São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Contra o aquecimento global, suecos analisam suas refeições

Por ELISABETH ROSENTHAL

ESTOCOLMO - Ao comprar cereais, Helena Bergstrom, 37, admitiu sua surpresa com o rótulo na caixa azul que dizia: "Clima declarado: 0,87 kg de CO2 por kg de produto". "Ainda não sei o que isso significa", disse Bergstrom, que é funcionária de uma empresa farmacêutica.
Mas, se um novo experimento der certo, ela e milhões de outros suecos logo vão descobrir. Novos rótulos que explicam as emissões de dióxido de carbono associadas à produção dos alimentos, desde macarrão de trigo integral até hambúrgueres, estão aparecendo em alguns itens nas mercearias e nos cardápios de restaurantes em todo o país.
As pessoas que adoram comer podem considerar isso uma bobagem. Mas modificar a própria dieta pode ser tão eficaz para reduzir as emissões de gases que afetam o clima quanto trocar de carro ou aposentar a secadora de roupas, dizem cientistas.
"Somos os primeiros a fazer isso, e é um novo modo de pensar", disse Ulf Bohman, diretor do Departamento de Nutrição na Administração de Alimentos da Suécia, que recebeu no ano passado a missão de criar novas diretrizes para alimentos, dando o mesmo peso ao clima e à saúde. "Estamos acostumados a pensar em segurança e nutrição como uma coisa, e meio ambiente, outra."
Algumas das novas diretrizes alimentares propostas, lançadas no semestre passado, podem parecer surpreendentes para os não iniciados. Elas recomendam que os suecos prefiram cenouras a pepinos e tomates, por exemplo. Eles são aconselhados a não comer muito peixe, apesar dos benefícios para a saúde, porque os estoques da Europa estão se esgotando.
E, um pouco menos surpreendente, são aconselhados a substituir carne vermelha por feijão ou frango, devido às fortes emissões de gases do efeito estufa associadas à criação de gado. "Para os consumidores, é duro", reconheceu Bohman.
"Você está recebendo conselhos ambientais que precisa coordenar com uma alimentação mais saudável."
Muitos suecos dizem que isso já é demais. "Eu gostaria de poder dizer que a informação me fez modificar o que eu como, mas não fez", disse Richard Lalander, 27, que comia um hambúrguer (1,7 kg de emissões de CO2) à sombra de um cardápio que informava que um sanduíche de frango (0,4 kg) seria melhor para o planeta.
Mas, se as novas diretrizes alimentares forem seguidas religiosamente, segundo especialistas, a Suécia poderá reduzir suas emissões da produção alimentar de 20% para 50%. Estima-se que 25% das emissões produzidas pelas pessoas nos países industrializados podem ser atribuídas à comida, segundo pesquisas recentes. E os alimentos variam enormemente nas emissões liberadas em sua produção.
Embora consumidores americanos ou europeus hoje sejam versados em verificar o conteúdo de nutrientes, calorias ou gorduras, muitas vezes não têm muita ideia de se comer tomates, frango ou arroz é bom ou ruim para o clima.
Estudos anteriores de emissões dos alimentos se concentraram nos altos custos ambientais do transporte de alimentos e da pecuária. Mas pesquisas mais detalhadas mostram que as emissões dependem de muitos fatores, incluindo o tipo de solo usado para plantar o alimento e se um laticínio usa ração local ou importada para alimentar o gado.
Alguns produtores afirmam que os novos programas são muito complexos e ameaçam os lucros. As recomendações dietéticas, que estão sendo incluídas para comentário não apenas na Suécia mas em toda a União Europeia, foram atacadas pela indústria da carne do continente, por criadores de salmão da Noruega e plantadores de óleo de palma da Malásia, para citar alguns.
"Isto é tentativa e erro; ainda estamos tentando ver o que funciona", disse Bohman.


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