São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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PLANETA EM MUTAÇÃO

Vazamentos de gás intensificam mudança climática

Captar o metano que escapa pode conter o aquecimento global

Por ANDREW C. REVKIN e CLIFFORD KRAUSS

A olho nu, não havia nada para se ver num poço de gás natural no leste do Texas (EUA), além de grandes canos bege e tanques assando sob o sol. Mas, no visor da câmera infravermelha de Terry Gosney, três plumas pretas de gás se projetavam de vazamentos que, de outro modo, seriam invisíveis.
"Puxa, está escapando como louco", disse Gosney, coordenador de campo ambiental da EnCana, produtora de gás canadense que opera o poço de apenas um ano perto de Franklin, no Texas. "A coisa está feia." Alguns dias depois, os vazamentos tinham sido contidos por trabalhadores.
Esforços como o da EnCana poupam energia e dinheiro. Mas também são uma maneira barata e eficaz de conter a mudança climática que poderia ser replicada milhares de vezes dos EUA à Sibéria, segundo especialistas em energia. O gás natural consiste quase totalmente em metano, um poderoso gás que retém o calor e que, segundo os cientistas, representa até um terço da contribuição humana para o aquecimento global.
"Isso para mim está claro, mais ainda do que colocar lâmpadas fluorescentes compactas na sua casa", disse Al Armendariz, engenheiro da Universidade Metodista Sulina que estuda poluentes de campos de petróleo e de gás.
Agir rapidamente para conter a perda de metano poderá reduzir substancialmente o aquecimento em curto prazo, enquanto os EUA enfrentam o duro desafio de cortar o gás principal do efeito estufa, o dióxido de carbono, segundo sugerem estudos de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Ao contrário do dióxido de carbono, que pode permanecer na atmosfera por um século ou mais depois de liberado, o metano persiste no ar por cerca de dez anos. Por isso, conter as emissões de maneira agressiva hoje significa que haveria muito menos desse gás aquecendo a Terra dentro de uma década.
O metano também é um alvo valioso porque, enquanto é muito mais raro e mais fugaz que o dióxido de carbono, tonelada por tonelada ele prende 25 vezes mais calor, segundo os pesquisadores.
Enquanto programas internacionais incentivam as empresas a conter as emissões de metano de poços, oleodutos e tanques de gás e petróleo, esforços agressivos como o da EnCana ainda estão longe de ser a norma na indústria.
Em consequência, cerca de 84,9 bilhões de metros cúbicos vazam ao ar todo ano, sendo a Rússia e os EUA as fontes principais, segundo estimativa da Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana. E cientistas do governo e autoridades do setor advertem que o número real é quase certamente maior.
A menos que o monitoramento seja expandido, dizem eles, essas emissões poderão disparar ante o aumento da produção de gás natural global nas próximas décadas. Mas a indústria foi, de modo geral, resistente a uma limpeza agressiva. Em abril, o governo Obama indicou que poderá adotar regras que exigem que as maiores empresas americanas relatem todas as suas emissões de gases-estufa. Grupos da indústria de petróleo e gás alegaram que o custo e a complexidade de lidar com cerca de 700 mil poços são grandes demais. Em setembro, a EPA anunciou que o informe obrigatório começaria em 2011, mas que excluiria operações de petróleo e gás, pelo menos por enquanto.
Alguns cientistas rejeitam os argumentos da indústria. "Um atraso maior para descobrir e conter essas emissões seria irresponsável, diante dos benefícios financeiros e ambientais", disse F. Sherwood Rowland, Prêmio Nobel de Química da Universidade da Califórnia, em Irvine.
No plano internacional, a quantidade de metano que escapa de operações de gás e petróleo só pode ser avaliada aproximadamente. Mas, em 2006, a EPA estimou que a Rússia, maior produtor mundial de gás, fica em primeiro lugar, com 427 bilhões de pés cúbicos de metano escapando anualmente, seguida dos EUA com 346 bilhões, da Ucrânia com 225 bilhões e do México com 191 bilhões.
Refletindo as incertezas dessas estimativas, a Gazprom, monopólio estatal de gás da Rússia, estimou que suas emissões anuais no ano passado foram a metade desse número.
O uso de câmeras infravermelhas está se expandindo com a notícia da recompensa em gás economizado, disse Ben Shepperd, vice-presidente executivo da Associação de Petróleo da Bacia Permiana, que representa 1.200 empresas do setor no oeste do Texas. "Gostaríamos que mais pessoas fizessem isso", ele disse. "Elas ficam muito surpresas quando fotografam seu equipamento com essas câmeras e veem que há vazamentos em lugares que não esperavam."


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