São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Cervejarias driblam proibições na Malásia islâmica


Vender álcool em regiões muçulmanas é tarefa delicada


Por LIZ GOOCH
KUALA LUMPUR, Malásia - Como se faz para vender cerveja em um país onde 60% da população é muçulmana e proibida pelo governo de comprá-la?
Toma-se muito cuidado.
A Guinness Anchor, que tem a maior parcela de mercado entre as três cervejarias presentes na Malásia, comemorou recentemente o 250? aniversário da Guinness com um show do grupo Black Eyed Peas perto de Kuala Lumpur. A empresa teve de criar uma área separada para a venda de álcool e precisou concordar em não usar a palavra "Guinness" no evento ou na sua divulgação.
Num primeiro momento, os muçulmanos foram proibidos de assistir ao show, mas as autoridades acabaram mudando de ideia. Cerca de 16 mil pessoas passaram pelos portões. Não se sabe quantas delas eram muçulmanas.
"Direcionamos nossas atividades às comunidades chinesa e indiana na Malásia", contou Charles Ireland, diretor-gerente da cervejaria, referindo-se às maiores comunidades não muçulmanas do país. Apesar desses desafios culturais -e do fato de a Malásia impor um dos maiores ICMs (impostos sobre a circulação de mercadorias) do mundo sobre o álcool-, o consumo de cerveja no país vem se mantendo relativamente constante nos últimos dez anos. Analistas e produtores locais falam com otimismo cauteloso sobre a possibilidade de as vendas aumentarem gradativamente à medida que a economia melhora, que as rendas disponíveis sobem e que a população de 28 milhões de habitantes cresce.
O grupo de pesquisas de mercado Euromonitor International prevê que o consumo de cerveja na Malásia chegue a 144 milhões de litros neste ano e a 171 milhões de litros em 2014, contra 137 milhões de litros em 2008. Embora o álcool seja proibido em alguns países de maioria muçulmana, na Malásia os não muçulmanos são legalmente autorizados a consumir bebidas alcoólicas, que podem ser encontradas em supermercados, bares e restaurantes. Mesmo assim, o álcool ainda é um tema delicado.
Em julho, uma modelo muçulmana foi penalizada com chibatadas após ser flagrada tomando cerveja em um hotel. Na maioria dos Estados do país, muçulmanos flagrados com bebidas alcoólicas podem ser multados em até 3.000 ringgits (cerca de R$ 1.600), presos por dois anos, ou as duas coisas. Muçulmanos pegos vendendo álcool se arriscam a multa de até 5.000 ringgits e a pena de três anos de prisão.
O diretor-gerente da Carlsberg Malaysia, Soren Holm Jensen, disse que as cervejarias tiveram de adaptar sua estratégia de mar-keting, já que só podem anunciar seus produtos na mídia impressa e no cinema, visando exclusivamente o público não muçulmano. Segunda maior presença no mercado da Malásia, à frente da Napex Corporation, a Carlsberg usa na Malásia mais anúncios diretamente relacionados ao produto, enquanto em outros países tende a mostrar pessoas bebendo em contextos sociais, disse Jensen.
Com a retomada do crescimento econômico, alguns analistas preveem que o único fator adicional que poderá inibir o aumento das vendas de cerveja será uma elevação ainda maior no ICM. Segundo Jensen, o imposto já equivale a 7,40 ringgits por litro de cerveja. Com isso, a Malásia tem o segundo maior imposto sobre o álcool no mundo, perdendo apenas para a Noruega.
Em relatório recente, a Euromonitor atribuiu a decisão do governo de não elevar o imposto sobre a cerveja à alta nas vendas de bebidas alcoólicas na Malásia em 2008, somada ao poder de compra crescente dos consumidores e ao aumento do número de mulheres que consomem cerveja.
Neste ano, o Partido Islâmico Pan-Malaio tentou banir a venda de álcool nas lojas de conveniência na cidade de Shah Alam, de maioria muçulmana. A proibição não aconteceu, mas um deputado do partido que representa Shah Alam, Khalid Samad, disse que algumas lojas na região decidirem parar de vender álcool por iniciativa própria.
O professor Siti Zubaidah Ismail, do departamento de sharia e direito da Universidade da Malásia, disse que todos os anos cerca de 30 ações envolvendo malaios que tomam álcool costumam chegar aos tribunais.

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