São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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Tendências Mundiais

Presidente é inspiração e filão para pintores

Por RANDY KENNEDY

O trabalho de Mimi Torchia Boothby na fábrica da Boeing, no sul de Seattle, a coloca a semana inteira ao lado de um túnel de vento, mas há dois anos ela dedica seu tempo livre a aquarelas. Entre seus temas favoritos estão gatos, cenas idílicas da Itália e, naturalmente, Barack Obama, cujo retrato contemplativo e ensolarado ela completou algumas semanas depois da eleição dele como presidente dos EUA.
Ficou tão feliz com o resultado que começou a oferecer cópias de qualidade pela web e já vendeu mais de duas dúzias desde então, por US$ 40 cada —sua orgulhosa estreia como artista profissional. “Digamos que foi viral”, disse Boothby, 57. “A maioria das pessoas que comprou era gente que eu nem conhecia.”
Talvez John Kennedy, cujo retrato empoeirado ainda pode ser visto em cozinhas, barbearias e bares dos EUA, tenha sido o último presidente a ter estimulado tanto os talentos pictóricos de artista amadores e profissionais.
A campanha de Obama já havia sido notória por inspirar a arte, inclusive o onipresente cartaz “Hope”, de Shepard Fairey, que agora tem uma versão na National Portrait Gallery, em Washington. Meses depois da eleição, porém, era de se esperar que o entusiasmo pela arte obamista estivesse se enfraquecendo.
Mas a ampla oferta de pinturas originais retratando o presidente e a primeira-família à venda no eBay e em lugares como a Feira da Arte Acessível, evento anual em Nova York —junto com uma leva de sites com nomes como obamaartreport.com (relatório artístico de Obama), artofobama.com (arte de Obama) e, inevitavelmente, badpaintingsofbarackobama.com (pinturas ruins de Barack Obama)—, são indicações de que o setor pode mesmo estar crescendo.
O fenômeno é uma dádiva para as fábricas de quadros amontoadas nos subúrbios de Shenzhen, na China, famosas por suas grandes tiragens de reproduções de obras-primas, paisagens e nus de gosto duvidoso. Outro ateliê, aparentemente alemão, oferece solenes Obamas em meio a retratos pintados com aerógrafo de Bruce Lee e Al Pacino (em seu papel de “Scarface”), anunciados como telas “realmente enfeitadas à mão”.
O interesse do mercado também ajudou artistas de alcance limitado, como Dan Lacey, da pequena Elko, Minnesota, que se autointitula um conservador desiludido e no ano passado ficou conhecido na blogosfera com seus retratos inexplicavelmente estranhos de John McCain e Sarah Palin com panquecas amontoadas em cima da cabeça.
Ultimamente, ele tem se dedicado a Obama, produzindo retratos convencionais prontos para o eBay —“Odeio dizer isso, mas posso fazer um desses em cerca de uma hora”— e também obras mais extravagantes, como as que mostram o 44° presidente dos EUA nu sobre um unicórnio, lutando contra um urso em Wall Street ou assumindo o comando do avião da US Airways que pousou no rio Hudson.
Entre os clientes de Lacey no eBay está Gary Rogers Wares, gerente de uma fábrica de materiais de escritório e presentes na Califórnia, que já tem em seu escritório um Obama em tom dourado e acaba de adquirir outro em um leilão por US$ 28.
“Queria uma pintura porque é algo único (...), como nosso presidente”, disse Wares. “Isso é histórico, e você quer algo que seja como uma relíquia de família.”
Uma pesquisa no eBay sob a categoria “pinturas de Obama”, a maioria delas originais (excluindo cartazes e gravuras), encontrou 787 obras à venda entre meados de fevereiro e meados de maio, gerando quase US$ 20 mil, a um preço médio de US$ 118 por obra, segundo Karen Bard, assessora de imprensa do site de leilões.
Obras caras de artistas conhecidos parecem não ter tanta saída —um retrato de Obama por Peter Max, que poderia ser arrematado por US$ 17 mil, ainda não encontrou comprador. Mas pinturas em diversos estilos —cubista, pop, pós-impressionista, arte folclórica, arte de rua e o que poderia ser chamado de neotolkienesco— chegaram a ser vendidas por centenas de dólares.
Lacey, que admite ceder pinturas por a partir de US$ 1 na internet, recentemente recebeu uma encomenda para pintar algo com o tema do unicórnio e do presidente.
Ele pretende pegar carona na arte presidencial enquanto isso o sustentar. No governo anterior, ele também tentou emplacar alguns retratos de George W. Bush. “Realmente não dava para vendê-los”, contou ele, num tom que misturava arrependimento e sinceridade profissional.


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