São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Muda o governo do Japão, mas depressão continua

Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - O partido de oposição do Japão teve uma vitória arrasadora nas eleições de 30 de agosto, prometendo livrar-se das reformas pró-mercado no estilo americano, dar mais proteção aos trabalhadores e ajudar os setores tradicionais a tirar o país de sua longa depressão.
Mas, enquanto o futuro premiê Yukio Hatoyama prometia se afastar do "fundamentalismo de mercado" dos EUA, economistas em Tóquio dizem que o Japão talvez precise de mais desregulamentação e crescimento puxado pelo mercado, e não menos, para revigorar sua economia estagnada.
"'Reforma' tornou-se uma palavra feia" na política japonesa, disse Richard Jerram, economista-chefe para o Japão na Macquarie Securities. "Mas essas mudanças são cruciais."
Em um manuscrito amplamente lido em círculos econômicos e diplomáticos, Hatoyama, o líder do Partido Democrata do Japão, criticou o capitalismo no estilo americano como "despido de moral ou moderação".
A vitória de sua legenda contra o Partido Liberal Democrata, há muito no poder, representa uma reação dos eleitores às reformas defendidas pelo ex-premiê Junichiro Koizumi. Elas incluíam a liberalização do mercado de trabalho e forçar os bancos a cortar o apoio a empresas zumbis, tecnicamente vivas mas sem possibilidade de gerar lucros.
A plataforma dos democratas se concentra em benefícios como ajuda em dinheiro para famílias com filhos e impostos menores sobre a gasolina. Essas políticas poderão provocar o início da recuperação, aumentando os gastos do consumidor. Mas economistas dizem que recuar nas reformas será prejudicial ao crescimento do Japão em longo prazo.
O país é famoso por suas eficientes indústrias manufatureiras, mas seu setor de serviços, que constitui 70% da economia, é uma confusão ineficiente e super- regulamentada, segundo empresários e economistas. Evidências de baixa produtividade estão por toda parte: nos postos de gasolina, diversos funcionários se aglomeram em volta dos carros para limpar as vidraças; a adoção da informática nos escritórios foi surpreendentemente lenta. Os comerciantes japoneses, em média, empregam o dobro de funcionários que os dos países desenvolvidos.
Até agora, o Partido Democrata falou em tirar poder dos burocratas do governo para garantir que os gastos reflitam as necessidades públicas. Mas não teve muito a dizer sobre produtividade, deflação ou a maciça dívida pública.
"Os democratas estão se desviando do caminho das reformas, mas não vejo o que virá em seu lugar", disse Toshio Nagahisa, diretor-executivo do Instituto de Pesquisas PHP, de Tóquio, em um fórum recente. "Neste momento, acho difícil imaginar o futuro do Japão."


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