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Agentes executam fim do sonho da casa própria
São meses de negociação antes de promover o despejo
Por DAVID STREITFELD
LAKE VILLA, Illinois - Se você vir Joseph Laubinger na sua porta da frente,
comece a fazer as malas. Sua presença austera significa que você esgotou todas
as opções para conservar sua casa.
"Sou como um médico", disse Laubinger, um agente de grandes credores. "As
pessoas me perguntam quanto tempo ainda têm."
Quase nenhum. Legalmente, elas já perderam a propriedade. Se não reagirem à isca
que os credores oferecem -até US$ 5.000 em dinheiro para deixar a casa em boas
condições-, estes acionam o delegado distrital, que as expulsa.
Laubinger, 60, está tendo uma temporada movimentada. Quase 4 milhões de famílias
nos EUA estão severamente atrasadas em suas hipotecas. Enquanto cada vez mais
casas rumam para o confisco -um recorde de 250 mil foram tomadas pelos credores
no primeiro trimestre deste ano-, agentes como Laubinger tentam convencer as
pessoas a sair. Ele ganha um pequeno honorário por isso; sua recompensa vem da
comissão que recebe ao vender a casa.
Seu território é o limite norte do Estado de Illinois e a parte mais ao sul de
Wisconsin -área de 1.550 km2 que abrange subúrbios de classe média construídos
na última década, casas de veraneio à beira dos muitos lagos da região e chalés
decadentes comprados por imigrantes pobres.
Em um sábado recente, Laubinger tinha três casas para verificar. Fannie Mae, a
companhia de hipotecas do governo, o enviou para examinar uma das propriedades,
cujos donos a haviam perdido mas se recusavam a deixá-la. O banco queria que ele
tirasse fotos de um segundo lugar, uma casa de luxo cujos donos em moratória
buscavam uma alteração de contrato.
Os ocupantes da terceira casa, Israel López e Blanca Sánchez, tinham finalmente
concordado em sair após meses de negociação. Laubinger levava um cheque de US$
1.800 para eles.
Mas só havia um menino em casa. Laubinger deixou um recado para os pais.
"Eles me enganaram", ele disse enquanto se afastava no carro.
A casa que ele foi contratado para fotografar ficava em um bairro elegante, mas
os donos, que não estavam em casa ou não atenderam à porta, claramente
enfrentavam dificuldades. A entrada estava cheia de buracos, e o gramado, tomado
pelo mato.
O telefone de Laubinger tocou. Era Sánchez. "Não encontramos nenhum lugar para
ir", ela disse. "Estávamos pensando se não poderiam nos dar mais prazo."
Laubinger não cedeu, mas disse que ela não seria despejada naquele fim de
semana. Era tudo o que Sánchez queria ouvir.
"Eles estão fazendo as contas", disse ele. "Mais tempo é melhor que os US$ 1.800
que eu ia lhes dar para sair."
Se ele tiver de ordenar um despejo formal, a burocracia do processo poderá levar
meses.
A noite caía quando Laubinger estacionou diante de sua própria casa em Lake
Villa, a cerca de 90 minutos de Chicago. Ele não tinha certeza se havia
realizado muita coisa. Mas, alguns dias depois, para sua surpresa, a família
López-Sánchez concordou em deixar a casa, afinal.
Quando o agente apareceu com o cheque, o casal ainda carregava coisas para sua
velha perua: uma TV de tela grande, um enorme urso de pelúcia, uma panela de
carne cozida para o jantar.
López, 31, contou que tinha perdido o emprego em 2009 -a construtora em que
trabalhava faliu. "Eu pagava a hipoteca todos os meses, mas disse para minha
mulher: 'Não adianta mais'."
López esperava que logo conseguisse trabalho de novo, em uma rodovia. Até que a
família consiga se assentar, sua igreja concordou em abrigar o casal com os
quatro filhos.
López assinou os documentos e embolsou o cheque, sem olhar para ele. Sánchez
choramingou baixinho. Não é emoção, ela disse, mas alergia. O casal entrou no
carro e partiu.
Laubinger examinou a casa. Precisava de pintura, carpete novo, consertos. Ele
esperava colocá-la à venda dentro de algumas semanas por US$ 110 mil.
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