São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Respiração das plantas dá pistas sobre economia de água


Manipulação poderá criar plantações mais eficientes


Por SINDYA N. BHANOO
Novas informações sobre como as plantas respiram poderão ajudar os cientistas a produzir plantas que precisam de menos água, segundo estudo publicado na revista "Nature Cell Biology".
Embora se saiba há meio século que os poros de uma planta, chamados estômatos, podem se abrir em grau variável, dependendo da concentração de dióxido de carbono no ar, até agora os cientistas não compreendiam como o processo funcionava, disse Julian Schroeder, principal autor do estudo e professor de biologia na Universidade da Califórnia, em San Diego. Seu estudo identificou os sensores específicos que detectam o dióxido de carbono e fazem os poros das plantas se abrirem para respirar.
Quanto mais a planta consegue manter seus poros fechados, menos água ela perde e de menos água necessita para crescer. E, como os níveis de dióxido de carbono estão 40% mais altos do que na época pré-industrial, pareceria que as plantas agora poderiam obter dióxido de carbono suficiente sem perder muita água.
"Normalmente, para cada molécula de CO2 que uma planta absorve, ela perde 200 moléculas de água", disse Schroeder. "É uma quantidade enorme."
A estratégia de economizar água não funciona para todas as plantas, e o problema é sua eficiência para detectar o CO2. Plantas com sensores eficientes podem economizar água. Mas outras com receptores de dióxido de carbono fracos não conseguem detectar bem os níveis maiores e perdem a chance de conservar água, disse o cientista.
Seu laboratório descobriu que, ao acrescentar cópias extras das proteínas receptoras, chamadas anidrases carbônicas, os poros ficam mais fechados, a eficiência hídrica aumenta, e as plantas ainda obtêm dióxido de carbono suficiente. Schroeder disse que a manipulação genética de certas plantas poderá dar aos agricultores plantações mais eficientes.
"Poderia ser útil na Califórnia, por exemplo", disse. "O que vemos é que as plantas conseguem crescer, mas precisam de menos água." Na Califórnia, 79% das águas desviadas das correntes e rios e bombeadas do solo são usadas na agricultura, segundo o Departamento Estadual de Recursos Hídricos.
Wolf Frommer, biólogo da Universidade Stanford que não participou do estudo, disse que enquanto os seres humanos encontraram maneiras de combater as crescentes emissões de CO2 e de administrar um suprimento de água cada vez menor, o estudo oferece uma forma de ajudar as plantas a enfrentar as mudanças ambientais. "Com o aquecimento global, pelo menos podemos fornecer soluções potenciais", disse. "Se compreendermos como isso funciona, poderemos criar plantas usando abordagens transgênicas."
Mas há um problema para ajudar as plantas a conservar água. Quando elas liberam umidade pelos poros, refrescam suas folhas, assim como o suor refresca as pessoas. Isso as impede de secar, especialmente em áreas desérticas.
Mas Frommer explicou que a bioengenharia é um processo lento. Ele disse que pode haver outro gene ainda não descoberto que, se manipulado, poderá levar uma planta a abrir os poros quando suas folhas estiverem secas. "É preciso pensar em uma solução integrada", disse. "É o que a evolução tem feito há bilhões de anos. Precisamos fazer mais rápido para alimentar a população crescente."


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