São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009

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Desintoxicação ganha adeptos e polêmicas

Por ABBY ELLIN

Randall e Katherine Hansen, da Flórida, adotam pelo menos uma vez por ano o ritual do "Fat Flush Plan", ou plano de eliminação de gorduras, "para limpar nossos corpos e ajudar a romper alguns maus hábitos", disse Randall, 48.
Divulgado pela nutricionista Ann Louise Gittleman num livro de 2001, o regime busca atuar sobretudo no fígado, que a autora acredita ter sua capacidade de metabolizar a gordura prejudicada pelas toxinas absorvidas oralmente ou pela pele. Seu plano inclui um cardápio diário de cerca de 1.200 calorias com baixo teor de carboidratos e alto teor de proteínas, sem álcool, cafeína, açúcar, grãos, pão, legumes com amido, laticínios, gorduras ou óleos (exceto o de linhaça).
Ela também recomenda um "coquetel longa vida" feito de suco diluído de oxicoco e sementes de linhaça moídas. Gittleman vende por US$ 112,50 um kit "Fat Flush" com ervas e nutrientes.
"Quando estou fazendo o regime, é horrível; me sinto muito privado de tudo", disse Hansen, que atribuiu ao programa a perda de mais de 30 quilos de peso. "Mas sempre me sinto melhor depois e acabo perdendo cerca de 4,5 quilos em duas semanas,além da desintoxicação."
Os Hansen estão entre as milhares de pessoas que fazem "desintoxicações" regulares para tentar livrar o sistema gastrointestinal de substâncias tóxicas que, segundo os proponentes do regime, se acumulam no organismo e podem provocar alergias, exaustão e certos tipos de câncer.
Mas muitos médicos ocidentais questionam a validade dos regimes e suas alegações de que promovem a saúde. Eles acham que a desintoxicação não faz muito bem e pode até ser prejudicial.
"A opinião da medicina e da fisiologia convencional e moderna é que essas alegações não apenas são ridículas, mas praticamente fraudulentas", disse o médico Peter Pressman, do Hospital Naval de Jacksonville, Flórida, crítico da desintoxicação. "O conteúdo do que é consumido durante a chamada desintoxicação é essencialmente feito de estimulantes, laxantes e diuréticos."
Opiniões como a dele não têm freado o interesse crescente pela prática. A desintoxicação é tremendamente popular, segundo a firma de consultoria e pesquisas de mercado Spins, de Schaumberg, Illinois, que trabalha para a indústria de produtos naturais e orgânicos. As vendas de fórmulas fitoterápicas de depuração, desintoxicação e fortalecimento de órgãos entre os varejistas de alimentos naturais passaram de US$ 27 milhões entre 2 de dezembro de 2007 e 29 de novembro de 2008.
Para o médico naturalista Edward Group 3?, de Houston, que trabalha no site Theholisticoption.com ("a opção holística"), que dá suporte à comunidade do bem-estar alternativo, "a medicina ocidental trata os sintomas, em lugar de tratar a causa original. Vivemos basicamente num mundo com prisão de ventre. É como se você trocasse o óleo do carro, mas nunca trocasse o filtro. Ele acaba acumulando tanta sujeira que o motor não pode deixar de quebrar".
O objetivo da desintoxicação é remover essa sujeira. A maioria dos regimes de desintoxicação -cujos benefícios já foram divulgados por celebridades como a cantora Beyoncé Knowles, que afirma ter perdido mais de nove quilos antes de atuar no filme "Dreamgirls" graças ao Master Cleanse, uma mistura de suco de limão, pimenta-de-caiena, xarope de bordo e água- envolve jejum, restrições a determinados alimentos, consumo de suplementos nutricionais, ou um misto desses três elementos.
A maioria dos regimes elimina a cafeína, o álcool e a nicotina; alguns restringem o consumo de carne e alimentos sólidos e pedem o consumo de sucos incomuns (por exemplo limão com pimenta-de-caiena), tudo isso num esforço para livrar o sistema gastrointestinal de pesticidas, dioxinas e aditivos alimentares _em outras palavras, praticamente qualquer coisa que você tenha comido, bebido, cheirado, inalado ou olhado que não fosse orgânico.
Como muitos médicos holistas acreditam que os intestinos devem ser irrigados até quatro vezes por dia, alguns regimes de desintoxicação recorrem a lavagens intestinais e laxantes. Outros empregam jejuns líquidos.
Enquanto cresce o número de produtos e tratamentos, os críticos continuam a enfatizar o que afirmam ser a ausência de evidências científicas de que a desintoxicação funciona de fato.
Nas palavras de Frank Lipman, especialista em medicina integrativa em Nova York: "As pessoas estão vendendo um produto. Há uma diferença entre vender um produto e praticar a boa medicina".


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