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Alemães substituem produtos por ideias
'Precisamos pôr dinheiro no que gera conhecimento'
Por CARTER DOUGHERTY
DRESDEN, Alemanha - Nos últimos meses, dois grandes fabricantes de chips de
computador escaparam ao controle de Dresden, desafiando a ideia de que a região
-que gosta de se considerar a "Saxônia do Silício"- poderá continuar produzindo
milhões de equipamentos de alta tecnologia. Mas nem todos os moradores dessa
pitoresca cidade alemã consideram isso ruim.
A perda provocou um debate sobre se o futuro de Dresden, na antiga Alemanha
Oriental, deveria ficar mais em pesquisa e desenvolvimento em vez de manufatura,
e poucos são mais apaixonados pelo lado intelectual do negócio de fabricação de
chips do que os jovens empresários da Blue Wonder Communications. Com apenas
quatro meses, a empresa pretende conseguir uma fatia do lucrativo negócio de
projetar chips para a próxima geração de tecnologia sem fio.
Nenhum de seus empregados, quase todos engenheiros, fabricará alguma coisa de
fato. "Precisamos investir em lugares que geram conhecimento, e não coisas",
disse Wolfram Drescher, um dos dois executivos-chefes da companhia. "Se tudo o
que tivéssemos fosse produção e não conhecimento, eu estaria na rua,
desempregado."
A ideia de que a fabricação tradicional não deve ser necessariamente a base
indispensável da economia é heresia na Alemanha. Mas, enquanto a China avança
para suplantar a Alemanha como maior exportador mundial de produtos, as
perguntas sobre onde investir para o futuro chegam ao centro de uma questão que
os alemães apenas começam a enfrentar.
Os melhores exemplos dessa tensão vêm de Dresden. Neste ano, o maior empregador
privado da região -a fabricante de chips Qimonda- faliu, enquanto outra empresa,
a Global Foundries, investiu no interior de Nova York em uma nova fábrica que
Dresden almejava para si.
A Qimonda, empreendimento de propriedade parcial da Infineon que fabricava chips
de memória, pediu ajuda no início deste ano a Thomas Jurk, ministro da Economia
da Saxônia. Mas, quando ele viajou a Berlim, soube que o governo estava
concentrado no socorro à Opel, a principal subsidiária europeia da General
Motors.
"Ouvi primeiro que eles se importavam com a Opel", disse Jurk. "E, depois, que
eles se importavam com a... Opel."
A insolvência da Qimonda custou, direta ou indiretamente, 6.000 empregos na
região de Dresden.
A cidade começou a ser um centro de alta tecnologia em 1999, quando a Advanced
Micro Devices construiu ali uma fábrica de chips para fazer microprocessadores
de computadores pessoais. Fornecedores de coisas como tecnologia de salas limpas
surgiram na região, e, de 2002 a 2007, o número de pessoas empregadas na
indústria de semicondutores mais que duplicou, de 21 mil para 43 mil.
Neste ano, a AMD dividiu suas operações industriais com a Global Foundries, uma
joint venture com um investidor de Abu Dhabi, e continua sendo uma parte
importante da economia regional. Mas a Global Foundries, em vez de se expandir
ali, foi atraída por cerca de US$ 1,2 bilhão em subsídios para construir sua
nova fábrica em Saratoga, no Estado de Nova York.
Drescher, da Blue Wonder, diz que a Saxônia precisa se concentrar no que pode
fornecer -pessoas inteligentes-, em vez de tentar interferir em decisões de onde
os fabricantes de chips vão construir suas fábricas.
Mas ele também deu um recado a Jurk, que seu ministério continua remoendo. A
Blue Wonder precisa de chips de teste -produtos que incorporam seu projeto como
protótipos- e está pedindo ao Estado da Saxônia ajuda para financiá-los. A Blue
Wonder quer contar com a fábrica da Global Foundries em Dresden, que está ávida
para diversificar seu leque de clientes.
A ideia reflete as realidades políticas da Saxônia e, de fato, da Alemanha.
"Eu diria que a preferência por fabricar é pelo menos tão forte aqui quanto em
qualquer parte da Alemanha", disse Heinz Martin Esser, diretor-gerente da
Silicon Saxony, a associação setorial local da indústria. "Está no sangue dos
saxões", ele acrescentou.
Drescher alega que fazer as coisas não é mais tão crítico quanto antes.
A Qualcomm, uma das maiores fabricantes de chips de comunicação do mundo, não
possui fábricas. E o lugar onde a indústria começou acaba de perder sua última
fábrica de semicondutores, salienta Drescher. "A Saxônia do Silício não é mais
uma fábrica", ele disse. "É um banco de cérebros."
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