São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Rivalidades na Casa Branca

Ruth Fremson/The New York Times
Obama tem de lidar com a possibilidade de choques de egos dentro de sua própria equipe, além de desafios políticos de fora do governo

Por PETER BAKER
Washington

Em seus primeiros dias como secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton viu a questão do Oriente Médio ser entregue a um enviado especial. O Afeganistão e o Paquistão foram destinados a um representante específico. E fontes do governo dizem que em breve haverá um enviado especial para lidar com o Irã.
Com tanto poder já fatiado, Hillary deu um lance para tentar capturar a China, que nos últimos anos é basicamente uma responsabilidade do Departamento do Tesouro, pois as principais questões com Pequim costumam ser econômicas. Hillary disse que o governo precisava de uma "abordagem mais abrangente". Só que o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, não dá sinais de ceder.
A fase inicial de qualquer governo envolve uma certa disputa, enquanto os novos jogadores lutam para definir seu território e estabelecer as fronteiras com os colegas. Sob o governo de Barack Obama, isso pode se provar ainda mais complicado. Mais do que qualquer outro presidente americano dos últimos anos, ele chega ao cargo criando novos enviados especiais e "czares" da Casa Branca para supervisionar várias questões internas e externas, sobrepondo um conjunto adicional de atores a uma burocracia que já se pergunta quem está no comando.
Obama concluiu que era preciso figuras novas e com muito poder para forçar a mudança, mas elas representam um delicado desafio para um presidente sem experiência de gestão além da sua campanha presidencial.
"Acho que é realmente um modelo bastante viável", disse John Podesta, que, na posição de codiretor da transição de governo, ajudou a criar esse modelo. "Ele não subjuga os funcionários do gabinete", afirmou.
Podesta disse que, embora haja múltiplos jogadores em cada arena, o novo chefe-de-gabinete da Casa Branca, Rahm Emanuel, será um árbitro implacável. "Isso coloca sobre Rahm o ônus de disciplinar os esportes intramuros, mas ele é um chefe-de-gabinete forte, e não acho que isso será um problema."
Além de nomear enviados especiais para regiões críticas, Obama também criou um novo cargo na Casa Branca para supervisionar a saúde pública, outro para mudança climática e energia, outro para a política urbana e outro para a área de tecnologia. Criou também um novo grupo de consultores econômicos, paralelo aos dois conselhos econômicos que o presidente já tem a seu dispor. E ele pretende nomear um "czar" para supervisionar a recuperação econômica do setor automobilístico.
Muitos dos jogadores trazem para a mesa longas histórias entremeadas. Hillary, por exemplo, teria rebaixado Emanuel de posto quando este trabalhava para o governo de Bill Clinton (1993-2001), embora ambos tenham depois de aproximado. E quando Clinton cogitou fazer do ex-senador George Mitchell o seu secretário de Estado, Hillary teria favorecido Madeleine Albright. Hoje, Mitchell é o enviado especial de Obama para o Oriente Médio.
A arena econômica era onde havia maior potencial para uma sobrecarga de sobreposições, especialmente porque Obama nomeou Geithner como secretário do Tesouro, mas chamou Lawrence Summers, ele próprio ex-secretário do Tesouro, para dirigir o Conselho Econômico Nacional da Casa Branca.
Teoricamente, Geithner tem uma posição mais importante. Summers é oficialmente um funcionário encarregado de coordenar políticas de vários órgãos. Mas qualquer um que conheça Summers entende o papel desproporcional que ele irá desempenhar.
Muita gente que está desempacotando a mudança nos escritórios da Casa Branca e em vários departamentos de Washington já trabalhou junta, seja no governo Clinton, no Congresso ou no Centro para o Progresso Americano, entidade dirigida por John Podesta.
"Há coisas que ultrapassam os limites das agências e precisavam da coesão, direção e liderança de uma Casa Branca realmente poderosa", disse Podesta. "A estrutura construída o foi com a devida atenção ao fato de que poderia haver conflito. Mas a equipe que construímos foi montada com a ideia de que essas pessoas poderiam trabalhar juntas."


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