São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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ARTE & ESTILO

O sétimo filme da série dos macacos vai estrear

Por TERRENCE RAFFERTY

A evolução das espécies dura milênios. As franquias da cultura pop não têm tanto tempo.
"Planeta dos Macacos: a Origem", de Rupert Wyatt, que estreia em todo o mundo neste mês, é o sétimo filme sobre os símios evoluídos inventados por Pierre Boulle em sua novela de 1963, "Planeta dos Macacos", e o primeiro nos últimos dez anos. O mais recente da história, dirigido por Tim Burton, foi um remake da adaptação original de 1968 por Franklin J. Schaffner da novela de Boulle; o primeiro filme gerou quatro sequências, algumas séries de TV, uma linha de livros de quadrinhos e uma selva de mercadorias, antes que a marca perdesse força. Os macacos tiveram um longo percurso, mas nada dura para sempre.
A ideia de Boulle, porém, é tão poderosa que talvez seja imune às vicissitudes da seleção natural -e até da artificial. Ele imaginou um mundo de ponta-cabeça em que os macacos, nossos ancestrais, se tornaram mais civilizados do que os seres humanos e se sentem perfeitamente à vontade em nos tratar como animais idiotas: caçam-nos por esporte, nos mantêm em gaiolas, usam-nos como sujeitos de experimentos científicos extremamente desagradáveis.
No primeiro filme da série "Planeta dos Macacos", os seres humanos não parecem merecer respeito: eles não conseguem raciocinar e não usam a linguagem. Quando três astronautas americanos pousam no planeta, os macacos não distinguem esses novos espécimes da espécie subdesenvolvida a que estão acostumados. Um dos terráqueos, chamado Taylor (Charlton Heston), tenta convencer seus captores de que ele é diferente, mas não é fácil; a existência de um ser humano racional e articulado é uma afronta para a ciência e para a religião dos primatas.
É uma ideia esperta, de um tipo que caracterizou a velha escola da ficção científica: a fantástica premissa "e se?", que permite que o autor examine as condições do seu próprio tempo de uma perspectiva diferente. A novela e o primeiro filme saíram no auge da Guerra Fria. Na famosa sequência final do filme, Taylor, depois de escapar dos macacos, vê a cabeça da Estátua da Liberdade na praia e percebe com horror que ele esteve o tempo todo em uma Terra pós-holocausto nuclear (graças à relatividade, sua odisseia no espaço o levou alguns milhares de anos para o futuro).
As sequências são de qualidade variada. "De Volta ao Planeta dos Macacos" (1970) e "A Batalha do Planeta dos Macacos" (1973) são realmente terríveis; "A Conquista do Planeta dos Macacos" (1972) tem ritmo rápido e uma agradável falta de vergonha de ser filme B. "A Fuga do Planeta dos Macacos" (1971), dirigido por Don Taylor, é, na verdade, muito bom; como a novela e o primeiro filme, é mais sobre ideias (e piadas) do que uma ação espetacular com primatas.
Em conjunto, os filmes constituem uma mitologia elaborada e, na maior parte, coerente: um livro do Gênese alternativo e mais cabeludo. Mas o novo "Planeta dos Macacos: a Origem" atribui a origem da superespécie à engenharia genética: ansiedades diferentes para tempos diferentes.
Essa reinvenção de uma escritura pop é um risco. Mas é provavelmente inevitável. O show business, como a evolução, é um processo inclemente: os que deixam de se adaptar são condenados à extinção. O verdadeiro perigo é violar a natureza básica do tipo de ficção científica da série original.
É difícil os seres humanos do século 21 resistirem à tentação da tecnologia, e as capacidades de efeitos especiais do cinema melhoraram exponencialmente nas quatro décadas desde que Heston enfrentou um bando de atores vestidos de macacos. O filme utiliza, como fez "Avatar", o que se chama de tecnologia de captura de performance, com um ator humano modelando gestos e expressões que serão digitalizados para a tela. Os macacos terão aparência e movimentos melhores do que nunca. Mas a ficção científica da era dos macacos originais, com seus hoje risíveis efeitos primitivos, de certa maneira se beneficiou de sua crueza técnica: o espetáculo raramente atrapalhava as ideias.
A beleza das melhores ideias da ficção científica é que elas nos incentivam a adotar uma visão mais extensa do que estamos acostumados. Se "Planeta dos Macacos: a Origem" der a seu público esse tipo de perspectiva, terá valido a pena esperar. Mas, nesse caso, vamos querer a sequência imediatamente.


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