São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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Europa consome fracassos vistos na Broadway

Por PATRICK HEALY

BRINKHOFF MÖGENBURG
"Shrek: o Musical" custava US$ 640 mil por semana de apresentação em NY; versão em Londres, acima, custa quase a metade disso

LONDRES - Existe vida depois da Broadway. Conforme os orçamentos dos musicais de Nova York cresceram -de US$ 10 milhões a US$ 15 milhões é o padrão-, o mesmo ocorreu com o incentivo financeiro para consertar fracassos. Alemanha, Holanda e Japão estão entre os países que demonstraram apetite por musicais americanos.
"Os shows podem perder muito dinheiro na Broadway e ainda assim ter um futuro", disse Bono, vocalista do U2 que é um dos compositores de "Spider-Man: Turn Off the Dark", sobre a produção de US$ 75 milhões hoje em cartaz em Nova York. "A próxima versão de 'Homem-Aranha' que passará em outras cidades terá algumas diferenças da versão da Broadway. Trabalhando duro, qualquer coisa pode ser melhorada."
Em uma matinê recente aqui de "Shrek, o Musical", as crianças gritavam de prazer enquanto o Burro era perseguido por um boneco de dragão fêmea. Na Broadway, onde o musical desprezado pela crítica encerrou a temporada depois de 14 meses, o dragão era imóvel, e a cena ficava sem graça. Mais tarde, na apresentação modificada em Londres, quando o dragão voou sobre o público, os espectadores aplaudiram.
"Quando a pressão e a tensão da Broadway acabam, você fica surpreso com as ideias apresentadas por sua mente", disse Rob Ashford, o diretor da Broadway que, com Jason Moore, dirigiu "Shrek".
Os cenários maciços para "Sunset Boulevard", de Andrew Lloyd Webber, e uma certa exposição em "Les Misérables" foram modificados depois da temporada em Nova York, assim como sucessos mais antigos como o musical "Showboat", de Oscar Hammerstein II-Jerome Kern, e a ópera de Gershwin "Porgy and Bess".
Mas poucos musicais podem se equiparar à virada de "Tarzan". Baseado no filme de animação da Disney de 1999, "Tarzan" estreou na Broadway em 2006 com um custo divulgado de US$ 12 milhões a US$ 15 milhões. Os críticos o odiaram, e uma notícia de encerramento foi publicada depois de apenas 15 meses.
Então, Thomas Schumacher, presidente da Disney Produções Teatrais, adotou uma visão alternativa apresentada por Joop van den Ende, um importante produtor de teatro holandês cuja companhia, a Stage Entertainment, é uma força dominante em turnês internacionais de musicais. Schumacher disse que Van den Ende acreditava que o show carecia principalmente da "natureza e do sentimento épicos que a aventura na selva merecia".
O "Tarzan" reformulado ficou em cartaz de 2007 a 2009 no teatro de Van den Ende em Scheveningen, na Holanda. O show foi apresentado para cerca de 1,6 milhão de pessoas e deu lucro. "Tarzan" estreou em 2008 em Hamburgo, onde continua em cartaz.
"Hamburgo é a Broadway da Alemanha e talvez da Europa, já que muitas pessoas vão para lá para ver espetáculos", disse Ron Kollen, vice-presidente sênior de produções internacionais da Disney Teatral.
Schumacher disse que ele e Van den Ende estavam trabalhando em uma revisão de "A Pequena Sereia", da Disney, que também foi uma decepção comercial na Broadway. A versão reestruturada deverá ir para a Europa.
Outro musical da Broadway baseado em um filme popular, "Legalmente Loira", estreou em 2007 com críticas predominantemente negativas. Mas, enquanto esse show não ganhou um único prêmio Tony (honraria mais alta da Broadway), a versão londrina ganhou neste ano três prêmios Olivier (a maior honraria teatral aqui), incluindo o de melhor musical.
Jerry Mitchell, que dirigiu o musical na Broadway e em Londres, disse que, embora o show não tenha mudado, a versão de Londres ficou melhor por causa do tamanho mais intimista do teatro.
A principal produtora por aqui, Sonia Friedman, viu outra mudança crucial. "Acho que levamos a comédia muito mais adiante em Londres", disse Friedman. O público britânico é conhecido por gostar de rir de personagens americanos, ela completou.
O custo menor em Londres também ajudou: a montagem de "Legalmente Loira" custou cerca de US$ 4 milhões aqui, comparados com US$ 15 milhões na Broadway, disse Friedman, enquanto os custos semanais de encenação são de US$ 300 mil comparados com os de US$ 650 mil em NY.
Os custos de "Shrek" também são quase a metade dos US$ 640 mil de despesas semanais na Broadway. O show tem faturado cerca de US$ 300 mil líquidos por semana, disse a produtora Caro Newling. Ela afirmou que o show tem praticamente casas lotadas nos fins de semana.
Newling e seu sócio produtor na DreamWorks Theatricals, Bill Damaschke, disseram que os efeitos técnicos elaborados na Broadway provocaram "um peso e uma literalidade que mataram um pouco da graça".
Quanto a "Homem Aranha", um porta-voz do musical disse que seus produtores estão avaliando os mercados da América do Norte, da Europa e da Ásia. "A Broadway é só uma escala para nós", disse Bono.


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