São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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DIÁRIO DE ROBBEN ISLAND

Homens armados defendem sítio histórico de Mandela... dos coelhos

Por BARRY BEARAK
ROBBEN ISLAND, África do Sul - Esse monte de terra com apenas 2 km de largura e 3 km de extensão é onde Nelson Mandela passou 18 de seus 27 anos na prisão. Hoje venerado como Patrimônio Histórico Mundial, é uma das maiores atrações turísticas da África do Sul. Cerca de 1.200 pessoas por dia embarcam em ferry-boats na Cidade do Cabo que em 45 minutos as levam de volta à história.
Um trajeto de ônibus está incluído no passeio, e muitas pessoas que olham pelas janelas costumam notar coelhos que saltam perto da estrada. "Oh, veja, um coelho!", os visitantes exclamam, enquanto outros acrescentam: "E lá está outro, e mais um!"
De fato, a ilha está superlotada de coelhos, que se multiplicam nos índices incríveis pelos quais são famosos. Eles escavaram tocas sob os prédios históricos e despiram a ilha das plantas que impedem que o solo se transforme em poeira.
Para os administradores do lugar, os coelhos há muito tempo deixaram de ser inocentes peludos e são vistos como pragas enlouquecedoras. Uma abordagem começou a ter sucesso: caçadores saem à noite para matá-los.
Houve relutância em recorrer às armas. Com a libertação de Mandela, em 1990, a ilha tornou-se símbolo do triunfo determinado do espírito humano. A chacina dos pequenos mamíferos bigodudos parecia inadequada.
"Ninguém é a favor de derramar sangue, mas a ilha tem uma capacidade limitada, e os coelhos estão cavando sob as fundações de prédios históricos. Algo tinha de ser feito", disse Allan Perrins, diretor de um grupo local de proteção aos animais.
Chris Wilke, um dos caçadores contratados, diz que em uma noite calma e fresca ele consegue matar 25 animais por hora, incluindo o tempo que leva para desmontar de seu quadriciclo e recolher os cadáveres.
Desde meados de outubro, 5.300 coelhos foram mortos. Wilke estima que ainda haja cerca de 8.000 coelhos a serem eliminados.
"Não posso dizer que a matança seja divertida, mas eu me sinto bem com isso", disse Wilke. O recipiente plástico em seu veículo estava quase cheio de carcaças. "É um trabalho de conservação. Os coelhos não pertencem a este lugar. Estão devastando a ilha."
Houve pouca resistência organizada à caçada, embora vários ativistas dos direitos animais estejam revoltados, alegando que a matança sugere o espírito do apartheid, com os coelhos sendo considerados indignos de viver.
O governo da ilha anunciou que a carne dos animais seria doada aos pobres. Mas, embora a África do Sul tenha uma abundante população necessitada, poucas pessoas parecem habituadas ao sabor do coelho.
Por enquanto, a carne permanece em um grande congelador no abatedouro da ilha. Os coelhos indesejáveis de Robben provavelmente voltarão à cadeia alimentar durante as refeições nas reservas de guepardos do país.


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