São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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ANÁLISE

Uma mal desenhada vitória americana


Pactos dos EUA com os iraquianos são flexíveis e vagos

Por STEVEN LEE MYERS

WASHINGTON - Os acordos de segurança entre o Iraque e os EUA marcam o começo do fim da guerra. Mas os termos dos acordos geram incertezas que podem atrapalhar a retirada ordenada das tropas americanas do Iraque.
Os acordos -um "quadro estratégico" amplo e um pacto de segurança mais detalhado que foram ratificados pelo Parlamento iraquiano em 27 de novembro- fixaram um prazo final que os críticos da guerra procuram há muito tempo. Eles prevêem que todas as forças americanas deixem o Iraque até no máximo 31 de dezembro de 2011, mas não traçam um cronograma para as retiradas e, teoricamente, podem acrescentar mais três anos a uma guerra que já dura cinco anos e meio.
Os EUA também concordaram em tirar todas as suas forças de combate de cidades e povoados iraquianos até o final de junho de 2009, embora o acordo seja vago sobre o que são "tropas de combate" e exatamente para onde elas serão transferidas. Essas decisões foram deixadas a cargo do Comitê Conjunto de Coordenação de Operações Militares, organismo formado por americanos e iraquianos que pode mostrar-se tão desajeitado quanto a sigla pela qual é conhecido, JMOCC.
O comitê terá autoridade para aprovar operações militares americanas; o uso de bases e instalações; a detenção de iraquianos por forças dos EUA e até mesmo "em casos raros, ao que tudo indica" o processamento judicial de militares americanos acusados de "delitos criminais graves e premeditados" cometidos fora de suas bases e do cumprimento de seus deveres militares.
"Permanecem no acordo pontos de interrogação relativos à liberdade de ação de soldados americanos, compromissos de segurança vagos e a proteção de bens iraquianos", escreveu Travis Sharp, analista de defesa do Conselho para um Mundo Vivível, grupo sem fins lucrativos, em comunicado após a votação do acordo pelo Parlamento iraquiano.
O Conselho se opõe à guerra há anos, mas foi revelador o fato de ter expressado apoio aos acordos. A razão disso é que o caráter impreciso de alguns dos termos e definições do acordo também proporciona ao presidente eleito Barack Obama flexibilidade razoável para cumprir sua promessa de campanha de pôr fim à guerra.
O fato de adversários da guerra se manifestarem a favor dos acordos constitui uma vitória para George W. Bush, embora não seja uma vitória inequívoca. Além disso, justifica a insistência de Obama em fixar um cronograma para a retirada, forçando americanos e iraquianos a contemplar um momento em que não haverá tropas estrangeiras ocupando o Iraque.
Comandantes americanos já começam a estudar como acelerar as retiradas de brigadas de combate dentro de um cronograma muito mais próximo do de Obama do que parecia possível um ano atrás. Ao mesmo tempo, os acordos deixam espaço para a manutenção de um contingente militar americano muito maior do que poderiam ter previsto os partidários de Obama, com dezenas de milhares de militares americanos permanecendo em solo iraquiano, pelo menos por enquanto, exercendo papéis de treinamento e outros serviços de apoio.
Brooke Anderson, porta-voz da equipe de transição de Obama, saudou a aprovação dos acordos pelo Iraque, dizendo que a equipe do presidente eleito "sente-se encorajada por ver avanços" na determinação das condições para uma presença americana após o término do mandato dado pelas Nações Unidas, ao final do ano. Qualquer retirada americana do Iraque certamente será acompanhada de afirmações mais fortes de soberania iraquiana e, portanto, de um período incerto de transição durante o qual o controle operacional real passará das forças americanas para as mãos do Iraque.
O artigo 9 do acordo sobre as forças de segurança, por exemplo, confere ao Iraque o controle de seu espaço aéreo, pela primeira vez desde que a guerra começou, mas diz também que o Iraque pode pedir "apoio temporário" dos EUA.
Ainda não se sabe quantos soldados americanos devem permanecer no Iraque entre agora e o prazo final da retirada e se alguns continuariam depois disso. O que está claro é que, a partir de 1° de janeiro, quando os acordos entrarão em vigor, as operações lideradas pelos EUA no Iraque serão conduzidas sob limites maiores.
Um comunicado da Rede Nacional de Segurança, grupo composto principalmente de democratas que fazem críticas agudas às políticas de Bush, disse que "o governo Bush vai deixar uma situação confusa, complicada e instável no Iraque". Mas vai deixar também uma saída aberta a Obama.


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