São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Agentes executam fim do sonho da casa própria

São meses de negociação antes de promover o despejo

Por DAVID STREITFELD

LAKE VILLA, Illinois - Se você vir Joseph Laubinger na sua porta da frente, comece a fazer as malas. Sua presença austera significa que você esgotou todas as opções para conservar sua casa.
"Sou como um médico", disse Laubinger, um agente de grandes credores. "As pessoas me perguntam quanto tempo ainda têm."
Quase nenhum. Legalmente, elas já perderam a propriedade. Se não reagirem à isca que os credores oferecem -até US$ 5.000 em dinheiro para deixar a casa em boas condições-, estes acionam o delegado distrital, que as expulsa.
Laubinger, 60, está tendo uma temporada movimentada. Quase 4 milhões de famílias nos EUA estão severamente atrasadas em suas hipotecas. Enquanto cada vez mais casas rumam para o confisco -um recorde de 250 mil foram tomadas pelos credores no primeiro trimestre deste ano-, agentes como Laubinger tentam convencer as pessoas a sair. Ele ganha um pequeno honorário por isso; sua recompensa vem da comissão que recebe ao vender a casa.
Seu território é o limite norte do Estado de Illinois e a parte mais ao sul de Wisconsin -área de 1.550 km2 que abrange subúrbios de classe média construídos na última década, casas de veraneio à beira dos muitos lagos da região e chalés decadentes comprados por imigrantes pobres.
Em um sábado recente, Laubinger tinha três casas para verificar. Fannie Mae, a companhia de hipotecas do governo, o enviou para examinar uma das propriedades, cujos donos a haviam perdido mas se recusavam a deixá-la. O banco queria que ele tirasse fotos de um segundo lugar, uma casa de luxo cujos donos em moratória buscavam uma alteração de contrato.
Os ocupantes da terceira casa, Israel López e Blanca Sánchez, tinham finalmente concordado em sair após meses de negociação. Laubinger levava um cheque de US$ 1.800 para eles.
Mas só havia um menino em casa. Laubinger deixou um recado para os pais.
"Eles me enganaram", ele disse enquanto se afastava no carro.
A casa que ele foi contratado para fotografar ficava em um bairro elegante, mas os donos, que não estavam em casa ou não atenderam à porta, claramente enfrentavam dificuldades. A entrada estava cheia de buracos, e o gramado, tomado pelo mato.
O telefone de Laubinger tocou. Era Sánchez. "Não encontramos nenhum lugar para ir", ela disse. "Estávamos pensando se não poderiam nos dar mais prazo."
Laubinger não cedeu, mas disse que ela não seria despejada naquele fim de semana. Era tudo o que Sánchez queria ouvir.
"Eles estão fazendo as contas", disse ele. "Mais tempo é melhor que os US$ 1.800 que eu ia lhes dar para sair."
Se ele tiver de ordenar um despejo formal, a burocracia do processo poderá levar meses.
A noite caía quando Laubinger estacionou diante de sua própria casa em Lake Villa, a cerca de 90 minutos de Chicago. Ele não tinha certeza se havia realizado muita coisa. Mas, alguns dias depois, para sua surpresa, a família López-Sánchez concordou em deixar a casa, afinal.
Quando o agente apareceu com o cheque, o casal ainda carregava coisas para sua velha perua: uma TV de tela grande, um enorme urso de pelúcia, uma panela de carne cozida para o jantar.
López, 31, contou que tinha perdido o emprego em 2009 -a construtora em que trabalhava faliu. "Eu pagava a hipoteca todos os meses, mas disse para minha mulher: 'Não adianta mais'."
López esperava que logo conseguisse trabalho de novo, em uma rodovia. Até que a família consiga se assentar, sua igreja concordou em abrigar o casal com os quatro filhos.
López assinou os documentos e embolsou o cheque, sem olhar para ele. Sánchez choramingou baixinho. Não é emoção, ela disse, mas alergia. O casal entrou no carro e partiu.
Laubinger examinou a casa. Precisava de pintura, carpete novo, consertos. Ele esperava colocá-la à venda dentro de algumas semanas por US$ 110 mil.


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