São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Cidade montanhosa quer ser o novo Vale do Silício

No pé das Rochosas, um santuário para novas empresas

Por CLAIRE CAIN MILLER

BOULDER, Colorado - Sessenta engenheiros, empresários e financistas bebericavam chá-mate em um café num dia ensolarado em Boulder, pouco tempo atrás.
Conversavan sobre como a cidade -geralmente considerada um enclave de hippies, maconheiros e escaladores de rochas- se tornou um canteiro do capitalismo.
Empresários tecnológicos experientes e investidores sentam-se ao lado de pessoas que acabam de se mudar para Boulder esperando começar um novo empreendimento. A pequena cidade está criando empresas novatas em um ritmo que chama a atenção.
Nos primeiros três meses do ano, 11 "start-ups" tecnológicas do Colorado levantaram US$ 57 milhões em capital de risco, solidificando a posição de Boulder entre os próximos centros tecnológicos dos EUA.
"No Vale do Silício você é um peixinho em uma grande lagoa, e parecia [um ambiente] não tão colaborativo e muito mais corporativo", disse Chad McGimpsey, que recentemente se mudou para Boulder e hoje frequenta o clube de café que se reúne duas vezes por mês.
"Aqui você é um grande peixe em um pequeno lago. Além disso, há as montanhas." Uma longa lista de comunidades em todos os EUA tentaram se tornar "o próximo Vale do Silício". Mas poucas têm a combinação de dinheiro, universidades, banco de talentos "high-tech" e o estilo de vida atraente. Boulder, porém, tem atraído veteranos da indústria tecnológica e jovens empresários com promessas de uma comunidade tecnológica que permite passeios na hora do almoço ao pé das montanhas Rochosas.
Os sucessos da cidade incluem a Rally Software, empresa que faz software para administração de projetos; a Socialthing, serviço de mídia social adquirido pela AOL; e a Kerpoof, que faz ferramentas de criação na web para crianças e foi comprada pela Disney.
Os dólares dos investidores de risco estão seguindo os empresários para o Colorado. De 2007 a 2009, capitalistas de risco investiram US$ 1,9 bilhão em 275 novatas do Estado, contra US$ 1,6 bilhão em 247 empresas de 2004 a 2006, segundo a Associação de Capital de Risco dos EUA. O dinheiro vem de firmas de investimento do Colorado -incluindo o Foundry Group, empresa proeminente de Boulder-, assim como do Vale do Silício e de Nova York.
As receitas de outras cidades para criar o próximo Vale do Silício geralmente deixam de fora alguns ingredientes principais. Richard Florida, que escreveu "The Rise of the Creative Class" (A ascensão da classe criativa) e estuda por que certas cidades promovem a criatividade, cita três fatores cruciais: pessoas talentosas e uma alta qualidade de vida que as mantém no lugar, perícia tecnológica e mentalidade aberta, que muitas vezes vem de uma forte contracultura.
"Boulder atingiu esse belo ponto em que possui muitas das vantagens de uma cidade universitária -tecnologia, talento e abertura-, mas sem muitos custos, o tráfego e o congestionamento que podem prejudicar os novos centros de inovação", disse Florida.
Esse equilíbrio não ocorreu por acaso. Empresas de alimentos naturais como Wild Oats Markets e Celestial Seasonings começaram ali, e vários laboratórios e várias companhias de tecnologia americanas, como a IBM, abriram postos avançados na cidade. No início, as indústrias de biotecnologia, telecomunicações e armazenamento de dados decolaram em Boulder.
Muitas figuras "tech" de Boulder se mudam para lá exatamente porque querem escapar do Vale do Silício. "Existe a sensação, no Vale do Silício, de que, se você vencer, outra pessoa perde", disse Kimbal Musk, executivo-chefe da OneRiot, uma máquina de pesquisas em tempo real baseada em Boulder. "Isso levou muita gente a partir."


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