São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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China quer limitar petróleo importado


O objetivo de Pequim é que seus carros consumam pouca gasolina

Por KEITH BRADSHER

HONG KONG — Preocupadas com sua forte dependência do petróleo importado, as autoridades chinesas redigiram padrões de economia de combustível em automóveis que são ainda mais rígidos que os apresentados recentemente pelo presidente dos EUA, Barack Obama, disseram em maio especialistas chineses que têm conhecimento detalhado dos planos.
Pelo projeto, as montadoras chinesas terão que aumentar a economia de combustível de seus automóveis em mais 18% até 2015. A informação é de An Feng, presidente do Centro de Inovações em Energia e Transportes, organização sem fins lucrativos de Pequim. O plano está em processo de aprovação por órgãos do governo, que procura os pareceres de montadoras, e deverá ser anunciado no início de 2010, disse An Feng.
Michael Dunne, diretor administrativo para a China na consultoria J.D. Power & Associates, comentou que montadoras japonesas, sul-coreanas e alemãs têm modelos de carros muito pequenos que podem começar a produzir na China se encontrarem dificuldade em adequar-se aos padrões novos para os modelos maiores.
“O impacto de curto prazo vai favorecer a China, sem dúvida”, disse Dunne. “As montadoras globais dão importância tão grande a esse mercado que farão o que for preciso e se adaptarão.”
As montadoras têm reagido com cautela. “A Ford China fica satisfeita por fazer parte do processo de consulta sobre a eficiência de combustível”, disse a porta-voz da empresa, Whitney Small. “Seria inapropriado darmos declarações prematuras sobre uma discussão que está em andamento.”
A economia de combustível média de veículos familiares na China já é maior que nos EUA (mas não tão grande quanto na União Europeia e no Japão), principalmente porque os carros chineses costumam ser bem menores —e seguem encolhendo graças a mudanças recentes nos impostos.
Hoje os carros com motores pequenos pagam imposto de 1% sobre as vendas, enquanto os utilitários esportivos com os motores maiores pagam 40%. A adoção de critérios mais rígidos de economia de combustível já ganhou o apoio de quatro grupos de interesse no governo chinês, informou um funcionário do governo que exigiu anonimato porque não estava autorizado a comentar o assunto.
Muitos no governo enxergam uma necessidade estratégica e geopolítica de reduzir a dependência chinesa sobre o petróleo importado, disse o funcionário. Até 1995 a China era autossuficiente em petróleo, mas a demanda cresceu, e a China hoje importa quase 60% do petróleo que consome. Boa parte dessas importações vem de países potencialmente instáveis e chega por vias marítimas controladas pela Marinha americana. Outros no governo se preocupam em limitar a poluição do ar e veem a redução na combustão total de gasolina como uma forma de consegui-lo.
Ainda outros setores do governo se preocupam com o potencial dos esforços internacionais para limitar as emissões chinesas de gases-estufa ou enxergam a economia maior de combustível como maneira de elevar a competitividade das exportações chinesas de automóveis.
A China emprega um sistema diferente do americano para regulamentar a economia de combustível. O país fixa padrões mínimos para veículos em 16 categorias de peso e testa apenas a economia de combustível em áreas urbanas, não em rodovias.
O ajuste a essas diferenças é difícil e polêmico. An Feng estimou que um automóvel, minivan ou veículo esportivo novo médio na China já consegue o equivalente a 15,2 quilômetros por litro de combustível este ano, baseado no sistema americano de medida de médias, e que a exigência será que em 2015 consiga render 18 km por litro.
Em comparação, nos EUA, Obama anunciou recentemente que cada montadora terá que alcançar a média de 15,1 km por litro em seus modelos até 2016. Na União Europeia, o padrão hoje é de 18,3 km por litro, com a meta de chegar a 21,2 km até 2016. O Japão exige 18,2 km por litro.
Segundo vários representantes da indústria automotiva, os novos padrões de economia de combustível anunciados pela China poderão favorecer as montadoras chinesas às expensas das multinacionais.
Isso se dará porque as novas normas pedem mais economia de combustível —podendo chegar a 26%— para automóveis compactos e de dimensões médias, segmentos do mercado nos quais as multinacionais são fortes. Os modelos subcompactos, um mercado no qual as montadoras chinesas são mais fortes, terão que aumentar sua quilometragem por litro apenas em até 9% em comparação aos padrões atuais, que entraram em vigor em 1° de janeiro.
Carros grandes, minivans e utilitários enfrentarão aumentos percentuais entre esses dois extremos. A China já reprimiu esses veículos dentro das normas atuais, fixando para eles critérios muito altos de quilometragem por litro de gasolina.


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