imigrante cubana em Miami, tem algumas preocupações específicas: que a imigração irregular gere criminalidade e eleve o gasto público com saúde e outros serviços. "Eles estão pegando recursos", disse.
Já os jovens, nas entrevistas, enfatizavam os benefícios dos imigrantes. Andrea Bonvecchio, 17, filha de um venezuelano naturalizado americano, disse que por frequentar um colégio "tipo 98% hispânico" tem amigos que gostam tanto de música latina quanto do seu filme favorito, "Operação Cupido".
Nicole Vespia, 18, de Selden (Nova York), disse que os mais velhos, ao temerem que os imigrantes roubem empregos, estão abrindo mão de um ideal americano: a meritocracia capitalista.
"Se alguém trabalha melhor que eu, merece o emprego", disse Vespia. "Trabalho num estoque, [onde] os melhores funcionários são pessoas que não falam inglês direito. É legal conhecê-los."
Ela acha que a geração dos seus pais precisa se adaptar. "Meu padrasto diz: 'Por que tenho de digitar 1 para inglês?'", contou ela, referindo-se a uma instrução comum em serviços de atendimento telefônico. "Acho isso ridículo. Não tem nada de mais. Pare de chorar por isso. Digite a tecla."


Colaborou Megan Thee-Brennan, em Nova York


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