São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Quem está enganando quem?

Rod Blagojevich, o ex-governador de Illinois que caiu em desgraça, foi grampeado tentando "vender" caro a cadeira no Senado que era ocupada pelo presidente Obama. Mas recentemente ele se comparou a Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela.
Em um esquema fraudulento aparentemente sem fim, Bernard Madoff é acusado de ter enganado legiões de investidores, totalizando a cifra de US$ 50 bilhões. Mas, apesar da escala épica de sua fraude e da inevitabilidade de seu colapso, alguns especialistas especulam que talvez ele acreditasse ser invencível, como os psicopatas.
Essas pessoas "acreditam estar acima da lei e que não podem ser apanhadas", disse J. Reid Meloy, psicólogo forense, a Julie Creswell e Landon Thomas Jr., do "New York Times". "Mas o calcanhar-de-aquiles do psicopata é sua sensação de impunidade."
A autoilusão não se limita a escroques de fama internacional. Como notaram várias reportagens recentes, as chamadas pessoas comuns muitas vezes caem em truques mentais, seja ao se olhar no espelho, buscar um pouco mais de motivação ou evitar um golpe fatal para o ego.
Sempre nos convencemos de que podemos deixar para depois aquela tarefa ou adiar nosso programa de exercícios por mais uma hora ou um dia. Será?
Como relatou Alina Tugend no "New York Times", em algum momento a maioria das pessoas deixa suas obrigações para depois -o termo é "procrastinar". Mas aquelas que acreditam ter o melhor desempenho sob a pressão frenética do prazo final podem descobrir que a realidade objetiva não está do seu lado.
"Minha pesquisa mostrou que elas não se saem melhor", disse Joseph Ferrari, professor de psicologia na Universidade DePaul em Chicago, a Tugend. "Apenas pensam que sim."
Esses mesmos procrastinadores podem descobrir que estão se enganando se pensam que comprar mais um aparelho de ginástica é a maneira indolor de obter boa forma física, advertem cientistas do comportamento.
"Quando você compra essas máquinas, provavelmente pensa na facilidade em usá-las ou guardá-las em casa", disse Ravi Dhar, professor de marketing e psicologia na Universidade Yale, a Tara Parker-Pope, do "New York Times". "Você não pensa nos obstáculos, no que está deixando de lado, como o tempo com seus amigos ou na internet."
Esses cientistas comportamentais gostam de tirar nossas ilusões.
Por exemplo, um psicólogo explicou a Benedict Carey, do "New York Times", que muitas pessoas se autodepreciam, criando desculpas prontas para seu mau desempenho ou fracasso, antes mesmo de começarem a perseguir um objetivo. "Isso é verdadeira autossabotagem, como beber muito antes de uma prova ou faltar à ginástica", disse o psicólogo Edward R. Hirt, da Universidade de Indiana.
E como Sean McCrea, outro psicólogo da Universidade de Konstanz, na Alemanha, acrescentou: "A desvantagem lhes permite dizer: 'Levando tudo em conta, na verdade até que me saí bem'. E não têm motivação para melhorar".
Carey também escreveu sobre as pessoas com ilusões opostas: o chamado "fenômeno do impostor", em que as pessoas veem seu sucesso como imerecido, e aquelas que veem suas conquistas como maiores do que realmente são.
O "fenômeno do impostor" pode reduzir as expectativas e aliviar a pressão, disse Rory O'Brien McElwee, da Universidade Rowan em Nova Jersey, a Carey. Mas para os que aumentam suas realizações Carey escreveu que "a ilusão autoelogiosa provavelmente ajuda as pessoas a sair da cama e ir atrás de seus projetos preferidos".
O ex-governador Blagojevich sem dúvida estava se autoelogiando. No julgamento de impeachment, disse em sua própria defesa: "Eu fiz muitas coisas que estavam principalmente certas".

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