São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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Apesar dos tumultos, a Síria é oásis para iraquianos

Vizinhos cansados da guerra buscam segurança na Síria

Por TIM ARANGO

BAGDÁ - Em uma estação rodoviária local, de onde partem ônibus com destino à Síria dezenas vezes por semana, a distância entre os dois países convulsionados é medida pelas noções de prosperidade e segurança.
"Aqui é muito quente, e o Ramadã está chegando", disse Majid Shamis, um iraquiano que seguia para dois meses de férias na Síria. "A eletricidade é melhor lá. Até a situação de segurança é melhor."
Pessoas do mundo inteiro leem as manchetes sobre a violência e o tumulto na Síria, onde o governo empreende uma repressão brutal à população, reagindo à recente contestação ao seu poder. Mas, no Iraque, a Síria ainda representa uma espécie de oásis. Os iraquianos começaram a fugir para lá anos atrás, para escapar da guerra liderada pelos americanos e do banho de sangue entre seitas que se seguiu.
Durante a guerra, a Síria recebeu quase 300 mil refugiados iraquianos -mais do que qualquer outro país da região, segundo o Alto Comissariado para Refugiados da ONU. Hoje, enquanto a Síria enfrenta seus próprios tumultos, poucos iraquianos estão voltando para casa. Na verdade, o número de iraquianos que parte para a Síria é muito maior do que o que volta, disse Brian C. Vaughan, representante-assistente no escritório da ONU.
"Lá, você pode relaxar", disse Ali Mohammed, um barbeiro que trocou Najaf, no Iraque, pela Síria em 2005, depois que foi ameaçado por cortar cabelos em um estilo que ofendia a versão de islamismo adotada pelo Exército do Mahdi, a milícia que responde ao militante religioso Moktada Al Sadr.
Yasir Rashid, 21, partia sozinho para as férias. "A vida lá é maravilhosa, as mulheres são lindas", disse Rashid. "Isso é o mais importante. Liberdade e segurança, tudo."
Quatro ou cinco ônibus partem diariamente desta estação para a Síria. Uma passagem custa cerca de US$ 25, e os negócios parecem florescentes. "O número de pessoas que deixa o Iraque pela Síria aumentou por causa das férias de verão", afirmou o gerente de uma empresa de ônibus Abu Muhammad.
Motoristas de ônibus dizem que os tumultos não prejudicaram os negócios. "Está estável, muito normal", disse Farras Ali, um motorista que faz a viagem para a Síria três vezes por semana. "A mídia está fazendo a coisa parecer muito maior do que é."
É claro que muitos iraquianos que viajam de Bagdá vão diretamente para Damasco, a capital, e não para as regiões do norte, onde ocorrem protestos, e a repressão já deixou quase 1.500 mortos.
A relação entre Síria e Iraque tem uma história sinuosa. Depois da Primeira Guerra, a Síria ficou sob o império colonial francês, enquanto os britânicos dominaram o Iraque. Ambos estabeleceram governos baathistas rivais, e, na guerra do golfo Pérsico em 1991, a Síria apoiou a coalizão que expulsou as forças de Saddam Hussein do Kuait.
No início da guerra atual, o Iraque acusou a Síria de ser uma fonte de extremistas ou o ponto de passagem para os que vinham para cá tornar-se homem-bomba. Mas a violência no Iraque diminuiu, bem como os combatentes estrangeiros que chegam da Síria, o que fez as tensões arrefecerem.
Enquanto os iraquianos experimentam sua vagarosa luta pela democracia e testemunham outras semelhantes na Síria, alguns foram inspirados a alimentar seu próprio movimento de protesto. Quase toda sexta-feira, grupos de manifestantes se reúnem na Praça Tahrir em Bagdá.
Outros iraquianos, porém, especialmente os viajantes na estação rodoviária, estão cansados dos anos de guerra. O barbeiro Mohammed, de Najaf, disse sobre os levantes árabes: "Não me importo com o que está acontecendo. Como um iraquiano desalojado, só quero segurança".

Colaboraram os profissionais Duraid Adnan e Yasir Ghazi



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