São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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Alemães substituem produtos por ideias

'Precisamos pôr dinheiro no que gera conhecimento'

Por CARTER DOUGHERTY

DRESDEN, Alemanha - Nos últimos meses, dois grandes fabricantes de chips de computador escaparam ao controle de Dresden, desafiando a ideia de que a região -que gosta de se considerar a "Saxônia do Silício"- poderá continuar produzindo milhões de equipamentos de alta tecnologia. Mas nem todos os moradores dessa pitoresca cidade alemã consideram isso ruim.
A perda provocou um debate sobre se o futuro de Dresden, na antiga Alemanha Oriental, deveria ficar mais em pesquisa e desenvolvimento em vez de manufatura, e poucos são mais apaixonados pelo lado intelectual do negócio de fabricação de chips do que os jovens empresários da Blue Wonder Communications. Com apenas quatro meses, a empresa pretende conseguir uma fatia do lucrativo negócio de projetar chips para a próxima geração de tecnologia sem fio.
Nenhum de seus empregados, quase todos engenheiros, fabricará alguma coisa de fato. "Precisamos investir em lugares que geram conhecimento, e não coisas", disse Wolfram Drescher, um dos dois executivos-chefes da companhia. "Se tudo o que tivéssemos fosse produção e não conhecimento, eu estaria na rua, desempregado."
A ideia de que a fabricação tradicional não deve ser necessariamente a base indispensável da economia é heresia na Alemanha. Mas, enquanto a China avança para suplantar a Alemanha como maior exportador mundial de produtos, as perguntas sobre onde investir para o futuro chegam ao centro de uma questão que os alemães apenas começam a enfrentar.
Os melhores exemplos dessa tensão vêm de Dresden. Neste ano, o maior empregador privado da região -a fabricante de chips Qimonda- faliu, enquanto outra empresa, a Global Foundries, investiu no interior de Nova York em uma nova fábrica que Dresden almejava para si.
A Qimonda, empreendimento de propriedade parcial da Infineon que fabricava chips de memória, pediu ajuda no início deste ano a Thomas Jurk, ministro da Economia da Saxônia. Mas, quando ele viajou a Berlim, soube que o governo estava concentrado no socorro à Opel, a principal subsidiária europeia da General Motors.
"Ouvi primeiro que eles se importavam com a Opel", disse Jurk. "E, depois, que eles se importavam com a... Opel."
A insolvência da Qimonda custou, direta ou indiretamente, 6.000 empregos na região de Dresden.
A cidade começou a ser um centro de alta tecnologia em 1999, quando a Advanced Micro Devices construiu ali uma fábrica de chips para fazer microprocessadores de computadores pessoais. Fornecedores de coisas como tecnologia de salas limpas surgiram na região, e, de 2002 a 2007, o número de pessoas empregadas na indústria de semicondutores mais que duplicou, de 21 mil para 43 mil.
Neste ano, a AMD dividiu suas operações industriais com a Global Foundries, uma joint venture com um investidor de Abu Dhabi, e continua sendo uma parte importante da economia regional. Mas a Global Foundries, em vez de se expandir ali, foi atraída por cerca de US$ 1,2 bilhão em subsídios para construir sua nova fábrica em Saratoga, no Estado de Nova York.
Drescher, da Blue Wonder, diz que a Saxônia precisa se concentrar no que pode fornecer -pessoas inteligentes-, em vez de tentar interferir em decisões de onde os fabricantes de chips vão construir suas fábricas.
Mas ele também deu um recado a Jurk, que seu ministério continua remoendo. A Blue Wonder precisa de chips de teste -produtos que incorporam seu projeto como protótipos- e está pedindo ao Estado da Saxônia ajuda para financiá-los. A Blue Wonder quer contar com a fábrica da Global Foundries em Dresden, que está ávida para diversificar seu leque de clientes.
A ideia reflete as realidades políticas da Saxônia e, de fato, da Alemanha. "Eu diria que a preferência por fabricar é pelo menos tão forte aqui quanto em qualquer parte da Alemanha", disse Heinz Martin Esser, diretor-gerente da Silicon Saxony, a associação setorial local da indústria. "Está no sangue dos saxões", ele acrescentou.
Drescher alega que fazer as coisas não é mais tão crítico quanto antes. A Qualcomm, uma das maiores fabricantes de chips de comunicação do mundo, não possui fábricas. E o lugar onde a indústria começou acaba de perder sua última fábrica de semicondutores, salienta Drescher. "A Saxônia do Silício não é mais uma fábrica", ele disse. "É um banco de cérebros."


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