São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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LENTE

Um sentido de lugar

Proibições de importação estão na moda, o livre mercado anda mais restringido, e de repente a origem das coisas interessa.
O Iraque impôs um embargo a importações de legumes de países como Turquia, Irã e Síria, para estimular sua agricultura. A China dificultou a importação de alimentos, vetando a carne de porco irlandesa. A Índia proibiu os brinquedos chineses. E a Argentina aumentou as exigências para o licenciamento de autopeças, produtos têxteis e de couro, escreveu Mark Landler no “New York Times”.
A recessão e o encolhimento do comércio global parecem acompanhar uma busca por segurança e sentido de territorialidade. “A forma como os produtos são feitos está no radar dos consumidores”, disse Reinier Evers, fundador da “Trendwatching.com”, que monitora hábitos de consumo, a Tracey Taylor, do “Times”.
Algumas empresas estão se beneficiando dessa atenção às origens. A Heath Ceramics, na Califórnia, EUA, faz tudo por conta própria, da mistura do barro à vitrificação da cerâmica, relatou o “Times”. As vendas da Heath aumentaram em 2008, e seus proprietários acham que seu “jeito idiossincrático de fazer as coisas e suas raízes geográficas podem ser a sua salvação”.
Descobrir tais raízes se tornou especialmente importante quando se trata de comida. As preocupações com a segurança alimentar, a qualidade e o custo estão levando os consumidores a buscarem produtos que tenham viajado menos e que sejam identificáveis, escreveu Kim Severson no “Times”.
Grandes empresas, como a Frito-Lay, adotaram uma interpretação ampla do termo “comer localmente”. “Cultivamos batatas na Flórida, e a Lays faz batatas fritas na Flórida —é uma combinação boa”, diz um agricultor numa propaganda da marca, citada por Severson na reportagem. Jessica Prentice, escritora de gastronomia na região de San Francisco, disse a Severson que “você sabe que o fenômeno dos ‘locávoros’ está tendo um impacto quando as corporações começam a cooptá-lo”.
Algumas empresas permitem que os consumidores monitorem seus alimentos pela internet, relataram Brad Stone e Matt Richtel no “Times”. Um consumidor pode comprar farinha de trigo integral do moinho Stone-Buhr, em San Francisco, e depois ir ao site “findthefarmer.com”, digitar o código do lote que consta na embalagem e fazer perguntas aos produtores rurais ligados à empresa.
“A pessoa que coloca aquele bolinho na boca agora pode dizer: ‘Ah, tem uma pessoa de verdade por trás disso’”, disse ao “Times” Read Smith, administrador de uma propriedade agropecuária no leste de Washington.
Bananas podem ser monitoradas pelo “Doleorganic.com”, que traz informações sobre fazendas da América Latina. A origem do chocolate Askinoisie, do Missouri, pode ser identificada por meio do site até as plantações de cacau do México, do Equador ou das Filipinas. Os clientes da rede britânica de supermercados Waitrose podem assistir vídeos sobre quem cultiva batatas, cocos e abacaxis, escreveram Stone e Richtel.
As pessoas estão cavando mais fundo e prestando atenção aos detalhes. Seja por curiosidade ou porque a crise econômica as compeliu a querer mais personalização ou algo mais do que o superficial, “a questão do onde, é realmente importante”, escreveu Prentice.


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