São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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A classe privilegiada criativa cubana faz suas 'panelinhas'

Por GUY TREBAY

Em Cuba, não falta o chamado "beautiful people". Qualquer visitante à ilha ou a seu país-satélite, Miami, sabe muito bem disso.
Mas um regime comunista sem classes oficialmente não tolera grupos privilegiados, elites sociais, especialmente as que se consideram "beautiful people". E assim, enquanto o país avança inexoravelmente para a metamorfose política prevista para depois da morte de Fidel Castro, persiste a imagem de uma Cuba cujos cidadãos dirigem carros antigos, usam roupas desbotadas e, geralmente, habitam a bolha mostrada no filme "Buena Vista Social Club".
Existe outra Cuba, é claro. Certamente, existe outra Havana, confiante e glamourosa, povoada por artistas, modelos, cineastas e escritores, que o fotógrafo Michael Dweck conheceu durante uma visita em 2009.
"Em minha primeira noite lá, eu conheci alguém que me convidou para uma festa", disse Dweck, um ex-executivo da publicidade e hoje fotógrafo, cujo livro "The End" sobre Montauk, a cena do surfe de Nova York, tornou-se objeto de culto (os exemplares custam US$ 3 mil).
Por sorte, essa apresentação casual o levou diretamente ao centro de um grupo excepcional, uma das "panelinhas" que caracterizam um setor da vida social da ilha dominado por membros chamados por Dweck de "classe privilegiada criativa".
Voltando à ilha oito vezes, Dweck decidiu documentar esses chamados novos cubanos, um grupo de "pessoas muito elegantes, sofisticadas e talentosas" que inclui personagens como Alejandro Castro Soto del Valle e Camilo Guevara, cujos sobrenomes podem lembrar sua origem.
O livro de Dweck, "Habana Libre", é vendido por encomenda.
De alguma forma, talvez não tão misteriosa, a "panelinha" que Dweck conheceu tem acesso incomum a brinquedos e instrumentos capitalistas como iPhones, Blackberries e Google. Seus membros montam desfiles de moda e festas. Eles têm uma aparência tão fashion quanto se poderia esperar do outro lado da água, em Miami Beach, apesar de, na realidade, não haver lojas em Havana.
"Esta será a próxima geração", disse Dweck. "Quando Cuba se abrir, daqui a um ou dois anos."
Enquanto as imagens mais intrigantes de um livro fotografado no estilo simples de Dweck, com foco suave e em branco e preto, são as que retratam os filhos de revolucionários brincando com modelos de moda e fumando gordos charutos, não são a única surpresa.
"Afinal, o livro é uma narrativa dessa classe privilegiada", disse Dweck.
À sua maneira bonita e quase triste, o livro retrata uma curiosa distorção em um grande arco histórico.
"Cuba tem pobreza econômica, e não pobreza humana", diz Viviana Limpias, vice-representante da Unicef em Cuba, em "Habana Libre", traçando uma distinção que lembra uma Cuba antiga, pré-revolucionária.


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